FILOSOFIA E PROPOSTA DE DORIVA, SEGUNDO ELE PRÓPRIO

Doriva chegou ao São Paulo no dia 08/10/2015, falando grosso:

“Eu gosto de repetição, de ter uma equipe base e repeti-la. Logicamente que em alguns momentos temos que trocar algum jogador por causa da sequência e da oscilação – e a gente tem um centro científico muito bom para nos monitorar e nos passar as informações. Mas penso que com a repetição das formações é que vem o entrosamento”

“A gente tem que trabalhar diretamente com os atletas, mas não tenho muito o habito de fazer improvisações. As vezes, as circunstancias te obrigam a improvisar e a gente vai avaliar isso bem. O Osorio tinha as convicções dele por estar trabalhando com os atletas. Mas, de antemão: não é uma linha que utilizo”

“Gosto de uma equipe que seja competitiva, comprometida. O futebol moderno exige isso. No treinamento a gente usa as variantes que a gente vai usar no jogo. Normalmente utilizo 4-2-3-1, variando para o 4-1-4-1. Dificilmente uso três volantes, mas as vezes o jogo te obriga a isso. Gosto muito de trabalhar um treinamento não tão longo, mas intenso”

Confesso que me impressionei com sua convicção e coragem em mudar a filosofia que era implementada.

Mesmo que sua filosofia era muito mais baseada na antítese da filosofia de Osorio, ou seja, sem rodízios, sem 3-4-3 /4-3-3, sem improvisações.  Ou seja, o famoso “No futebol não tem que inventar, é feijão com arroz”!

Talvez, sua convicção foi movida pela humildade (no sentido de não querer fazer o que não sabe), de fazer aquilo que sabia, o que seria elogiável.

ANÁLISE RACIONAL

Depois de 21 dias de trabalho, 5 jogos disputados, é possível fazer uma avaliação racional de seu trabalho, e constatar que ele ainda tem muito para evoluir como técnico de futebol. Não é necessário já criar rótulos, pois ele é ainda muito jovem (como treinador).

Temos que entender que Doriva, jamais pegou um time em ascensão!  Seus trabalhos foram feitos até agora, em times em formação como Ituano, Atlético-PR e Vasco, ou times que estavam mal (Ponte Preta).  Aí realmente, ele tem que começar tudo do zero, e o melhor é não inventar.

Talvez, ele pudesse fazer como seu sucessor na Ponte Preta, mantendo a filosofia de trabalho (afinal o time vinha de vitória contra o Santos, 3 x 1 (C), Goiás (F), Fluminense 3 x 1 (C), Atlético-PR 2 x 1 (F), Corinthians 2 x 2 (C)), e com isso ganhou do Palmeiras fora de casa, goleou o Coritiba dentro de casa, e fez um jogo duríssimo contra o Atlético-MG fora de casa.

O São Paulo não trocou de técnico porque o time estava indo mal, ou porque corria o risco de ser rebaixado.  Trocou, porque o técnico teve proposta para sair.  Estavamos na semi-final da Copa do Brasil, e brigando pelo G-4!

Um time que variava de 3-4-3/4-3-3 com AMPLITUDE E PROFUNDIDADE (propositalmente), para ser o antídoto da compactação (Para entender melhor, releia o texto que escrevi no dia 07/08/2015:  https://saopaulo.blog/2015/08/07/osorio-e-4-3-3-ou-3-4-3-e-nao-4-2-3-1-e-3-5-2-amplitude-e-profundidade-e-a-diferenca/ ), foi colocado em uma entrevista de Doriva como um defeito, quando ele diz que o time era descompactado.

Isso era uma característica treinada e trabalhada e não um defeito!

(vale a pena relembrar de como funciona o 4-2-3-1/4-1-4-1, com marcação individual, onde o time ataca no 4-2-3-1 e defende no 4-1-4-1: https://saopaulo.blog/2015/10/09/seja-bem-vindo-doriva-e-seu-4-2-3-14-1-4-1/ )

PREMISSAS, PROPOSTAS E FILOSOFIA PROMETIDA VS PRÁTICA

Quem acompanha meus posts, sabe que antes de tudo, prefiro entender a convicção e a proposta do treinador, através de entrevistas e declarações, com o objetivo de alinhar minhas expectativas de acordo com essa proposta.  Afinal, como sempre digo, é sempre importante analisar as razões e não culpados e heróis depois dos jogos.

