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Sou um cearense nascido em São Paulo. Filho de pais cearenses e neto de avós cearenses. Gato nascido no forno não é biscoito, é gato.

Nasci na cidade de São Paulo, mais especificamente na Maternidade de São Paulo, em 13 de setembro de 1970, momentos depois do gol da vitória tricolor, por 1 a 0, frente ao alvinegro paulista, na partida final do campeonato paulista conquistado pelo Tricolor.

Meu lado nordestino tenderia a falar: sou cearense com muito orgulho. Mas o fato é que sou paulistano. Jamais sequer morei em Fortaleza. Além disso, prefiro ter orgulho de outras coisas, assim como os valores e educação que recebi dos meus pais.

Meu avô, Felipe, foi, aliás, é e sempre será, a razão pelo meu amor ao futebol. Torcedor do Ceará Sporting Club, foi dele que herdei a simpatia ao alvinegro cearense, o Vozão.

Minha família sempre foi composta por torcedores dos rivais Ceará e Fortaleza e igualmente por equipes do Rio de Janeiro, uma clara influência da Radio Nacional que transmitia seus jogos pelos vários estados nordestinos. Por conta disso minha família sempre teve muitos flamenguistas, vascaínos e tricolores cariocas.

Esta dinastia carioca acabou em 16 de janeiro de 1958. Naquele dia, meu tio Fernando Sátiro, jogador do pequeno Gentilândia, que tinha sido campeão cearense em 1956, foi convidado a jogar pela equipe do Ceará que enfrentaria o São Paulo, atual campeão paulista, em amistoso que fazia parte de sua excursão ao nordeste. Aos 3 minutos de jogo, ele marcou um gol contra, a favor do São Paulo. Temeroso com a reação de seus colegas de time passou a correr e fez a sua maior atuação de sua carreira até então. Em tempo, a partida acabou 2 a 2.

Ainda assim foi substituído após o primeiro tempo. Chamou a atenção do técnico interino e dirigente tricolor, Manoel Raimundo Paes de Almeida, que tão logo acabou o jogo, o convidou para jogar no São Paulo. Meu tio se tornou jogador tricolor, onde atuou por 90 jogos, incluindo a épica partida de inauguração do estádio do Morumbi em 2 de outubro de 1960.

Enfim, graças ao Ceará, o São Paulo entrou na vida da minha família.

Meu pai veio morar na capital paulistana e passou a acompanhar a equipe em que o primo dele, Fernando Sátiro, jogava. Desta forma, meu pai, flamenguista, se tornou, também tricolor. Sou são-paulino, assim como meus irmãos, por conta disso. No entanto, nenhum de nós é rubro negro.

Meus tios e primos, por parte de pai, na maioria, cearenses, continuaram seguindo a tradição de torcer a favor das equipes cariocas. Mais que isso, sempre contra o São Paulo, uma vez que apareceram corintianos, palmeirense e até mesmo ponte-pretanos.

1986 foi o grande marco. Todos, sem exceção, torceram pelo Guarani contra o Tricolor na final do campeonato brasileiro. Foi muito duro, suportar a pressão da torcida contrária. No final, coube a todos eles ouvirem o maior “Xupa” de todos os tempos por conta do gol de Careca no ultimo minuto de jogo. Foi épico, mal educado, mas marcante.

Quanto a mim, me mantenho Vozão e Tricolor.

Como torcedor do Ceará me causou estranheza a forma como foi tratada a vitória cearense frente ao São Paulo na ultima semana.

Dono do segundo maior publico no Brasil em 2015, na final da Copa do Nordeste, frente ao Bahia, na vitória por 2 a 1, em 29 de abril, quando o Vozão conquistou esta competição de forma invicta. Ano passado tinha sido vice-campeão do Nordeste e liderou boa parte da Série B. O acesso não veio, mas ainda assim e inegável a força do Vozão.

Considerado como favorito para conquistar a Série B deste ano, a equipe acabou se perdendo ao longo da competição e se encontra na ultima colocação até o momento, isto sim uma grande surpresa. Aliás, já somos o penúltimo colocado.

A forma como a grande imprensa tratou a derrota do São Paulo, pareceu que o Ceará se tratava de uma equipe sem qualquer valor. Um exagero que sequer chegou próximo ao que aconteceu quando neste ano o ASA de Arapiraca, equipe da Série C do campeonato brasileiro, empatou com o Palmeiras em plena arena palestrina.

E que ninguém venha com a história do fato do ASA já ter eliminado o Palmeiras em Copa do Brasil, pois o Vozão também o fez em 1994, com uma equipe ainda controlada pela Parmalat, em pleno estádio Palestra Itália, em um ano em que chegamos ao vice-campeonato da Copa do Brasil.

Enfim, o Vozão é grande. Na Série B, mas grande. Jamais na Série C.

Falta de informação da imprensa?

Melhor nem pensar nisso, mas o fato é que o Tricolor não perdeu para o vento.

Por outro lado, não quero dizer que a derrota tricolor para o Ceará em pleno estádio do Morumbi não seja uma zebra, mas daí a trata-la como a maior vergonha da história, além desqualificar o Vozão, simplesmente não é verdade.

Ah, mas o Ceará estava desfalcado por 9 atletas. Quem acompanha um pouco que seja futebol, sabe que não há um plantel no Brasil que possa entrar em campo com 9 desfalques. Isto não existe, basta verificar a escalação do Vozão na partida seguinte frente ao Paraná neste final de semana.

Pois bem, tudo isso, apenas para responder a pergunta que mais tenha respondido desde que foi definido o confronto entre São Paulo e Ceará pela Copa do Brasil.

Graças ao Ceará, sou São Paulino, e sempre serei grato por isso.

Era alvinegro e o destino quis me dar um coração, vermelho, que me fez tricolor acima de tudo.

Vamos São Paulo!!!

Por: José Renato S. Santiago