Sergio Bernardino nasceu no bairro da Casa Verde, na cidade de São Paulo em 23 de dezembro de 1953. Filho do meio do casal Otávio Bernardino e Laura. Juntamente com os irmãos Zé Carlos e Sônia, Serginho começou a trabalhar cedo para ajudar com as despesas de casa. Inicialmente como entregador de leite, posteriormente, ajudando a mãe em uma confecção.

Palmeirense durante a infância, o menino adorava bater uma bola, e chegou a atuar em várias equipes de várzea da zona norte paulistana. Negro, magro e alto, só chutava com o pé esquerdo, por conta disso passou a ser conhecido como Esquerdinha.

Após ter dois de seus amigos inseparáveis mortos em confronto com a polícia, passou a enxergar o futebol como uma forma de seguir outro caminho. Ainda assim, após ser reprovado em testes no Palmeiras e Portuguesa, resolveu que iria trabalhar na Telesp, atual Telefonica. Poucos dias antes, no entanto, ainda com 16 anos, juntamente com um amigo, Mauro Madureira, resolveu fazer uma peneira no São Paulo, no bairro do Bom Retiro. Naquele dia, chamou a atenção do treinador da categoria de base tricolor e ex-goleiro, José Poy. Foi convidado a treinar no clube.

Seu começo no São Paulo não foi fácil. Sob o comando do técnico Telê Santana chegou a realizar algumas partidas na equipe profissional. Sua estreia aconteceu em 6 de junho de 1973, como Sergio II, por conta do goleiro tricolor se chamar Sergio, na verdade, Sergio Valentim, no empate sem gols frente ao Bahia, em partida amistosa realizada em Salvador. Jogando como ponta, não convencia e por mais que tenha feito um gol, no empate frente ao Corinthians por 1 a 1, logo em sua segunda partida, em 10 de junho, acabou sendo emprestado para o Marilia.

Na “capital brasileira do alimento”, jogou pouco, mas foi lá que aconteceu um fato que chegou a ter influencia em sua carreira, a gravidez de uma namorada. Ameaçado de morte pelo pai da moça, um delegado de polícia, o jeito foi voltar ao Tricolor e desde então evitar, ao máximo, voltar para Marília, nem que para isso fosse necessário simular contusões ou provocar expulsões. Certa vez ao notar que Serginho estava reclamando demais de suas marcações, o arbitro Dulcídio Wanderley Boschilia, logo se ligou que o atacante estava tentando forçar sua exclusão da próxima partida do São Paulo. Dulcídio o chamou de lado e falou: “….negão, você pode até matar alguém aqui hoje, que eu não te expulso.” Preocupado, restou a Serginho simular uma contusão no finalzinho da partida.

De volta ao São Paulo em 1974, desta vez tendo Poy, seu descobridor, como técnico, logo em sua segunda partida após o retorno, marcou três gols, na goleada frente ao Rio Negro por 4 a 2, no dia 13 de março, em partida válida pelo campeonato brasileiro. Serginho foi bem naquela competição, marcando 9 gols em 11 partidas disputadas, ainda assim era reserva de outra grande atacante, Mirandinha. Em 24 de novembro daquele ano, no entanto, uma tragédia mudaria esta realidade. Em partida frente ao América de São José do Rio Preto, válida pelo campeonato paulista, após uma dividida com o zagueiro Baldini, Mirandinha fraturou a tíbia e o perônio de sua perna esquerda. A partida estava 1 a 0 para o tricolor, quando Serginho entrou no seu lugar e marcou mais dois gols da vitória por 3 a 0. Não saiu mais do time

Passou a marcar gol de todo jeito, sobretudo por conta de uma rara habilidade, seu ponto forte, de jogar junto aos seus marcadores e usar o seu corpo para levar a melhor. Logo deixou o Sérgio II de lado e virou, definitivamente, Serginho. Pouco tempo depois, por conta do tamanho dos pés grandes, calçava 45, ganhou do atacante Terto, o apelido de Chulapa. Campeão paulista de 1975 e artilheiro da competição com 22 gols, Serginho passou a ser a grande referência da equipe tricolor, responsável pela maioria dos gols da equipe, o que acabou lhe rendendo o titulo de maior artilheiro da história do São Paulo, com 239 gols em 396 partidas oficiais.

Novamente artilheiro do campeonato paulista em 1977, com 32 gols, era considerado, juntamente com Reinaldo, do Atlético Mineiro, um dos principais centroavantes do campeonato brasileiro de 1977. Até que em 12 de fevereiro de 1978 em partida frente ao Botafogo de Ribeirão, após ter um gol anulado, o que seria o de empate, aos 45 minutos do segundo tempo, partiu para cima do bandeirinha, Vandevaldo Rangel, o agredindo com um chute na canela. Expulso, acabou sendo punido com uma suspensão de 14 meses, da qual cumpriu 11 deles, a maior de um jogador na história do futebol brasileiro. O período fora dos campos acabou impedindo a sua convocação para a Copa do Mundo de 1978, segundo jornalistas da época por orientação do dirigente da CBD, atual CBF, o vascaíno Almirante Heleno Nunes, que queria Roberto Dinamite no selecionado. O fato é que Serginho vivia a sua melhor fase naquele ano. Suspenso, ficou ausente da partida final contra o invicto Atlético no Mineirão. Ainda assim, a pedido de dirigentes do tricolor, atendeu o chamado do amigo Muricy e chegou ao estádio mineiro de helicóptero momentos antes do inicio da partida. Aqueceu com os colegas e passou a nítida impressão que entraria em campo, passando aos mineiros certa preocupação que acabou contribuindo com a tarde pouco inspirada daquela que era considerada a melhor equipe da competição, mas que acabou sem o titulo, que ficou com o São Paulo.

