Quem gosta de futebol deveria acompanhar as entrevistas coletivas do colombiano Juan Carlos Osorio, técnico do São Paulo. A sugestão, por óbvio, cabe àqueles que julgam não ter motivos para tanto, por torcer para outros times. Mas gostar de futebol supõe observar o jogo e seus personagens de maneira mais ampla, e neste ponto o conteúdo e a forma das aparições de Osorio são material valioso.

No ambiente do futebol atual, as entrevistas coletivas cada vez mais se aproximam de compromissos comerciais obrigatórios. Os clubes as enxergam como oportunidades para garantir exposição às marcas que a eles se associam, os meios de comunicação precisam delas para alimentar seus espaços dedicados ao noticiário. Há exceções, claro. Espremido entre esses dois olhares está o que, em tese, deveria unir ambos os lados: a comunicação com o público.

Há treinadores que se comportam como se estivessem em um jogo. O adversário está presente na sala e é preciso sair vencedor do confronto, nem que seja necessário estabelecer um clima bélico pelo microfone ou simplesmente desconectar perguntas e respostas. Entendem que essa postura é resultado de habilidades adquiridas em treinamentos para falar em público, quando na verdade é uma prova de que nada aprenderam. Há também os que reduzem a interação a trocas de palavras sobre o nada, um lamentável desperdício de tempo e energia.

Osorio é uma refrescante renovação neste cenário quase sempre pasteurizado, não apenas por ser diferente em origem, linguagem e conceitos. Seu comportamento é próprio de quem respeita a ocasião como uma plataforma para se apresentar e se fazer conhecer, o que é diferente de agradar a quem quer que seja, perto dele ou longe. Nota-se o esforço para se expressar de modo a não deixar dúvidas, com o uso de um espanhol simples e de termos em português; a disposição para satisfazer os diversos questionamentos, sem escapismos ou busca por tangentes; e a intenção, sem tom professoral, de transmitir conhecimento futebolístico.

Parte importante dessa relação é responsabilidade do recipiente, e a compreensão depende de interesse e capacidade. Osorio tem se mantido cordial e didático em um momento que não lhe é agradável, tamanha a distância entre o que lhe foi oferecido e a realidade que enfrenta no São Paulo. Para quem presta atenção, é uma prova de valorização do emprego que ele aceitou, mais importante até do que os elogios ao clube e as demonstrações de satisfação que marcaram suas declarações no dia em que foi apresentado. Torcedores com um mínimo de consciência deveriam aplaudir a conduta do profissional que os representa. Porque essa é uma das maiores carências dos nossos clubes: gente que esteja à altura do distintivo.

É evidente o benefício do futebol brasileiro com técnicos estrangeiros, especialmente os que trazem ao país métodos e conceitos diferentes, que possam interferir não só no jogo que se pratica aqui, mas também nas posturas estabelecidas. A cada vez que aparece para falar, Juan Carlos Osorio honra a indústria do futebol no Brasil. Deveria ser recíproco.

André Kfouri