Osorio aportou no São Paulo com as bagagens repletas de novidades a serem implantadas no futebol brasileiro. Depois dos eternos 7 a 1, que nos esfregou um espelho na face para redefinirmos a nossa identidade da bola, todos viram com bons olhos as novas possibilidades para armar um time e oxigenar nossos tão estáticos esquemas táticos.

O brasileiro, cultuando algumas tacanhas tradições, até pouco tempo só aceitava numeração de camisas do 1 ao 11, mas deixou rolar os conceitos de Osorio, um estudioso da bola, com passagem em campeonato europeu. Afinal, o baque contra a Alemanha foi tão grande que o mais ortodoxo torcedor ansiava por alguma novidade, alguma fórmula que reencontrasse nossos genes cinco vezes campeões do mundo.

Sem prancheta, mas munido de caderno e canetas azul e vermelha, assim Osorio chegou e intensificou rodízios, sendo capaz de alterar quase um time inteiro, como aconteceu na derrota contra o Avaí quando – exceto os contundidos e afastados por cartões -, poupou jogadores, colocou um exército de garotos da base e mesclou com experientes que habitavam a reserva.

Além da composição citada acima, Osorio impôs algumas situações como de troca de posições dos jogadores, tais como Carlinhos, genuinamente lateral-esquerdo, atuando de ponta-direita; Breno, zagueiro de formação, como volante; zagueiro atuando como lateral-direito; Wesley, volante, de meia armador.

Desta forma, não só alterou praticamente o time todo, mas também colocou no mínimo 4/5 jogadores atuando em posições que não são as suas. Breno, volante, também não é uma revolução. Essa mudança de posição de jogadores não é nova no Brasil, só para citar um, Don Darío Pereyra, um dos maiores zagueiros que o mundo já viu, chegou ao São Paulo para atuar como volante e consagrou-se como quarto-zagueiro (se é que ainda se denomina assim…).

Darío representa um entre dezenas de casos, mas o que me colocou a pensar foi a quantidade de alterações de posição de Osorio: – Até que ponto essa prática amplificada ajuda?

Contra o Avaí e em outras situações no campeonato, alguns jogadores atuando em novas regiões do campo deixaram a equipe desequilibrada, apagaram ou não foram eficientes .

Inversões e intercalações durante a partida, troca de posições sempre fizeram parte do futebol assim como já demonstraram em sua plenitude para o mundo a seleção da Holanda, em 1974, e o Barcelona da era Guardiola, onde todos giravam pelo campo.

O problema de Osorio, do São Paulo e do futebol brasileiro para se implantar novas filosofias da bola é que estamos muito distantes de contar com os craques que o mundo europeu garimpa (e tem o poderio de comprar) no mundo inteiro, formando verdadeiras seleções. Com o respeito devido, mas como cobrar um futebol-total com Reinaldo, Edson Silva, Lucão e Bruno?

Assim, exceto as trocas excessivas de posições de origem em uma equipe, que mesmo num time europeu considero invencionice, penso que as ideias de Osorio são excelentes, no entanto, muitas vezes se mostram fora do contexto da realidade do futebol brasileiro, que há tempos não consegue mais segurar os seus craques e até mesmo os seus meias-bocas.

Com isso, estabelece-se um entrave: precisamos modernizar o futebol, Osorio é um técnico moderno, mas até que ponto os atletas que atuam no Brasil possuem essa modernidade versátil?

O domínio total da posse de bola, assim como apregoa Osorio, também não é novidade, ainda que necessário. Esse jeito de jogar vai e volta, é cíclico, assim como um dia Guardiola aprendeu com os relatos do seu pai sobre da Seleção Brasileira dos tempos em que reuníamos verdadeiros gênios da bola; e a filosofia do Barça, que está arraigada como preceito fundamental nas bases implantadas por Johan Cruijff, que fizera parte do “Carrossel Holandês” e foi discípulo de Rinus Mitchels.

Não há dúvida que Osorio tem fundações nas melhores escolas e técnicos, porém, não há dúvida também de que os conceitos, para se tornarem realidade, precisam de jogadores acima da média. Realidade que não se materializa na equipe do São Paulo. E é nesse sentido que Osorio tem toda razão de reclamar das vendas de jogadores. Se já era deficitário antes, imagine agora tendo que colocar garotos aos cântaros e aproveitar o que sobrou do banco.

Osorio é bom, porém, em certos momentos extrapola quando se se considerarmos as realidades do nosso competitivo por baixo futebol brasileiro. Não há peças de reposição em quantidade suficiente para colocar em prática a sua engenharia tática.

Uma coisa é certa, as proposituras de Osorio não limitam aos muros do CT do São Paulo. Suas posições escalam interrogações na mente de torcedores, comentaristas e até mesmo dos técnicos brasileiros. Independente de dar certo ou não, a reflexão é positiva a partir de Osorio e o futebol brasileiro.

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SEM LÓGICA…

Agora, especificamente sobre a estratégia de Osorio contra o Avaí, quando trocou, poupou, inverteu jogadores sob alegação de que precisaria preservar para a Copa do Brasil, penso haver algo ilógico nesse pensamento.

O primeiro objetivo de um clube é ser campeão. Não havendo perspectivas, então se parte para o plano B, que é classificar a equipe para a Libertadores, que gera prestígio e, sobretudo, grana.

Então, se considerarmos que o SPFC precisava apenas de uma vitória contra o fraquíssimo Avaí para se manter no G-4, foi um equívoco abandonar a partida e priorizar a Copa do Brasil, que pode ser o caminho mais curto para se atingir a América, mas, desde que o SPFC estivesse abaixo do 7º colocado e com chances impossíveis ou remotas para a Libertadores via Brasileirão. Neste caso, Osorio pareceu ter trocado o mais certo pelo duvidoso.

***RICARDO FLAITT (Alemão) é um cronista-torcedor apaixonado pelo São Paulo e escreve para o Blog do São Paulo esporadicamente. Fã de Garrincha, Telê Santana, João Saldanha, Careca, Afonsinho, José Trajano, Tostão e Nelson Rodrigues. E-mail: ricardoflaitt@hotmail.com