20 ANOS EM 1 DIA

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Quando eu tinha dez anos, lembro que no 1º dia de aula a professora pediu que cada aluno se levantasse, dissesse o nome e o time de coração. Como eu sentava na frente, na fileira do canto, fui o 1º a responder: São Paulo FC. A professora, corintiana fanática, respondeu: “São Paulo? Aí não tem graça, torcer para o São Paulo é fácil, não tem sofrimento”. Naquela época ela tinha razão, pois o São Paulo tinha acabado de sair de uma histórica Era Telê. Porém, eu não sabia que aquela frase se tornaria quase que uma maldição.

Como se não bastasse o time de 1995/96, a virada de século nos reservou um triste período de freguesia para o SCCP em jogos decisivos, goleadas impiedosas para Vasco e Portuguesa, além do quase rebaixamento no Brasileirão de 1998. Só 2 títulos estaduais e 1 RJ-SP pra amenizar. Enquanto eu chorava a perda da Copa do Brasil para o Cruzeiro, eu lembrava das palavras da minha professora: “não tem sofrimento”

Veio um novo período digno, especialmente de 2004 a 2009. O ano de 2012 acabou com G4, título da sul-americana, time encaixado e o maestro Ganso chegando, anunciando que em 2013 seria tudo nosso… mas não foi. O tempo passou e vieram Penapolense, Ponte Preta e Bragantino nos “matar” em própria casa, em vexames históricos.

Só que 2015, meus irmãos são-paulinos, não foi um ano para principiantes. Fomos testados do primeiro ao último mês. Humilhações para Santos, SEP e especialmente SCCP, derrotas dolorosas para Goiás e Ceará no Morumbi, quatro treinadores no mesmo ano, desmanche durante o campeonato brasileiro (contra o Inter tivemos 18 desfalques), falta de patrocínio, aumento da dívida, escândalo de comissões, UFC entre dirigentes, renúncia de presidente… foi tanta coisa que a aposentadoria do Rogério passou sem ser notada e devidamente homenageada.

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Admito, eu fraquejei, larguei mão de 2015 quando Doriva foi contratado. Não assisti mais do que 30 minutos em cada jogo sobre o comando dele, tamanho desânimo com 2015. Podem atirar as pedras.

Como sócio torcedor, eu tinha alguns pontos para trocar por prêmios no Clube de Vantagens. Minha intenção era presentear meu pai, meu dependente no plano, com alguma das experiências oferecidas, mas descobri que somente o titular poderia utilizá-los. Resolvi então utilizar esses pontos, participando do Match Day contra o Figueirense.

Foi um evento incrível. Nem tanto pelo evento em si, que eu achei bem desanimado, mas pelo que representou pra mim. Entrar no vestiário, me imaginar vestindo uma daquelas camisas, me preparando no túnel de acesso ao campo, subindo aquela escadaria e olhando as arquibancadas (vazias, o que dá a mesma sensação dos jogos – FOOOOOOONNNN). Quando fomos até o símbolo, não resisti e beijei aquele pedaço de concreto sujo pela poeira e chuva. Foram 15 anos na arquibancada sonhando em beijar aquele símbolo, um sonho realizado.

O tour continuou, vimos o camarote da presidência, o memorial, o Julio Casares, recepcionamos os jogadores na saída do ônibus, até chegarmos ao nosso camarote e ver o jogo.

O jogo começou animado, me emocionei ao ver Luis Fabiano marcando em sua despedida, comemorando no símbolo do clube como naquele Brasil x Uruguai de 2009. Depois, virou uma tortura. Futebol ruim, clima tenso, Figueirense virando o jogo… confesso que meu desânimo em 2015 era tanto, que nem reclamar ou apoiar eu conseguia, simplesmente assistia ao jogo.

Eram 41 minutos do segundo tempo, percebi as primeiras pessoas indo embora do camarote e pensei: “Que m… no máximo vai empatar esse jogo, mas pela preguiça dos jogadores, nem isso”. Eis que tudo mudou. O empate de Kardec animou a torcida, mas nem assim eu me empolguei. Lamentei demais o gol da virada perdido por Luis Fabiano, seria um fechamento mágico para sua trajetória no clube. Até que no último lance, Thiago Mendes explodiu o Morumbi de uma forma que eu nunca tinha presenciado, nem em finais. Eu saí correndo e pulando igual louco, cumprimentei e abracei pessoas que eu nunca tinha visto na vida, fiquei rouco até segunda-feira. O meu coração de 5 pontas, tão machucado em 2015, voltou a bater acelerado, mostrando que nunca vou conseguir diminuir a importância do clube em minha vida.

Após o fim do jogo, continuei sentado no camarote por uns 10 minutos, refletindo sobre os últimos 20 anos, desde quando me sinto são-paulino por escolha, não apenas por influência do meu pai. Pensei: “isso é bom demais”

Foi um dia incrível, realizando sonhos de infância e revivendo sentimentos esquecidos.

Foi um dia pra ver que não importa o quanto maltratem o clube, ele sempre será maior do que tudo e que todos.

Foi um dia para lembrar e rir da professora que disse que “torcer para o São Paulo é fácil, não tem sofrimento”

OBRIGADO, ROGÉRIO. Por tudo o que fez, pela vida dedicada, pelos títulos conquistados, pelos gols que me fez gritar, pelas defesas que me fez vibrar. Não foi o maior goleiro de nossa história, mas considero meu maior ídolo, ainda que eu não seja cego por ele. A aposentadoria vem com 3 anos de atraso, mas isso já não importa mais. Esqueça essa de ser treinador, se prepare para ser dirigente e volte no futuro pra presidir o clube. Nos vemos em sua despedida, estarei lá.

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OBRIGADO, LUIS FABIANO. Você é o cara. Não conquistou grandes títulos, tomou muitos cartões, mas escreveu seu nome na história do clube com seus gols. Além disso, o torcedor se identifica com seu jeito sofrido e brigador. Da mesma forma que o Rogério, acho que sua saída vem atrasada, em 2 anos, mas também não importa mais. Entre reclamar e lamentar, eu prefiro ajudar a lembrar de seus bons momentos. Que seja feliz em seu próximo passo. Pela última vez: LUIS FABIANO! LUIS FABIANO! LUIS FABIANO!

SEJA SÓCIO-TORCEDOR. Além de ajudar o clube, há as experiências únicas. O Match Day é só uma das experiências possíveis, há várias outras (meu próximo objetivo é jogar no Morumbi) e vale a pena. Dica: eu costumo comprar em parceiros que rendem 2 pontos pra cada real gasto, assim acelero minha pontuação. Vejam abaixo algumas fotos do facebook oficial do Sócio Torcedor sobre o Match Day contra o Figueirense.

Diego RC