Não vivêssemos no Brasil, seria impensável, porém, com poucas rodadas à frente do São Paulo, ventilam notícias de que aumenta a pressão sobre o técnico Osorio. Pressão a ponto de que alguns conselheiros já estabelecem prazos para o corte de sua cabeça pensante.

O futebol brasileiro, que vive uma crise sistêmica, envolvendo todos os setores, tem como um de seus maiores adversários o imediatismo que, somado à falta de planejamento, formam uma dupla de ataque infernal para a existência dos clubes.

Osorio chegou ao São Paulo ovacionado (por dirigentes, pela torcida e grande parte da imprensa esportiva) como uma cabeça pensante, um diferenciado, estudioso do futebol, capaz de incorporar novas tendências ao nosso arrastado, previsível e entediante futebol, salvo raras exceções. No entanto, parece que a nossa cultura, que se institui com a imagem de um técnico gritando à beira do campo, mesmo que os jogadores não o escutem, ainda representa o modelo que convencionamos para o comando.

Mesmo em terra de pranchetas e geraldinos, fazer anotações durante a partida, alterar os esquemas táticos nos treinos ou mesmo com a bola rolando, mudar jogadores de posição, entre outras possibilidades que as variações do futebol permitem, infelizmente, soam como invencionices aos mais dogmáticos e contraditórios, que ao mesmo tempo esbravejam por evolução, porém, de fato, incomodam-se diante de qualquer transformação.

Nesses tempos em que a palavra com que mais se tabela é REFORMULAÇÃO no futebol brasileiro, Osorio pode ser outra vítima desse nosso desejo de “reformulação sem que se altere nada”.

Imerso na cultura do imediatismo, o colombiano pode estar no mesmo caminho do argentino Gareca, no Palmeiras, outro bom técnico, que mal chegou e foi demitido, depois esfregando em nossas convicções tacanhas um terceiro lugar, com méritos, no comando da Seleção Peruana, na Copa América do Chile.

Em nada citado acima retira os méritos dos treinadores brasileiros, mas o que está em jogo é a nossa capacidade de tolerância com o que é novo, nossa receptividade diante do que é diferente e que precisa de tempo para poder acontecer. A realidade é que Osorio, em tão pouco tempo, nem pode ser avaliado – para o bem ou para o mal – em seu trabalho no SPFC.

São muitas as variáveis no futebol, assim como na vida, por isso o tempo não é garantia para um bom trabalho, porém, o que não se pode ser mais perpetuado entre os clubes é a demissão de um técnico com apenas 5 ou 6 rodadas, seja ele brasileiro, ou estrangeiro.  Aos estrangeiros há que se dar um tempo a mais. E essa tolerância deve vir da consciência de que, apesar de preparado, foi contratado para ser inserido num sistema de futebol completamente diferente.

A demissão de técnicos com poucas rodadas é uma das maiores evidências que o planejamento foi falho. Aidar e Ataíde precisam respaldar Osorio.

As experiências estrangeiras no futebol brasileiro colocam-nos sempre interrogações à mente: – Estamos mesmos preparados para acolher modos diferentes de enxergar o futebol? Pergunta esta que também pode ser estendida à imprensa esportiva…

***RICARDO FLAITT (Alemão)