Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, disse após a derrota da última quarta-feira, contra o Atlético-PR, que “não está pensando em contratações” porque “jogadores estão sendo promovidos” e “este é o projeto do São Paulo”. Após perder Paulo Miranda, Denilson, Souza e Rodrigo Caio (que até já voltou), e estar desfalcado de uma série de outras peças, o clube precisou apelar (sim, apelar) para suas categorias de base, relacionando Matheus Reis e Lyanco para o compromisso fora de casa.

Projeto? Que projeto é esse que promove estreia de revelaçõies da base no meio de um Campeonato Brasileiro, ainda mais em uma partida fora de casa? Isso não é projeto, é desespero. Ou oportunismo. Lá na frente, se não der certo, é o cenário ideal para justificar que “a geração não era boa”. Mas o próprio Aidar, na mesma entrevista na Arena da Baixada, já deixou o recado: “Se você não investir na base é melhor fechar Cotia e começar a contratar”. É a segunda etapa do desespero.

Poderia ser considerado “projeto” se esses garotos que agora têm chances houvessem sido ao menos inscritos no Paulistão. Como foram Antonio Carlos e Cafu, por exemplo. Nenhum possível suplente de Denilson e Souza teve oportunidades no Estadual, torneio de ritmo mais leve, contra adversários de menor expressão e mais facilidade de transição da base para o profissional. Hoje, “perdemos” muitos talentos por conta justamente dessa etapa de transição.

Há um exemplo recente e bem parecido de desperdício de potencial de uma geração em razão de uma transição mal feita: o Santos de 2013, que perdeu jogadores como Rafael, Felipe Anderson e Neymar, dispensou o técnico Muricy Ramalho e jogou aos leões uma boa quantidade de garotos para salvar o time no Brasileirão. Entre os que tiveram chances, quase nenhum conseguiu se firmar. Léo Cittadini, Neilton, Giva, Alan Santos, Pedro Castro, Leandrinho… Entre todos, só Gabigol e Gustavo Henrique marcaram espaço no time profissional.

Em 2013, com muito dinheiro e poucas ideias, o Santos não soube o que fazer e perdeu uma geração de sucesso e qualidade na base. Em 2015, com pouco dinheiro e ainda menos ideias, o São Paulo faz uso do discurso fácil e oportunista para se eximir de responsabilidade se não der certo. Que a incapacidade de planejamento do clube não atrapalhe a carreira dos jovens tricolores, de inegável capacidade técnica.

Gabriel Carneiro, especialista em base