A situação do São Paulo no campo e nos bastidores é complexa. Para tentar entender, existem dois caminhos: eleger culpados, ou entender suas razões para que possamos progredir.

Eu, particularmente, prefiro a segunda. Se entendermos as razões, podemos olhar para o futuro e ver melhorias.

E, uma das razões por chegarmos no estágio em que nos encontramos, é exatamente a cultura criada na gestão passada, de jogar para a torcida e eleger “CULPADOS”.

Desde 2008, nosso último título, mudamos técnicos, jogadores, e a torcida cobra sempre o mesmo: Raça e consistência defensiva.

Muitos foram culpados por tudo isso, principalmente técnicos, laterais, zagueiros e volantes:

Técnicos – Ricardo Gomes, Sergio Baresi, Carpegiani, Adilson Baptista, Leão, Ney Franco e Autuori.

LD – Wagner Diniz, Adrián González, Edson Ratinho, Piris, Douglas, Caramelo, trouxemos Cicinho e Ilsinho de volta, improvisamos Jean, Rodrigo Caio, Paulo Miranda, Hudson na posição, subimos Lucas Farias e Auro.

LE – Junior César, Carleto, Henrique Miranda, Cortez, Juan, Clemente Rodrigues, Reinaldo, improvisamos Richarlyson, Carlinhos Paraíba e Cícero.

ZG – André Luís, Xandão, Anderson, Renato Silva, Saavedra, Jean Rolt, Xandão, Danilo, Bruno Uvini, Roger Carvalho, Lúcio, Rhodolfo, João Filipe, Luiz Eduardo (da base), Antonio Carlos e Paulo Miranda. Agora os novos “eleitos” são Tolói, Lucão, Rodrigo Caio, Luiz Eduardo e Edson Silva.

VOL – Arouca, Rodrigo Souto, Eduardo Costa, Zé Luis, Richarlyson, Jean, Carlinhos Paraíba, Cléber Santana, Fredson, Cícero, Fabrício, Paulo Assunção, Casemiro, Wellington e Denílson.

Todos esses jogadores, com raras exceções, foram avaliados prematuramente e, mesmo que fizessem algumas partidas boas, em uma sequência de maus resultados, já eram vaiados, xingados e “CULPADOS”.

Alguns pagamos caro, como Cortes, Cléber Santana, alguns assinamos contratos longos e com salários altos, como Juan, Lúcio, Fabrício, e os depreciamos, colocando-os em listas de dispensa.

Isso tudo custou muito aos cofres do clube, até chegarmos ao ponto atual.

Estive ausente por duas semanas, e vi comentários que seriam os mesmos, se tivesse ficado desde 2009 ou 2010 ausente: Questionamento ao técnico, raça e comprometimento dos jogadores e reclamações do sistema defensivo.

Ora, Lugano, Miranda, André Dias não ficaram no São Paulo por apenas por 1 temporada ou 2.

Lugano ficou 3 anos, sendo que no primeiro era muito questionado. Miranda ficou 5 anos, e André Dias, 4. Com exceção de Lugano, os outros jogadores chegaram já com um time com um padrão de jogo em si, e um sistema com 3 zagueiros implantado por Rojas, Cuca e Muricy.

AS RAZÕES PELA INCONSISTÊNCIA DEFENSIVA

Acho que as principais razões fora de campo, para o desempenho ruim nos últimos anos, foram explicadas pelas trocas de jogadores e técnicos desde 2009.

Em campo, nos 3 meses de Juan Carlos Osorio, tivemos um “rodízio” que não dependeu do técnico. Tínhamos no elenco jogadores “fatiados” e que deveriam ter cláusulas contratuais para que fossem vendidos para o exterior, em caso de propostas em um certo valor.

Ainda mais se levarmos em conta que os jogadores negociados tinham metade, ou mais, pertencentes a terceiros.

Enfim, Juan Carlos Osorio imaginava um time com Paulo Miranda, Tolói, Rodrigo Caio, Lucão, Breno e Dória para formatar um time que poderia variar de 4-3-3 para 3-4-3, sem fazer substituições. Rodrigo Caio, Breno e Lucão seriam os “zagueiros volantes”.

