Para quem não lembra, Muricy apesar de ter vivido o momento de Telê e o auge do início da década de 90 com o Expressinho, girou por muitos times até ser o “campeão estadual do Brasil” e chegar ao São Paulo em 2006. Depois de ser campeão pernambucano com o Náutico, paulista com o São Caetano e gaúcho com o Inter, Muricy chegava para comandar o São Paulo de 2006 após uma sequência de estaduais conquistados e por sua identificação com o Tricolor. Claro que pesou o vice de 2005 em que surrupiaram o título do Inter para dar ao Corinthians mas sua maior marca eram as taças estaduais.

Impossível não fazer uma comparação mesmo que sutil dele com Muricy. Se os dois são separados por duas décadas em tempo, em momentos já que vivemos a pior crise da história e antes Muricy chegava com o SPFC campeão Tri Mundial, os dois também diferem-se em estilos. Se levarmos isto à Osorio então, fica ainda mais distante.

Doriva é calmo, tem fala mansa, busca sempre a boa conversa e o equilíbrio com os jogadores. Busca parceria. Ceni por exemplo,  aprovou o nome de Doriva e o goleiro será crucial neste momento conturbado e na motivação destes 9 jogos de Brasileiro e 4 de Copa do Brasil (se chegarmos à final). O detalhe de Doriva é que ele jogará o feijão com arroz e não inventará nada do outro mundo porém, não significa que seus times joguem um futebol sem aplicação tática e sem desenho e padrão de jogo bem definido.

Tá mas e o papo de comparação com Muricy? O que tem a ver se ele parece tão diferente no resto todo além da identificação, ser ex jogador e coincidência de títulos? Simples: Tal qual o Muricy vencedor do Tri Brasileiro, Doriva tem na bola parada, sistema de marcação e rotação, seus principais trunfos. Sua estatística de bola parada é de 62% a 38% com bola rolando. Isto lembra algo?

Achei pertinente colar a visão de Léo  Miranda, Painel Tático, que é especialista em táticas para que cada um tenha suas conclusões sobre o Ituano campeão de 2014 e o Vasco campeão de 2015. Entenda:

ITUANO CAMPEÃO PAULISTA DE 2014

“Em 1986, uma torcida do Palmeiras que não via títulos há 10 anos comemorava efusivamente a final do Campeonato Paulista. Mas nem os mais otimistas imaginariam que o time do técnico Carbone seria surpreendido pela Inter de Limeira, calando o Morumbi e coroando José Macia, o Pepe, que aceitou o desafio após ser campeão brasileiro no São Paulo.

28 anos depois, a história se repete. Melhor do que o Santos nos 180 minutos da final, o Ituano leva com méritos o Paulistão competitivo e com favoritos longe do interior paulista.

Ao contrário do que se falou, o Ituano não bateu no primeiro tempo: foram 11 faltas do time do interior contra 14 do Santos, que não conseguiu impor o jogo de velocidade que o trouxe para a final.

Muito porque Doriva manteve o 4-2-3-1 do Ituano marcando como o “manual” do futebol moderno manda: na saída de bola adversária, o quarteto ofensivo pressiona o jogador que tem a bola dominada. No próprio campo, Esquerdinha e Paulinho voltavam para formar duas linhas de 4, com Christian e Rafael na intermediária.

Tudo para travar o 4-2-3-1 do Santos. Geuvânio e Thiago Ribeiro, responsáveis pelos dribles pelo lado, até tiveram o apoio dos laterais e Cícero entrou na área como “elemento surpresa”, mas o time procurou Damião: natural que, com um jogador mais fixo, o cruzamento fosse mais explorado.

Só que dos 10 tentados nos 45 iniciais, apenas 3 foram certos. Mesma coisa das ligações diretas: das 30 tentativas, 12 surtiram efeito. Erros provocados pela forte marcação do Ituano, que deixavam o jogador santista sem alternativa a não ser explorar a bola pelo alto. E também pelo natural nervosismo de uma final.

Oswaldo de Oliveira viu e subiu Cicinho e Mena ao mesmo tempo, para permitir que Geuvânio e Thiago Ribeiro pudessem fazer o jogo pelas laterais. E como ressaltou na coletiva pós-jogo, liberou Cícero para ir na área. Numa jogada assim, o pênalti que aconteceu, mas em posição de impedimento que dessa vez não foi desperdiçado

No segundo tempo, a pressão santista continuou , com Arouca um pouco mais aberto pela direita, ajudando Cicinho por aquele lado. Mas o time continuava achando dificuldades para levar a bola a Cícero, e na dúvida, os zagueiros davam um lançamento para Damião: foram 55 ao todo, apenas 22 certos.

