Neste domingo, num grupo restrito no WhatsApp com amigos são-paulinos – daqueles que são torcedores, mas não se dedicam como nós a essas discussões diárias sobre o SPFC -, um desses amigos mandou mensagem perguntando sobre preços dos ingressos para o jogo contra o Vasco. Ele queria o mais barato para levar a esposa o seu filho de 6 anos. Indiquei a “Amarela”: R$ 20,00.

Um outro componente sentenciou: “Tá gastando dinheiro à toa”. E emendou: “Seu filho vai desistir de torcer pro SP”. Fato é que meu amigo foi ao estádio, não sem antes eu fazer a observação de que ele deveria relaxar, levar a patroa e o filhote ao Morumba, pois ninguém ali no grupo pagaria os ingressos dele, além de ser a estreia do novo uniforme, últimos momentos do Rogério Ceni etc.
Outro fato é que, com briga por G4, em disputa de semi-final de outro torneio, fim de carreira de um dos maiores jogadores da história do clube, estreia de um terceiro uniforme histórico, pouco mais de 18,5 mil pessoas estiveram no Morumbi na tarde de hoje. Pouco. Muito pouco. Broxante.
À parte a atuação ruim do time, será que os caras que tocam e fazem (des)acontecer o dia a dia do SPFC pararam pra refletir o quanto essa zona completa do clube afastou o são-paulino do Morumbi? Ainda existem aqueles que vão com frequência ao Cícero Pompeu de Toledo, como o nosso Surdão, há também a parcela que consome pay-per-view e artigos diversos, aqueles que marcam presença esporádica nos jogos do Tricolor e por fim os sócios-torcedores, dos mais fanáticos até aos que simplesmente gostariam de manter um laço com o clube do coração.
Mas começam a surgir indícios de afastamento do clube pelos mais variados perfis de torcedores nos modos como se relacionam com o clube. Nesse mesmo grupo do WhatsApp, um dos são-paulinos – por mais de uma vez, sendo a última delas na quinta-feira após a derrota para o Fluminense – recomendou a todos que lá estão: parem de comprar tudo o que for do SPFC!
Podem mirar todas as baterias à torcida são-paulina e criticá-la, chamar o torcedor do SPFC de chato e tudo o mais. Discordarei completamente! No Brasil, tenho a teoria de que somos todos iguais nessa variação de perfis, comportamento e relacionamento com o clube: são-paulinos, corintianos, palmeirenses, flamenguistas, vascaínos… Nossa cultura é diferente da inglesa e da alemã, que simplesmente seguem seus clubes, independente de divisão, posição na tabela. Porque lhes faz bem estar no estádio de seus times semanalmente.
E também porque, na Inglaterra e Alemanha, seja disputando a fulga da zona de rebaixamento, o título ou divisões inferiores, há um padrão de organização. Com falhas aqui e ali, movimentos do tipo “Against The Modern Football” (no Manchester United, que acabo seguindo por vezes, por exemplo, há clamor geral contra a gestão dos irmãos Glazer), mas há organização. Não há como desgarrar-se do clube de coração nesse contexto!
Voltando ao SPFC e sua torcida, como criticá-la por essa distância, sabendo que todos os torcedores de outros clubes seguem a mesma onda? Tivemos uma ENORME chance de sermos de fato diferenciados naquelas vitoriosas campanhas, mas tudo não passou de uma fase, porque aqueles que comandam o clube entenderem haver uma superestrutura que andava sozinha, “soberana”. E até entenderem que sem eles o clube não andaria, entenderam. E assim manobraram para a permanência com o já conhecido e amaldiçoado golpe.
O Morumbi hoje já não é nada moderno. Os estádios dos rivais são, e funcionam como um “fato novo” para atrativo de suas massas. No caso do Corinthians, ainda mantém-se na disputa de títulos, com seu olho míope e o outro cego, mas está lá.
O caos político e financeiro do SPFC é outra realidade a ser enfrentada. E cada vez menos esperança se vê ao ver essa especulação em torno de recontratação de ex-CEO e ex-gerente de Futebol e manutenção ou demissão dos atuais CEO e gerente de futebol. A que cu$to? Pouco importa…
Com tudo isso, e refletindo na performance em torneios e em campo, como enfrentar ferozmente o “tá gastando dinheiro à toa” e o “parem de comprar tudo o que for do SPFC!” que forem clamados por são-paulinos Brasil afora?
PELAMORDEDEUS! SERÁ QUE ESSES CONSELHEIROS – UM DELES QUE SEJA – NÃO PARARAM PARA PENSAR NO QUANTO ELES ESTÃO AFASTANDO O SÃO-PAULINO?!?!?
Hoje, há regras mais rígidas, sobretudo com o ProFut que o Emerson sempre faz observações a respeito. As consequências podem ser tremendas! Os tempos são absurdamente diferentes do que 1, 2, o que dizer 3 ou mais anos atrás.
Não sonego o amor que eu tenho pelo SPFC. Ele é verdadeiro e incondicional e me impede, enquanto eu tiver condições, de assinar um pay-per-view, comprar camisas, outros produtos, ir aos jogos e até considerar por vezes nova assinatura do plano sócio-torcedor mesmo no contexto atual.
Entretanto, este sou eu, que poderia ser muitos de vocês que leram esse texto e chegaram até essas linhas. Só que o são-paulino não sou eu ou somos nós. Não é de primeira ou segunda classe. O são-paulino é são-paulino.
E do jeito que está o SPFC, o são-paulino continuará sendo são-paulino, porém cada vez mais distante do SPFC. E com viés de diminuição dessa massa tricolor, porque como dizia aquele slogan da transportadora: “O mundo gira, e a Lusitana roda”. Então, repito e aumento o tom de meu desabafo:
PELAMORDEDEUS! SERÁ QUE ESSES CONSELHEIROS – UM DELES QUE SEJA – NÃO PARARAM PARA PENSAR NO QUANTO ELES ESTÃO AFASTANDO O SÃO-PAULINO?!?!?
Por: Rafael Bueno