Paulo Miranda foi negociado e Dória, infelizmente, não conseguimos manter. Tolói estava se adaptando a esse novo esquema.

Lucão estava com a seleção de base, e “perdeu” o começo de Osorio, que seria extremamente importante.

Além disso, com a saída de Dória, e ainda sem ter contratado Luiz Eduardo, ele foi jogar pelo lado esquerdo, que não é seu forte. Mesmo assim, fez boas partidas.

Tínhamos um volante que sabia ficar plantado em frente da área, e que jogou 6 temporadas na Inglaterra, que era Denílson. Com ele, poderíamos jogar com 3 zagueiros e formar um losango no meio. Ou seja, ele plantado centralizado, os alas mais à frente, e Ganso centralizado atrás de 3 atacantes.

Isso, sem dúvidas, protegeria muito o sistema de linha avançada da defesa.

Enfim, em menos de 90 dias, muita coisa mudou. Muito tempo investido em mudança de posicionamento e mentalidade de jogadores como Paulo Miranda, Tolói, Dória, Denílson, Souza, foram perdidos.

E, mesmo os jogadores que ficaram, tiveram problemas de contusões, como Breno, Rodrigo Caio, agora Lucão e expulsão de Luiz Eduardo.

Isso são RAZÕES suficientes para entendermos a inconsistência defensiva.

RAÇA

Logo que chegou ao clube, Osorio insistiu em quase todas as entrevistas sobre: INTENSIDADE E COMPROMETIMENTO (CORAÇÃO 100% NO SÃO PAULO).

O COMPROMETIMENTO de jogadores fatiados e coração no São Paulo, não dependia somente dos jogadores. Afinal, eles tinham donos, com interesses muito diferentes do que ver os atletas cumprindo seu contrato até o final. Isso é algo que Osorio não tem controle.

INTENSIDADE depende do físico, e dessa forma é importante o RODÍZIO!!!

Jogando de quarta e domingo, é impossível querer que jogadores como Ganso (sem ter Boschilia para revezar, como no jogo contra o Goiás), consigam ter INTENSIDADE o jogo inteiro, jogando de quarta e domingo.

Além dele, a zaga jogando em linha alta, laterais atacando e defendendo, meias ajudando na marcação, e chegando dentro da área, e pontas se deslocando e dando piques não conseguem INTENSIDADE jogando domingo, viajando terça, jogando quarta, viajando sábado e jogando domingo.

INTENSIDADE é confundida com Raça e Coração.

Afinal, esses jogadores nunca jogaram assim. Ganso por exemplo, com Hudson e Álvaro Pereira de laterais, Denílson protegendo a zaga, e o time tocando a bola de lado o tempo inteiro, se cansava bem menos. Os zagueiros, jogando recuados, com laterais que não subiam e Denílson na proteção, se cansavam menos.

Os atacantes jogando centralizados e tabelando com Ganso pelo meio não recebiam nenhuma bola em profundidade, e por isso cansavam menos.

O ideal, e como Osorio sempre diz, seria um time poder sair tocando e dando uma sequência de 30 a 40 passes até chegar ao gol adversário. Isso cansaria menos o time. Mas, quem consegue jogar assim é somente o Barcelona.

Não temos jogadores capazes de tocar a bola assim, então temos que compensar com o físico.

Raça, sem estar 100% fisicamente, pode gerar contusões, que podem fazer jogadores serem considerados “chinelinhos”. Além disso, raça, em determinado jogo, pode gerar um desgaste excessivo, que será notado no jogo seguinte, quando poderão os chamar de “acomodados”.

É preciso entender as razões no futebol antes de apontar culpados.

Culpados podem ser punidos, mas isso não soluciona o problema.

O 1 x 7, não é uma defasagem tática e de mentalidade do futebol brasileiro de 6 meses, e sendo assim, ninguém conseguirá mudar nada em 90 dias.

E 4, ou 5 anos de contratações caras, de apostas erradas, dispensas, trocas de técnicos, demissões de profissionais como Turíbio, Rosan e Carlinhos Neves não serão consertados por nenhum mágico em tempo inferior a isso.

Ernani Takahashi