PREMISSAS

  1. “Eu gosto de repetição, de ter uma equipe base e repeti-la.”
  2. “A gente tem que trabalhar diretamente com os atletas, mas não tenho muito o habito de fazer improvisações.”
  3. “Gosto de uma equipe que seja competitiva, comprometida. O futebol moderno exige isso.
  4.  “Normalmente utilizo 4-2-3-1, variando para o 4-1-4-1”
  5. “No treinamento a gente usa as variantes que a gente vai usar no jogo.”

PRÁTICA

Depois de 1 semana e meia de trabalho, Doriva definiu um time para jogar no 4-2-3-1/4-1-4-1:

4-2-3-1 com Rogerio Ceni; Bruno, Rodrigo Caio e Matheus Reis; Hudson e Thiago Mendes; Rogerio, Ganso e Pato; Luis Fabiano

4-1-4-1 com Rogerio Ceni; Bruno, Rodrigo Caio e Matheus Reis; Hudson; Rogerio, Thiago Mendes, Ganso e Pato; Luis Fabiano.

Era o mesmo time que enfrentou o Atlético-PR, 2 semanas antes, com Luis Fabiano no lugar de Centurion.

A diferença estava exatamente na filosofia de jogo e no posicionamento.  O time que tinha AMPLITUDE E PROFUNDIDADE, passou a jogar COMPACTO, e com Pato, Rogério, Ganso e Luis Fabiano, voltando para marcar atrás da linha da bola.  Com Osorio, eles tentavam primeiramente marcar a saída de bola, induzindo o time adversário a dar “Chutão”.

Desta forma, ele criou sua equipe base (#1), sem improvisações (#2), competitiva, comprometida (marcando atrás da linha da bola) (#3) e no esquema 4-2-3-1/4-1-4-1 (#4).

Mas, isso durou apenas 45 minutos, quando ele tirou o volante de proteção à zaga (no 4-1-4-1), para escalar um volante/meia.  Sinceramente, não sei a diferença de improvisar um zagueiro de primeiro volante, ou meia volante de primeiro volante (Wesley).  Afinal terminamos o jogo com Wesley, Daniel e Ganso no meio!

Depois desse jogo, com 1 dia a meio para treinar, com apenas uma alteração, ele mudou 3 posições, descartando duas premissas (#1, #5):

  1. Lucão zagueiro pela esquerda, que tinha tendo sequencia e ganhando entrosamento com M. Reis, foi para direita
  2. Rodrigo Caio, que era o zagueiro pela direita, foi jogar de volante
  3. Luiz Eduardo, que ficou muito tempo machucado, e foi contratado para jogar com 3 zagueiros (e que foi bem) foi para esquerda

E foi por ali, que o Vasco criou suas principais oportunidades, e que culminaram na expulsão de Matheus Reis (ok, não foi penalti, mas ele já tinha amarelo, e o Vasco já tinha criado 2 ou 3 chances de perigo).

Contra o Santos, preferimos utilizar a formação que foi treinada por 1 dia e meio, testado em 45 minutos do jogo contra o Vasco.

Os 3 gols do Santos saíram por ali (o segundo gol de escanteio, foi originado de um chute de M. Gabriel por ali).

Mas, o que mais me chamou a atenção foi depois de estarmos perdendo de 3 x 1 contra o Santos.

Doriva deixou de lado o #1, #2, #3, #4 e #5, tirando Luiz Eduardo e colocando Centurion, e Michel Bastos colocando Kardec.

Ou seja, parece que sua filosofia, proposta e premissas, só servem quando o time sai ganhando ou empatando no primeiro tempo.

O 4-2-3-1/4-1-4-1 da maneira que ele quer, não serve para marcar mais que um gol.

A escalação contra o Santos no segundo jogo, foi a prova disso!  Tudo foi deixado de lado, por necessidade e desespero!

Ele não improvisou jogadores, improvisou um sistema de jogo, uma formação tática, toda descompactada (mas sem amplitude e profundidade).

Para finalizar, Doriva pode evoluir muito se aprender a ter coragem por convicção e não por necessidade e desespero.

Ernani Takahashi