Clube sofre com prejuízos mensais, altas despesas e verbas antecipadas, mas tensão política o impede de reformar sua gestão

Tido como modelo de gestão nos anos 2000, o São Paulo chega à metade da década de 2010 sem esse status. Conflitos políticos impedem que o clube saia de situação caótica que é mascarada pela quarta colocação na tabela do Campeonato Brasileiro. Às vezes sobe, às vezes desce, mas não cai. Não passa por crises tão fortes quanto a vascaína e a botafoguense. Mas vai mal, muito mal, fora de campo

O que mata um time de futebol não é exatamente o endividamento. Dívidas são a parte aparente de um problema muito maior para quem dirige um clube: fluxo de caixa. Dinheiro para pagar salários, direitos de imagem e todas as despesas administrativas do dia a dia.

O São Paulo, nisso, sofre. No primeiro semestre, teve R$ 49 milhões de prejuízo. Só consegue colocar grana no caixa quando vende algum atleta, como em julho, quando o saldo ficou R$ 9 milhões positivo. Por isso o cálculo de Alexandre Bourgeois, ex-CEO, é terminar a temporada no vermelho em R$ 136 milhões. Isso, para um clube que terminou 2014 com R$ 100,1 milhões negativos, é devastador.

Falta dinheiro porque a grana que era para entrar já entrou. Carlos Miguel Aidar, atual presidente, já antecipou R$ 25 milhões dos R$ 75 milhões que tem para receber da Under Armour. Quando foi questionado por ÉPOCA, afirmou que o antecessor, Juvenal Juvêncio, também já tinha antecipado a verba dos direitos de transmissão paga pela Globo. Juvenal provavelmente teria mais alguém a culpar para justificar a medida. A realidade é que presidentes antecipam receitas de temporadas que não chegaram não por mal, mas porque não têm para onde correr: há salários a pagar, mas não há caixa.

O problema de antecipar receita, além de atrapalhar o planejamento do ano seguinte, é que não se trata só de chegar à Under Armour e sair com um cheque. A fornecedora não é banco. Nem a Globo. Operações assim são triangulares: o clube pega um empréstimo no banco e deixa o crédito que tem para receber nesses contratos nas mãos do banqueiro. Só que ele fica com uma parte do dinheiro. Aquele contratão de R$ 75 milhões, resultado do esforço de Aidar para conseguir valor acima do mercado, já rende menos ao clube.

Além dessas operações, empréstimos com bancos geram uma dívida perigosa para um clube. O São Paulo não é, nunca foi, o mais endividado do futebol brasileiro. Mas terminou 2014 como dono de uma das maiores dívidas bancárias do país, R$ 150 milhões, enquanto tem endividamento fiscal de só R$ 13 milhões. Se fosse o inverso, R$ 13 milhões de endividamento bancário e R$ 150 milhões de fiscal, a situação seria completamente outra – bancos cobram juros agressivos, o governo parcela em 20 anos por meio do Profut.

De um lado, não entra dinheiro suficiente. Do outro, não para de sair. O São Paulo teve a maior despesa do futebol brasileiro em 2014, R$ 301,5 milhões, contra R$ 305,9 milhões gastos em 2013. Não é campeão desde 2008. Nesse contexto, dirigentes falam em contratar Alexandre Pato, um dos três salários mais caros do elenco. Inevitavelmente outros atletas, tão valiosos quanto, terão de ser negociados às pressas para compensar gastos tão altos. E aí é aquilo: quem entra desesperado numa negociação faz mau negócio.

O São Paulo, como quer fazer o ministro Joaquim Levy com as contas públicas, precisaria cortar muitas despesas e aumentar receitas. Conseguir caixa para quitar urgências e para voltar a investir. O Morumbi é um estádio defasado. Não rende tanto quanto os rivais Allianz Parque e Arena Corinthians, nem vai render enquanto não receber investimentos. O marketing começa a dar resultados com Douglas Schwartzmann, que tem invertido a lógica do futebol e ganhado mais dinheiro com redes sociais do que com camisa, mas ainda está muito atrás de Flamengo, Corinthians e Palmeiras.

Mas profissionalizar e melhorar a eficiência do São Paulo, como bem sabe Levy no Ministério da Fazenda, passa por superar conflitos políticos, e aí a história engrossa. Aidar não se dá com quem lhe indicou, o antecessor Juvenal, nem com o presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, a quem chama de “frustrado”. Convive com a sombra de Abilio Diniz, fanático são-paulino que faz ataques públicos a sua gestão todo mês. A guerra de vaidades impede reformas profundas na gestão do São Paulo e tira do clube credibilidade. Justo a credibilidade que ganhara nos anos 2000, da qual precisa para ganhar dinheiro na década de 2010.

ÉPOCA EC