Ronnie Mancuzo - Sub

 

Por que nunca o futebol?

A pergunta é feita diretamente para aqueles que se colocam como responsáveis pelo respectivo setor no clube mais vencedor do país.

É jogado de lado, é colocado pra escanteio, é deixado no esquecimento, é tratado como inexistente o futebol do Tricolor.

Pobre Lucão… surrado pelas incontáveis bocas que soltavam e ainda soltam toneladas raivosas. Ícone da atual inexistência de dedicação daqueles que se encontram nas posições de tomada de decisão. Órfão. Como são órfãos vários jogadores, experientes ou não, pratas da casa, promessas ainda não feitas, medalhões.

Órfãos porque o clube os contratou, os subiu de categoria, os colocou em campo constantemente, mas não os adotou. Não os fez, não os faz capazes de sentirem pelo clube o mínimo de respeito, ou gratidão. Não lubrificam as engrenagens, não fazem manutenção das peças com problemas.

Prova disso são as saídas do campo, no final das partidas perdidas, aos abraços e trocas cinicamente sorridentes de camisas junto aos adversários e rivais. Ou os pronunciamentos infelizes para os microfones venenosos. Ou os chiliques bestiais após um passe errado, um chute mal dado, um escanteio mal batido pelo companheiro de equipe.

Entre nós torcedores, uns raivosos xingam o martelo que lhes amassou os dedões dos pés na queda, ao invés de xingar o muito mais que incompetente ser que derrubou a ‘ferramenta’.

Muito mais que incompetente, porque há tempos ocupa um cargo de vital importância executando um serviço dos piores já vistos e ainda assim não se desliga, ou não é desligado da função. Aí, não é só incompetência, não. Tem um algo a mais que gera constantes lamentos do torcedor verdadeiro, que deseja profundamente ver em campo um time pelo menos honrado e digno (a tradução de ‘RAÇA!‘). Má fé, megalomania, desfaçatez e, sem exageros, maldade. Não é só incompetência, não. Não é só o sujeito direto, também. Aquele que não consegue enxergar motivos para a crescente onda de insatisfação tem parcela gritante de (ir)responsabilidade.

 

Bom, melhor dizendo, o futebol é lembrado, sim. Porque utilizam do futebol para crescimentos pessoais, particulares. Ora, nada melhor do que um time em frangalhos para uma ‘grande reformulação’, guarnecida de negociatas sem a mínima lógica técnica e tática, sem o mínimo resquício de planejamento a curto, médio, ou longo prazo para o surgimento dos resultados positivos em campo.

Em campo…

A visão primária de um time forte nasce numa gestão idônea, séria, interessada no sucesso da entidade em primeiríssimo lugar.

E o sucesso não se limita à conquista de títulos somente.

O Corinthians não é um time de sucesso. Pelo menos não na minha opinião. Afinal de contas, deixou de ser um time de futebol e passou a ser um produto. É uma imagem fabricada pelas incontáveis situações de repúdio na política, aliadas à mídia oportunista e seletivamente cega. É o resultado de uma parte triste da cultura brasileira de fins que justificam os meios. Levar vantagem, furar fila, estacionar em lugar proibido, servir coxão duro como se fosse picanha.

A princípio, eu menosprezaria o time do deputado petista. Porém, vejo constantemente elogios aos resultados alcançados pelo campeão do torneio nacional no ano mais vergonhoso da história do país em todos os aspectos.

Elogios sobre sua forma de atuar nos bastidores. Ainda que alimentada pelas proteções covardes por parte da maior emissora do país e via ‘inexplicáveis’ bênçãos governamentais únicas, singulares.

Se um dia o São Paulo também obter ‘sucesso’ por esses meios, esquecerei de vez o futebol. Porque, ainda que na formação de elenco e na sua manutenção e cuidado tivermos um trabalho excepcional, de fundo será impossível desconsiderar os privilégios imundos que proporcionaram tais circunstâncias.

Por isso, o São Paulo que desejo está longe, muito longe, a milhares de quilômetros de distância desse Corinthians tão badalado e idolatrado de agora.

São de total incoerência as infinidades de manifestações nas emissoras e nos meios de comunicação beatificando Tite, endeusando o deputado indiciado, glorificando o estádio que jamais será pago (honestamente), como se o futebol realmente fosse somente a alegria bestial de seres sem uma gota de senso crítico, ou ignorantes das mazelas escondidas embaixo do tapete.

Por isso, o São Paulo que desejo está a centenas de milhares de quilômetros de distância desse time/produto aí.

O São Paulo não virou Corinthians. O Corinthians não virou São Paulo.

Não tenho na memória momento algum em que tivemos tantas regalias imundas e tantos tratamentos tão vergonhosamente diferenciados.

Sem contar que, mesmo receptor de tantos e tantos benefícios e blindagens e propagandas, suas contas estão idênticas, ou piores que às dos demais clubes brasileiros… que belo exemplo de sucesso…

Por mais que estejamos ‘na lama’ ao vermos uma série de situações podres proporcionadas por seres de igual podridão sugando o sangue do nosso Tricolor, pra tudo há limites.

 

E porque podemos enxergar algo de bom?

Porque não nos fazemos de cegos (em nossa grande maioria). Estamos fortalecendo essa visão crítica indispensável para as mudanças que realmente farão do São Paulo o clube que desejamos ter de volta. Que a grande maioria de nós deseja ter de volta.

A gestão precisa parar de alimentar com veneno a vaca que a todos traz alimento. A maldade é tanta que se confunde com burrice. E nós da torcida já estamos cientes, em boa parte, de quais são os nomes daqueles que são mais parceiros dos fabricantes de veneno do que servidores do clube.

Já com relação às atitudes ‘exemplares’ de outros que mais imundos são, nosso total repúdio, por favor.

Longe de sermos seres absoltos da pureza divina. Possuímos falhas, pessoais, como instituição, como torcida.

Mas não podemos abrir mão da dignidade somente para podermos num final de campeonato repleto de equívocos seletivos na arbitragem gritar ‘É Campeão!’.

 

Ronnie Mancuzo – Sub