Acho legítimo sua vontade de dirigir uma seleção em uma Copa do Mundo, antes dos 60 anos.

O México precisa de algo novo, para mudar seu status no Futebol Mundial.  E não tenho dúvidas que você é a pessoa certa.

Mas, nos brasileiros e não só os são-paulinos, também precisamos de você.

Lembro de sua entrevista após o jogo contra o Corinthians, em que disse: “Eu acho que o futebol brasileiro é admirado em todo o mundo, mas vocês pensam que deve mudar. Acho que uma coisa que pode e deve mudar é dar melhor espetáculo, atacar mais, ir pra frente”’

Infelizmente no futebol brasileiro, não temos mais técnicos que pensam como você, e não temos no jornalismo esportivo, pessoas como o Sr. Armando Nogueira.

Esse jornalista, era um estudioso como o senhor e pregava o Futebol-Arte, e defendia que o Futebol era espetáculo! Para ele o gol não era um detalhe! Era o objetivo principal!

O Futebol é cíclico, só que para que ocorram os ciclos, é necessário um agente de mudança.

Confesso que até sua chegada, eu estava conformado que o futebol de resultado, de técnicos como Muricy, Tite, Autuori e Felipão, era a única forma de conquistarmos o mundo novamente.

Mas, vou usar uma brilhante dissertação de 1998, feita por LUCIANO VICTOR BARROS MALULY (FIAM/SP), intitulada de “O futebol-arte de Telê Santana no jornalismo esportivo de Armando Nogueira” para que você entenda sua importância como agente de mudança (ou resgate de nossa cultura) nesse momento. Perceba as semelhanças com o que nos deparamos há 20 anos atrás:

“Durante o ano de 1993, Armando Nogueira deparou-se com dois acontecimentos que iriam marcar o cenário esportivo no Brasil – a participação do selecionado nacional na disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos da América, e a conquista do Bicampeonato Mundial Interclubes pela equipe do São Paulo Futebol Clube, em Tóquio.

A Seleção brasileira de futebol mostrava um estilo de jogo voltado ao Futebol-força, em que se privilegiava a marcação e o vigor físico dos atletas, sem que a criatividade do jogador fosse observada.

O time nacional procurava manter o resultado a qualquer custo, com faltas e pouca ofensividade, negando ao público a condição de assistir um espetáculo de futebol, representado principalmente por gols e jogadas individuais e coletivas.

O São Paulo Futebol Clube apresentava um estilo relacionado ao Futebol-arte, em que o time buscava realçar o espetáculo a todo instante, explorando a técnica do jogador e do conjunto, mostrando um jogo cheio de gols e com poucas faltas.

Armando Nogueira analisou os fatos realçando um tema eixo baseado na relação entre o Futebol-arte e o Futebol-força no Brasil, ou seja, através da exaltação do jogo como espetáculo, pois se a equipe do São Paulo praticava o Futebol-arte (espetáculo) por que a seleção brasileira praticava o Futebol-força (resultado)?:

1º) O time do São Paulo respeitava a tradição brasileira do Futebol-arte, ao contrário da seleção brasileira;

2º) A estrutura do São Paulo Futebol Clube permitiu implantar junto à equipe um estilo voltado ao Futebol-arte, valorizando assim o espetáculo. Já a falta de planejamento dos dirigentes e da comissão técnica proporcionou um desequilíbrio na seleção nacional. A pressão para a obtenção do resultado ocasionou a implantação do Futebol-força;

3º) A equipe do São Paulo explorava a técnica do jogador e combatia o jogo violento, ao passoque a seleção brasileira praticava o antijogo pela necessidade do resultado.

Neste contexto, o trabalho de Armando Nogueira se formulou através de algumas premissas básicas que auxiliam na compreensão do tema eixo Futebol-arte/Futebol-força (Ver Ronaldo Helal. Passes e Impasses: Futebol e Cultura de Massa no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1997.):

  1. a) O futebol brasileiro é fundamentado pela doutrina do Futebol-arte, tendo o jogo como espetáculo, conduzido pela individualidade e habilidade de seus jogadores, e não pelo Futebol-força, jogo baseado apenas no resultado final da partida, sendo que o atleta talentoso cede lugar ao outro que dispõe somente de vigor físico e tem maior potencial para segurar o placar. No Brasil, o Futebol-força tem sido confundido com um futebol que prima pela violência, por causa da crescente tendência pela busca de resultados.
  2. b) A cobrança pelo resultado auxilia o Futebol-força e descaracteriza o Futebol-arte. O Futebol-força adquiriu espaço no país pela crescente valorização da busca de resultados, influenciada pelos altos investimentos de empresas patrocinadoras e mesmo de empresários, além de dirigentes interessados muito mais no mercado de jogadores que na valorização do futebol como espetáculo popular e de massa. Numa seleção ou clube, o resultado é conseqüência de um trabalho planejado e profissional. A organização do jogo como espetáculo permite aos jogadores e comissão técnica a plena liberdade para exercerem suas profissões.”

 Em um momento em que vemos técnicos gaúchos dando sequencia ao trabalho de Parreira e seu futebol-força e de resultado, precisamos de alguém que resgate o futebol-arte.

Alguém que não ensine jogadores como Raí, Palhinha, Ganso e Pato a marcarem laterais e volantes. Mas, que ensine a eles a usarem sua técnica para ganharmos jogos.

Não tenho dúvidas nenhuma, que os mesmos que o criticam, irão o idolatrar quando conquistar títulos no São Paulo, dando espetáculo.

Quem sabe, PVC, Caio Ribeiro, Paulo Cesar Vasconcellos, não possa ser seu aliado para defender o Futebol-Arte como Espetáculo vs Futebol-Força de Resultado!

O povo brasileiro, que já pediu Guardiola em 2014, vai pedir o senhor em 2018, talvez 2022.

Talvez, você vá para uma Copa do Mundo com 63 anos, mas, irá para encantar o mundo!

Por isso, te faço um apelo: Fiquei Osorio! Nós são-paulinos, lhe  ajudaremos a chegar em uma Copa do Mundo, com uma seleção com vocação ofensiva. Se não for aqui, certamente será na Colombia, que todos sabemos adoram o futebol arte dos brasileiros!

Ernani Takahashi