Desde que o CFA Laudo Natel, em Cotia, foi inaugurado há dez anos, o São Paulo passou a gabar-se dos talentos – e milhões de reais – produzidos em suas categorias de base. Entre safras especiais e reclamações contra o excesso de mimo na grandiosa estrutura, o clube também acostumou-se com discursos comodistas dos técnicos que passavam pelo elenco profissional e reclamavam dos “defeitos de fábrica” dos garotos promovidos.

Muricy Ramalho, apesar dos méritos pelas revelações de nomes como Breno e Jean, acabou ganhando rótulo de ser impaciente com as promessas. Era comum vê-lo castigar a forma como Boschilia cruzava ou então as deficiências de Ademilson nas finalizações. Além da bronca, porém, pouco era feito para tentar seguir lapidando as joias, que tinham a mesma carga de treinos de fundamento que os jogadores mais experientes.

Para este ano, havia uma promessa do próprio Muricy, que sofreu com o rótulo também no Santos, de que o trabalho da base com o profissional seria mais integrado e cuidadoso. O tempo do técnico no Tricolor terminou no início de abril e mais de dois meses depois o cenário começou a mudar. Primeiro com a observação de Juan Carlos Osorio em jogos e atividades nas equipes inferiores e, depois, com a ação do auxiliar Luis Pompilio.

O assistente colombiano é quem costuma comandar os treinamentos pós-jogo, quando a maior parte dos integrantes é de atletas jovens. Pompílio tenta orientá-los a todo instante com gritos e gestos e não deixa passar nenhum erro sem uma bronca imediata, mas polida. Já no restante dos dias, o auxiliar dedica quase 30 minutos após o término dos trabalhos com todo o elenco para aprimorar os fundamentos das joias.

Os exercícios normalmente são feitos em metade de um dos campos e têm zagueiros e volantes posicionados no círculo central para executarem viradas de jogo para os laterais que avançam em velocidade ou passes fortes para a entrada da área. Por lá, meias e atacantes aprimoram jogadas de pivô ou correm para a área, onde recebem cruzamentos dos alas. E cruzamentos altos, caso as promessas queiram evitar as cobranças educadas de Pompilio.

Um reflexo de todo esse trabalho do auxiliar, sempre observado atentamente por Osorio e o coordenador técnico Milton Cruz, está no setor defensivo do São Paulo nos últimos jogos. Rodrigo Caio e Lucão montaram barreira firme na zaga contra Grêmio e Chapecoense, com qualidade na saída de bola. Pela esquerda, Matheus Reis, ainda tímido, começa a dar mostras de suas arrancadas e também arrisca-se nas viradas de jogo.

A ideia da comissão técnica de preservar os titulares contra o Avaí, às 16h de domingo, em Florianópolis, pode colocar mais promessas em teste. O lateral-direito Auro pode ganhar nova oportunidade, bem como o volante João Schmidt, que vem sendo trabalhado como um meia armador. Há ainda o marcador Jeferson e o atacante Murilo, que não completaram três semanas como profissionais, mas que já somam convocações de Osorio. Uma renovação gradativa e minuciosa para combater o desmanche do elenco.

SAÍDA DE BOLA
Posicionados no círculo central, volantes e zagueiros precisam caprichar nos lançamentos longos para os laterais e nos passes firmes para os meias e atacantes. Jeferson e Lyanco têm se destacado.

CRUZAMENTOS
Danilo e Auro disparam pela direita, enquanto Matheus Reis, às vezes com a companhia de um meia ou atacante, corre pela esquerda. A ordem é caprichar nos cruzamentos para os atacantes cabecearem.

FINALIZAÇÕES
Quando recebem pelo meio, os meias e atacantes giram e finalizam, ora de direita, ora de esquerda. Quando recebem dos alas, treinam cabeceios. João Schmidt e Lucas Fernandes têm bom índice de acerto.

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