Com resultados ruins dentro de campo, embora esteja em sexto no Campeonato Brasileiro, o São Paulo vive dias complicados.

Depois da derrota para o Flamengo, no último domingo, Juan Carlos Osorio chegou a deixar dúvida sobre sua permanência no comando da equipe tricolor. A diretoria do Morumbi, porém, conseguiu convencer o colombiano a ficar, mesmo diante da proposta para assumir a seleção mexicana.

Para convencer o treinador, o vice-presidente de futebol do clube, Ataíde Gil Guerreiro, prometeu um time forte para o ano que vem, garantiu apoio no modelo de rodízios e disse que ninguém mais vai embora.

Folha – Como você vê o São Paulo hoje?
Ataide Gil Guerreiro – Vejo em uma situação difícil. O São Paulo perdeu uma série de jogadores, teve que perder uma série de jogadores porque não estávamos conseguindo pagar em dia o elenco. A gente chegou à conclusão de que não fazia sentido ter um time forte se não conseguia pagar em dia. Entao, eu fiz um acordo com a diretoria, dizendo que eu permitiria uma liquidação de parte do elenco, desde que não houvesse mais nenhum atraso. Hoje, não devemos mais nada para nenhum jogador, nem salário, nem imagem. E eles estão cumprindo o combinado comigo, estamos em dia. Quando contratamos o Osorio, não tinha nada disso. Ele não sabia disso. Mas não teve jeito, alguma coisa tinha que ser feita. Não foi uma decisão só minha. Foi de todo mundo. Mas isso machucou, foi muita gente que perdemos. Agora nós não temos mais o melhor elenco do Brasil, infelizmente. Mas eu acho que o nosso elenco é suficiente para estar entre os quatro primeiros do Brasil. A gente ainda pode pensar em Libertadores e na Copa do Brasil.

Acabaram as vendas?
Nem dá mais tempo, a janela para a Europa está fechando. Acabaram as vendas. Não há nenhuma negociação em andamento.

O Auro ia sair, não ia?
Ele ia ser emprestado para ganhar experiência, mas o nosso técnico conversou com ele e vai ficar.

E o Rodrigo Caio?
Não tem mais chance de sair. Não há nada em negociação. As negociações acabaram e as vendas acabaram. Só tem uma coisa que eu me preocupo, que é o Alexandre Pato. Dele eu não tenho controle, porque é jogador do Corinthians. Eu espero que nada aconteça. O Pato diz que quer ficar no São Paulo. Se não aparecer time grande da Europa, ele vai ficar aqui.

Não faltou conversar com o técnico?
Não passava isso na minha cabeça. Algumas receitas que iam entrar não entraram e a gente teve que fazer isso. Pensamos nessa alternativa. Quando eu contratei, não tinha essa situação. Eu expliquei um a um pra ele. A conversa que eu tive foi a seguinte: eu não consigo pagar o elenco, aparecendo proposta eu vou vender. Eu avisei isso a ele, foi avisado de tudo.

Ele foi contra em algum momento?
Coitado, de forma alguma. Mas ele fica sentido por cada perda. Ele fica realmente chateado com as saídas. Mas não há o que fazer. Essa do Toloi, a gente não esperava. Mas havia uma obrigação contratual. A única forma de o jogador não ir é se ele mesmo não quisesse. Mas ele também estava chateado com a torcida, que pega no pé, e aceitou ir.

Você conversou com o Osorio depois da partida deste domingo?
Eu tive uma conversa com ele agora à tarde. Depois de muita conversa, ele garantiu pra mim que vai ficar. Disse que vai ficar, que tem muito respeito por mim e disse que não sai. Eu fiquei aliviado, eu estava realmente preocupado com isso. Ele confirmou isso e ele é um homem de palavra.

Qual a culpa do Osorio?
Ele não tem culpa nenhuma. A culpa é toda minha. Fui eu que contratei o Osorio, fui eu que aceitei o esquema de rodízio, que eu estou adorando, fui eu que aceitei vender jogadores. Ele não tem culpa nenhuma. Ele ainda acredita no elenco. Vamos entrar para valer e reverter esse resultado da quarta-feira. O Brasileiro, eu reconheço que está mais difícil. São 12 pontos do Corinthians. Não vamos jogar a toalha, ainda queremos ser campeões brasileiros, mas não é fácil de tirar essa diferença.

Você gosta do rodízio?
Eu gosto muito. Traz uma coisa nova para o elenco e é muito bom. Quando não tem rodízio, o cara fica um ano sem jogar.

Mas não é só esse o rodízio, mas também de posições…
Sim, eu também gosto disso. Quem tem sido um grande jogador nos últimos jogos é o Carlinhos, na ponta direita. Ele era lateral esquerdo. O Osorio fica procurando onde o jogador rende mais e ele vai achar isso para todos, como achou para o Carlinhos.

