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Caro Professor Osorio,
Já deixei claro tudo o que penso sobre sua vinda para treinar o SPFC numa coluna anterior, cujo link segue abaixo:
Mas, agora peço licença para tomar novamente o seu tempo para lembrar um fato do passado que talvez o sr. não conheça, o que é perfeitamente natural. Certamente o sr. conhece o técnico Telê Santana e sua história no futebol, mas talvez não conheça todos os meandros de sua passagem pelo SPFC.
O ano era 1990. Após péssima campanha no Campeonato Paulista daquele ano, o SPFC anunciava um novo treinador, Telê Santana, que chegava ao clube num momento financeiro difícil. Não sei dizer se aquele momento era tão difícil financeiramente como hoje, até porque não sei dos números e os tempos eram outros.
Mas Telê chegou com a missão de reerguer o clube para o Campeonato Brasileiro daquele ano. Era um período de vacas magras. A fórmula de disputa do campeonato era diferente e fizemos um 1º turno sofrível, onde nada menos do que 12 clubes ficaram na nossa frente. Lembro-me até hoje de uma edição da revista Placar daquela época em que era feito um balanço do 1º turno c/ previsões para o 2º turno. Ao falar do SPFC, a revista foi taxativa: “pode até melhorar no 2º turno, por estar em ascensão, mas uma coisa é certa: decidir o título, o São Paulo não vai.”
Pois bem, no 2º turno o time realmente melhorou. E muito! Melhorou a ponto de contrariar a previsão da revista e classificou-se às quartas-de-final, depois às semifinais e, por fim, decidiu o campeonato contra o rival preto e branco. Perdemos o título, mas voltamos a ter um time forte.
Veio o ano de 1991 e a inversão de calendário. O Campeonato Brasileiro do ano anterior havia sido disputado no 2º semestre, e agora, na nova temporada, passava para o 1º semestre.
O time alternava bons e maus resultados no início (tal como observado pelo sr., nosso campeonato é muito parelho) e, na 7ª rodada, após uma vitória sobre o Bahia por 1 a 0 no Morumbi, o sr. Telê Santana solicitou uma reunião com a direção do clube. Nessa reunião Telê queixou-se de um grito da torcida organizada (aquela mesma!), que apesar da vitória mostrava-se descontente com o futebol apresentado. O motivo de queixa do treinador era um coro de baixo calão: “Ê, ê, ê, p… na b… do Telê.” Telê queixou-se que a torcida poderia criticá-lo o quanto quisesse, mas com educação, e que se fosse para ouvir aquilo, ele preferia ir embora, pai de família que era. O mínimo que deveria haver era respeito.
Felizmente a direção agiu com sabedoria e convocou os chefes de torcida e a coisa encontrou bom termo. O trabalho de Telê prosseguiu e o SPFC obteve o título brasileiro daquele ano, abrindo as portas para a maior época de conquistas da história do clube.
Fico aqui me perguntando se os autores daquele corinho de mau gosto referido anteriormente têm consciência de que poderiam ter feito o mestre deixar o clube ainda no início de um trabalho vitorioso. Será que eles estão entre os que hoje gritam “Olê, olê, olê… Telê… Telê…”
Contei essa história, sr. Osorio, porque temo muito pelo que algumas pessoas estão fazendo com o SPFC.
Hoje, a situação do clube se assemelha àquela do início dos anos 1990. Entretanto, o coro ofensivo não vem das arquibancadas, mas de dentro do clube, daquelas pessoas que deveriam dar respaldo ao seu trabalho. Respaldo esse que não se limita a “blindar” o grupo.
O coro ofensivo de hoje vem dos valores em atraso, das histórias mal contadas, das promessas descumpridas e das expectativas exageradas. Se a situação fosse colocada na mesa pela direção do SPFC desde o início, ainda na primeira reunião na Colômbia, sr. Osorio, ainda assim creio que o sr. se sentiria atraído pelo desafio. O problema aqui reside no fato de que muita coisa o sr. só soube depois, e da pior forma possível.
De minha parte, sigo confiando em seu trabalho. Maus resultados? Qual time está livre deles? Até mesmo Telê Santana teve suas turbulências no início de trabalho no SPFC, amargando um dolorido vice-campeonato nacional diante de um rival. Foi bancado pelo clube no ano seguinte. Perdeu de 4 a 0 para o mesmo rival verde e branco do último domingo antes de iniciar a campanha vitoriosa na Libertadores de 1992. Escalou o time reserva na estreia dessa mesma Libertadores e tomou de 3 a 0 do Criciúma. Teve sequência e deu a volta por cima.
Reporto-me à frase final de minha primeira carta:
– Estaríamos nós, do SPFC (*), à altura de ter como treinador este profissional íntegro que é o Professor Juan Carlos Osorio?
A bola, agora, está com Aidar, com a torcida e com os jogadores.
LUÍS ANTÔNIO