Voltou aos campos apenas em janeiro de 1979 para a disputa do campeonato paulista de 1978. Poucos meses depois, em 17 de junho daquele ano, coube a ele marcar um espetacular gol de cabeça, aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação frente ao Palmeiras, na vitória tricolor por 1 a 0 e que valeu a vaga para a final do Paulistão, que acabou sendo conquistado pelo Santos. A vingança, no entanto, viria no ano seguinte, quando Serginho marcou os dois gols das duas vitorias do tricolor por 1 a 0 nas partidas finais, em 16 e 19 de novembro, válidas pelo campeonato paulista de 1980, frente ao mesmo Alvinegro Praiano. No ano seguinte, em 1981, mais um titulo paulista, desta vez após vitória por 2 a 0 frente a Ponte Preta, em 29 de novembro, com direito a um gol após dar um chapéu no goleiro Carlos.

Ainda naquele ano, poucos meses antes, voltou a se envolver em confusão. Sofrendo com hemorroidas, por orientação dos médicos do São Paulo, quando em crise, passou a utilizar absorvente intimo. Em 3 de maio de 1981, na final do campeonato brasileiro frente ao Grêmio, no estádio do Morumbi, o goleiro do tricolor gaúcho, Leão, ficou sabendo e passou a provocá-lo. Perdendo por 1 a 0 e vendo a conquista nacional escapando, aos 43 minutos do segundo tempo, Serginho não perdeu a oportunidade de dar um violento encontrão no goleiro e posteriormente dar um leve chute em seu rosto. Expulso, embora em grande fase, novamente passou a ser questionado quanto a eventual convocação para a Copa do Mundo de 1982. Do seu lado havia o fato do técnico da seleção brasileira ser Telê Santana, que houvera o lançado no tricolor em 1973. O Mestre Telê acabou o convencendo a mudar seu comportamento, era isso ou perderia mais uma Copa. Sob controle, Chulapa, foi apenas, Serginho, uma sombra do artilheiro do campeonato brasileiro daquele ano, com 20 gols, e teve uma atuação apagada na Copa do Mundo de 1982. Seus números com a camisa canarinho se resumiram a 22 partidas, desde sua estreia em 12 de outubro de 1977, na vitória por 3 a 0 frente ao Milan, até a fatídica derrota para a Seleção Italiana, por 3 a 2, em 5 de julho de 1982, e 10 gols marcados.

Após ser vice-campeão paulista pelo São Paulo em 1982, foi contratado pelo Santos que buscava montar uma equipe competitiva para o campeonato brasileiro de 1983, condição imposta pelo presidente da CBF, Giulite Coutinho, para resgatar a equipe, “bionicamente”, da disputa da Taça de Prata, segunda divisão da competição, presente extensível ao Vasco da Gama, por conta da fraca campanha no campeonato estadual cuja classificação servia de critério para a disputa da competição nacional. No alvinegro da Vila Belmiro teve um grande ano de 1983, sendo vice-campeão brasileiro, e artilheiro da competição com 22 gols, assim como do campeonato paulista, com o mesmo número de gols. As confusões, no entanto, também continuaram. Em 31 de julho daquele ano, no clássico, que acabou empatado sem gols, frente ao Corinthians, após entrar em campo com fraque e cartola, acabou trocando socos e pontapés com o amigo Mauro, zagueiro adversário. Já no ano seguinte, novamente frente ao Corinthians, foi dele o gol da vitória por 1 a 0, em 2 de dezembro de 1984, e que acabou dando fim ao incomodo tabu de 6 anos sem títulos do Santos. Além de campeão paulista, também foi o artilheiro da competição, com 16 gols.

Poucos dias depois, já em 1985, se apresentou justamente no adversário da final, como reforço de uma equipe repleta de grandes nomes, como Carlos, De Leon, Dunga, Arturzinho e Casagrande que retornava de um empréstimo ao São Paulo. Aquele time passou a ser conhecida, no papel, e apenas nele, como a Seleção Corintiana. Ao que parece, a presença de muitas estrelas não ajudou a criar um bom clima entre os atletas, a campanha da equipe foi pífia e a trajetória de Serginho no Corinthians durou apenas 11 meses, período em que atuou 38 vezes e marcou 14 gols.

Voltou ao Santos em 1986, onde, após disputar um bom campeonato paulista, passou quase todo o segundo semestre sem jogar. Contusões crônicas impediam que permanecesse na ativa, ainda assim no começo de 1987 foi contratado pela equipe portuguesa do Marítimo, onde atuou apenas em 5 partidas e marcou 4 gols. Em 1988, retornou ao Santos, onde ficou até 1990, após uma curta passagem na equipe turca do Malatyaspor. Vestiu a camisa do Santos em 165 jogos, marcando 104 gols, sendo o terceiro maior artilheiro da história do Santos, após a era Pelé, atrás apenas de Neymar e Robinho. Saiu do Santos para atuar em 1991 na equipe vizinha, a Briosa, Portuguesa Santista e logo a seguir no São Caetano, onde marcou, de pênalti, o gol do empate em 2 a 2 frente ao Taquaritinga, em 13 de dezembro de 1992, que garantiu o vice-campeão da divisão intermediária do campeonato paulista daquele ano e o acesso da equipe do ABC paulista para a divisão principal do ano seguinte. Encerrou a carreira em 1993 no Atlético Sorocaba aos 39 anos de idade.

Serginho foi um goleador com faro de gol, uma garantia ao torcedor que certamente o placar não acabaria em branco, um irreverente, folclórico e destemperado jogador, um retrato fiel do verdadeiro boleiro, para quem o que importa, sempre, é “bola na rede” e a palavra “perder” não faz parte do vocabulário.

José Renato