A diretoria apoia o rodízio, entao?
Integralmente. Os jogadores também gostam.

E o presidente?
Eu não sei. Nunca perguntei. Aparentemente ele apoia. O Carlos Miguel [Aidar] tem um mérito, de delegar as coisas. Ele sabe delegar.

O que você disse para o Osorio?
Eu disse o seguinte pra ele, que o mercado não está cheio de opções, mas que estamos de olho nisso. Já dei um nome para ele hoje. Vamos observar. Eu me comprometi com ele de que no final do ano vamos estar em condições melhores e que vamos ser capazes de formar um excelente time novamente. Esse é meu compromisso com ele. Eu disse agora isso pra ele. Nós queremos continuar com ele.

Como você vai fazer um time para 2016, diante da situação financeira do clube?
Até o final do ano, as coisas estarão melhores. No nosso planejamento, estará tudo muito melhor.

Desculpa insistir nisso, mas como exatamente elas estarão melhores?
Não vou falar disso. Não sei. Problema do São Paulo, que já me disse que vamos ter uma situação melhor. Eles me disseram isso. E eu estou contando com isso.

O que isso significa para o futebol, em número de jogadores, por exemplo?
O que eu gostaria é de ter um elenco que eu tinha no início do ano. Eu falava pra todo mundo que era o melhor do Brasil. É isso que eu queria. Agora, claro que precisamos ter alguns reforços e é o técnico quem vai comandar isso.

Ele já disse qual é a carência e o que ele gostaria de ter?
Eu sei já algumas coisas. Tanto é que esse jogador que eu indiquei é para uma dessas carências que ele falou para mim.

De que posição?
Não interessa.

É menino?
Não. Já é veterano. É da Europa.

Qual é a carência que você vê?
Não vou dizer. Quem tem de ver isso é o Osorio. Eu só tenho que resguardar o elenco.

E o Luis Fabiano, renova?
Se ele chegar nesse desempenho até o final do ano, não tem porque não renovar. Já falei isso pra ele.

Mas e as questões financeiras?
Tem isso, que tem que ser avaliado. Mas não vamos ver isso agora, só no final do ano.

Seria para reduzir salário, por exemplo?
Não sei. Teríamos que conversar com ele. Não posso falar de reduzir salário de ninguém. Vamos falar disso só no final do ano. Vou pensar nisso em dezembro. Eu disse a ele que tudo vai depender do desempenho dele até o final do ano. Eu pedi paciência a ele, ele queria decidir agora.

Ele aceitou esperar?
Não há nenhum problema entre mim e ele. Vamos esperar dezembro.

A situação do Ganso, como é? A torcida pega no pé dele e vocês não aceitaram vender…
Nunca teve proposta.

A do Orlando City…
Isso é proposta? Não é proposta. Eu chego pra você e falo que o sorriso que você não me deu vale 10 mil reais e te digo que esse copo de água vale isso. Você aceitaria? Eles inventaram uma multa que não existe. É uma proposta fictícia. Eu disse que negociaria se houvesse proposta de verdade. Mas não chegou.

E se chegasse?
Eu disse a ele e ao empresário que se chegasse uma proposta, eu iria avaliar. Eu acho ele um grande jogador, um dos melhores do Brasil. Mas se ele está insatisfeito com a torcida, se ele quer ir embora, eu olho as propostas que chegarem.

E ele quer ir embora?
Por enquanto não.

E o Rogério Ceni?
Não existe programaçao para ele ficar, ele mesmo não tem interesse.

São Paulo tem um título nos últimos seis anos, como lidar com a torcida?
Imagina, eu estou atrás dos títulos. Quero ser campeão da Copa do Brasil e vou lutar pelo Brasileiro.

Mas não é melhor explicar para o torcedor que agora é hora de reformular?
Não, já fiz o que eu tinha que fazer. Vamos buscar os títulos.

Vocês estão ficando sem ídolos. Como resolver essa situação?
Os ídolos são temporários e existem enquanto estão em atividade. O Rogério é o maior de todos. O Luis Fabiano é um ídolo também. Mas não adianta querer viver do passado. Temos que criar novos. E o único jeito é jogando bola.

Desse elenco, pode sair um ídolo?
Pode. Não sei dizer quem agora. Mas pode. O Alexandre Pato, se ficar no São Paulo, pode ser um grande ídolo.

Ele é um bom exemplo. Pato pode ser ídolo, mas não é liderança. Não faltam líderes?
Como não? Ele deu uma prova de liderança na semana passada, quando se ofereceu para ir na coletiva. Ele mudou muito, já ocupa um outro papel no elenco, vejo ele crescendo cada vez mais. Ele faz muito bem ao ambiente. Não tem o perfil que nos falavam.