Quando tentava sair pelo chão, o Ituano conseguia roubar a bola e sair com rapidez. Sim: ficar atrás da linha da bola, marcar pressão e sair com velocidade é a tônica do futebol moderno, assim como faz o Atlético de Madri, cultuado lá fora, mas que por aqui seria chamado de retranca.

O frame mostra bem: são 4 jogadores do ltuano (Caucaia participava ativamente do trabalho ofensivo, quase um 4-1-4-1) correndo em direção ao gol e explorando as costas de Arouca e Alisson, ambos voltando. A linha defensiva do Santos está montada, mas em inferioridade numérica.

Doriva tirou os mais cansados e manteve o 4-2-3-1. Já Oswaldo de Oliveira, com a entrada de Alan Santos e a saída de Damião, redesenhou o Santos com um losango no meio, mas com Cícero bem avançado, Gabriel e Rildo procurando trabalhar nas costas dos laterais e Mena e Cicinho indo na linha de fundo. O Ituano, que se recolheu, mas continuou perigoso no contragolpe, não deixou o Santos finalizar.

Nas penalidades, a noite inesquecível do goleiro Vágner premiou a atuação essencialmente coletiva de um time que marca e ataca junto, usa sim do chutão e tem a disciplina tática tão cobrada por Doriva como destaque. Time “moderno” e que mostra: mesmo com as críticas ao futebol brasileiro, nenhum campeonato consegue ser tão competitivo como o Paulista, onde grandes são surpreendidos, pequenos chegam na final e o Ituano, assim como em 86, prova que é possível vencer.”

VASCO CAMPEÃO CARIOCA DE 2015

Impossível não associar o fim do jejum de 12 anos em Estaduais com o lema “o respeito voltou”. Eurico voltou para isso mesmo: vencer. A aliança com a FERJ é questionável, as notas pessoais lamentáveis e as rivalidades desnecessárias. Será que os fins justificam os meios?

Deixando a política de lá, o nome do título é mesmo Doriva. Escolhido após a recusa de Marquinhos Santos, o técnico fez o básico com elenco mediano e dinheiro escasso: definiu base, fortaleceu a defesa e achou soluções para encaixar o que tinha de melhor.

Na pré-temporada em Manaus o 4-2-3-1 de sempre tinha Sandro Silva e Guinazu como volantes, com uma linha de meias composta por Bernardo, Marcinho e Montoya. Você leu aqui que o sistema era bom e faltava um “9”. Era Gilberto.

Além dele, Doriva insistia que o time precisava ter mais a posse e controlar o jogo. A criativa solução foi posicionar Julio dos Santos como meia aberto na direita: com a bola, ele recua para receber dos volantes e armar o jogo, abrindo o corredor para Madson enquanto Rafael e Gilberto correm pra área. Jogada manjada, treinada e funcional do Vasco.

Foram 35 gols, sendo 23 de bola parada. Recurso de jogo importante – afinal, é uma chance de gol! – e usado muito com Gilberto, 9 participativo e móvel que une presença de área e boa movimentação. Ainda faz o pivô preparado para a chegada de algum meia.

O “script” foi seguido à risca contra o Botafogo: o Fogão dominou os minutos iniciais e o Vasco passou a tocar mais a bola e procurar Julio ou Gilberto, até achar o gol em uma roubada de bola no campo adversário. O 4-2-3-1, mantido do início ao fim, é entrosado e sabe dar resposta quando sai da característica.

Sem a bola, o Vasco se comporta com 2 linhas de 4, em bloco médio. O que isso significa? Que todo mundo volta para o campo de defesa e passa a marcar a partir da linha divisória. A marcação não é exatamente sufocante e se baseia em encaixes individuais, mas funcionou: 14 gols levados, sendo 5 do Friburguense.”

 Depois dos excelentes textos do Léo Miranda, podemos ver que nem só os títulos como a arrancada com a Ponte atualmente são coincidências. São frutos de seu 4-2-3-1 bem definidos, sua definição tática e de suas escolhas. Se Osorio era filosofia, Doriva é resultado e no momento, é o que precisamos…

Boa sorte, Doriva!

Seja bem vindo à casa em seu retorno!

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