É consenso que sempre que um time perde pontos em casa, deverá tentar recuperá-los fora.

Mas fica a pergunta: apenas a assertiva de recuperar fora os pontos perdidos em casa garante um título?

Não! Time que quer ser campeão não pode apenas se concentrar em ser forte em casa, embora esse fator seja primordial. Tem também que ser forte fora de casa. Mas, qual a matemática desse negócio?

Há várias formas de analisar um campeonato e sua tabela de classificação. Vou aqui colocar uma delas.

Parte 1: Quantos pontos são necessários para garantir um título?

Desde que a Série A do Brasileiro passou a ser disputada com 20 clubes, em 2006 já se vão nove edições, de 2006 a 2014. Desses campeonatos, o ano em que o campeão somou mais pontos foi 2014 (Cruzeiro, 80 pontos) e o ano em que o campeão teve o menor número de pontos foi 2009 (Flamengo, 67 pontos). Os anos anteriores não entram nesse estudo, pois tinham maior número de clubes, o que, consequentemente, alteraria as premissas.

Se tivéssemos uma tradição de pontos corridos com 20 clubes consolidada há mais tempo, poderíamos ter uma amostra maior. Mas como não temos, vamos analisar esses 9 campeonatos, apenas.

Numa primeira análise, poderíamos inferir que os 80 pontos do Cruzeiro garantiriam o título. Mas a boa notícia é que não seriam necessários tantos pontos.

Uma afirmação óbvia é que para ser campeão basta ter um ponto a mais do que o vice. E os anos em que os vices tiveram mais pontos foram 2008 e 2012, com 72 pontos (Grêmio e Atlético-MG, respectivamente), o que nos leva à constatação que o clube que chegasse ao mínimo de 73 pontos seria campeão em qualquer uma das nove edições realizadas.

Parte 2: O caminho para o título

Utilizaremos um modelo de fórmula para reproduzir uma realidade ideal. Nesse mundo ideal, bastaria um clube fazer todos os pontos em casa e beliscar alguns pontinhos fora para garantir a taça. Nesse modelo seriam 19 vitórias em casa (57 pontos) e mais 16 pontos fora de casa para chegar aos 73 pontos (57 + 16 = 73).

Mas todos sabemos que é praticamente impossível um time cumprir esse modelo pelo fato de que nem os maiores esquadrões da história do futebol mundial conseguem vencer todos os jogos em casa, o que nos leva à conclusão de que os pontos obtidos fora de casa terão que ser mais do que os 16 inicialmente projetados, de forma a recuperar os pontos perdidos em casa.

Isso nos leva à seguinte fórmula:

(57 – PPC) + (16 + PPC) = 73

Onde: PPC = pontos perdidos em casa, ou seja, para cada ponto perdido em casa, esse ponto deverá ser acrescentado aos 16 necessários fora de casa.

Adaptando essa fórmula, chegamos à fórmula abaixo:

PNF = 73 – 57 + PPC – PGF

Onde:

PNF = Pontos necessários fora

PPC = Pontos perdidos em casa

PGF = Pontos ganhos fora

A utilidade dessa segunda fórmula reside no fato de que um time estará mais próximo de ser campeão à medida que necessite de menor número de pontos fora de casa.

Daí algumas conclusões:

  • Quanto mais PNF se aproximar de zero, mais próximo o clube estará da meta de 73 pontos, desde que faça a lição de casa, que é vencer em seu mando;
  • Quanto mais PNF aumentar e se distanciar de zero, mais longe aquele clube estará do título, pois significa que estará perdendo muitos pontos em casa;
  • PNF pode ficar negativo e colocar o clube ainda mais perto da taça, pois significará que, além de perder poucos pontos em casa, já terá cumprido a meta inicial de pontos fora, acumulando, inclusive, alguma gordura para aquelas famigeradas zebras dentro de casa.

Montando uma tabela crescente de PNF, observamos que durante o campeonato essa tabela difere um pouco em relação à tabela convencional de classificação geral, pois a tabela de PNF corrige eventuais distorções provocadas pela vantagem momentânea que algumas equipes levam por ter jogado mais vezes em casa do que outras.

Assim, a tabela de PNF nos dá também uma noção maior de quais equipes deveremos “secar” para que o nosso Tricolor fique mais perto do título.

Até a 8ª rodada (não incluído ainda o jogo Flu x Ponte), a tabela está assim:

 

Classificação PNF PPC PGF
1 PONTE PRETA 12 2 6
2 CORINTHIANS 12 3 7
3 SPORT 13 0 3
4 SÃO PAULO 14 2 4
5 ATLÉTICO-MG 14 5 7
6 ATLÉTICO-PR 15 2 3
7 INTERNACIONAL 15 2 3
8 CHAPECOENSE 16 3 3
9 GOIÁS 16 5 5
10 AVAÍ 16 7 7
11 GRÊMIO 17 2 1
12 FLUMINENSE 17 4 3
13 SANTOS 18 4 2
14 CRUZEIRO 18 8 6
15 FIGUEIRENSE 19 4 1
16 PALMEIRAS 19 7 4
17 CORITIBA 21 6 1
18 FLAMENGO 21 8 3
19 JOINVILLE 24 8 0
20 VASCO 25 10 1

Luís Antonio