Não se arrependeu de não ter trazido o Lugano?
O Lugano é uma grande ídolo do passado. Esse ano, as condições para ele vir não eram as que a nossa comissão técnica queria. O Lugano teve uma participação excelente e agora está em outros rumos. Ele diz que quer encerrar a carreira aqui, vamos pensar no futuro. Nesse momento, não há possibilidade.

Te surpreendeu ouvir a coletiva do Osorio ontem, dizendo que estava com sentimentos confusos?
Não. Tem que estar com sentimentos confusos, mesmo, coitado. O cara vem para ser campeão, perde uma porção de jogadores e um corneteiro qualquer manda um SMS pra ele dizendo qualquer coisa. Tem que estar confuso, mesmo.

Quem mandou essa mensagem?
Ele não fala quem é. Não fala quem foi, nem fala o teor. Ele atende todo mundo, é gentil com todo mundo. Ele dá liberdade pra muita gente, esse é o problema nesse caso.

Não é um reflexo de como o São Paulo está hoje?
Não tem nada a ver. Corneteiro tem em todo lugar. Se ele não tivesse dado liberdade, isso não teria acontecido. Falei isso hoje pra ele. Mas ele fala com todo mundo. E aí, cada um fala o que quer. Ele é um cara diferente, ele é puro. Ele acha que todo mundo merece o respeito dele. Vou falar para ele não falar com você (risos).

Mas quanto a política tem atrapalhado o futebol?
Não tenho nada com a situação política. O futebol é uma ilha blindada, lá ninguém mexe.

A interferência é zero dessa situação?
Zero. Zero. Zero. Se um dia interferir, eu vou embora. Isso nunca vai atrapalhar.

Você é a favor de ter um CEO?
Não sei. Quando o São Paulo resolver ter um, eu vou pensar sobre isso.

É verdade que você se incomodou com a ida do CEO e outras pessoas no CT?
Não é verdade. Eu já disse isso para você. Não me incomodou. Eles são funcionários do clube, nem soube na época que eles estavam lá. Eles são empregados do clube e podem ir a qualquer hora.

A saída do Gustavo, o que você achou?
A saída dele me machucou muito. Eu segurei o quanto foi possível. Mas não deu mais. Gosto muito dele. Ele estava incomodado com a situação política. Continua sendo meu amigo. Aprendi muito com ele.

Não falta alguém que faça o trabalho dele?
Eu estou fazendo e não quero ninguém no lugar dele. Ele foi tão importante que não vejo ninguém em condição para entrar no lugar dele.

Você não acha que é recorrente um trabalho de fritura no São Paulo? Foi com o Muricy, com o Gustavo, agora com o CEO…
Se existe fritura, é comigo. Mas ninguém vai conseguir me fritar. Pode querer, mas não vai conseguir.

Qual a sua situação no cargo?
Eu continuo mandando no futebol. O dia que eu não mandar, estou fora. Eu mando no futebol e ninguém vai mudar isso.

Mas as derrotas não te balançam?
Eu tenho metas para cumprir. Se eu não conseguir, tenho que sair. Eles devem me tirar. Está realmente dificil de cumprir. Se eu não cumprir, eu saio.

Quais são suas metas?
São várias, tem de pontuação do time, tem de trabalho com a base, um monte de coisas. Fui eu que coloquei isso.

O que existe de ruim com você e a torcida?
A torcida se incomodou comigo porque eu não contratei o Lugano, segundo porque eu mudei um treino de lugar em um momento de preocupação com a situação do time e o terceiro foi a polêmica com a ocupação do estádio. Eles me xingam, falam um monte. Eu fico triste com isso. Muito triste. Mas o que fazer? Estou procurando resultados. É o único jeito.

Já pensou em sair por isso?
Não. Só sairia se tivesse restrição com o técnico ou com a diretoria. Não é o caso. Mas eu fico realmente muito triste.

Qual é o time titular do São Paulo?
O time titular é aquele que é o necessário para ganhar o jogo.

Muda alguma coisa se perder na quarta?
Não. Não muda nada. Vai ser ruim, mas não muda nada. O Osorio é um homem de palavra. Não vai sair.

Quantos jogadores têm de chegar no elenco?
O Osorio não quer trabalhar com mais de 25 jogadores. Hoje tem 26, ainda tem mais do que ele quer. Mas as peças que saíram não eram as que ele queria que saíssem.

Mas e de reforços, quantos você imagina?
Não sei. Vai depender dele. Ele vai fazer essa avaliação e vamos atrás disso. Estamos fazendo esse planejamento. Estamos mapeando jogadores.

Folha de São Paulo