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“Rafael Toloi tenta tirar da área. André Lima e goooll!”

Dei um soco na escrivaninha onde estava assistindo ao jogo pelo computador. Não havia palavrão que decifrava o que senti. Frustração e raiva, muita raiva. Uma raiva que só senti esse ano na eliminação pelo Cruzeiro. Mas diferente daquela fatídica noite, não estava com ódio do time e nem sentia que se visse alguns dos jogadores do tricolor naquele instante poderia matá-los.

Foi pior. Senti raiva de algo que não se materializa, senti ódio do acaso. Senti raiva da bola que, malandramente foi parar nos pés do maldito André Lima que fez um gol que no placar dava um empate e no coração dos torcedores uma derrota. Uma bola que nos puniu pela falta de mira, pela falta de acerto no gol. Uma bola que não retribuiu nosso volume de jogo, nossa vontade de ganhar.

Mas vamos deixar todo este chororô de lado e analisar a equipe, sua postura em campo e, neste aspecto, diferente do resultado, o São Paulo foi bem, muito bem. O São Paulo foi São Paulo. O time apresentou uma vontade de ganhar que há 3 meses era impensável que esses jogadores fossem capazes. Até mesmo contra a Chapecoense, num jogo horroroso como aquele, o time marcava forte, pegava. Nosso sufoco na Arena Condá se deu mais pelas faltas caseiras do juiz, do que por bundamolice do time. Uma bundamolice apresentada no jogo contra o Santos na semifinal do Paulistinha e no primeiro Majestoso da Libertadores.

Em outro Megafone do torcedor que escrevi após a derrota contra o San Lorenzo, tinha como título a palavra “Asqueroso”. Desde o 3×2 contra o Santos este adjetivo não se enquadra mais no nosso time, no nosso treinador. Osorio deu a equipe uma característica que o Muricy não conseguia dar, uma alma e um padrão tático. As jogadas ofensivas do São Paulo hoje não são mero brilhantismo individual de figuras como Michel Bastos, Pato e Luis Fabiano (o pé frio). Há triangulações e jogadas desperdiçadas no ataque recebem cobranças dos jogadores. Com o Muricy, era um dane-se geral.

No jogo de domingo, Edson Silva entrou e o time caiu de produção. Tomou sufoco nos primeiros 5 minutos, o tricolor não conseguiu assimilar direito a mudança tática proposta pelo técnico. Acontece que estes jogadores se acostumaram desde o ano passado a rachões e lá não há tática nenhuma. Na coletiva o colombiano explicou essa mudança de forma calma e tranqüila. Explicou que após a entrada do André Lima queria igualar com o Avaí na bola parada e afirmou que o time treinou com esse esquema. Na hora imaginei o Muricy, pessoa pela qual considero muito pela sua história com o São Paulo, mas que tenho certeza que se perguntado a mesma coisa, falaria irritado essa frase:

– Se o juiz tivesse validado o gol do Pato vocês não perguntariam isso. Pow, as vezes as pessoas não entendem como é lidar com o futebol, é ó resultado. Se fosse vitória estava tudo bem. Mas como aconteceu um empate acontece essa pressão. Nunca vi isso, estamos nos pressionando com 1 ponto atrás do líder. Pow, precisamos trabalhar e vamos trabalhar mais. O time não está pronto ainda.

Além destas situações, os jogadores vêm ao longo da semana elogiando os treinos do Osorio. No paulistinha, acho que no jogo contra o Time da Mídia no Morumbi, o Souza tinha reclamado de que faltava intensidade nos treinos. Detalhes como estes me fazem acreditar que a contratação de Osorio foi algo acertado, mesmo com esse empate na última rodada, que fez muitos torcedores na internet xingarem o treinador e o elenco.

Acredito que o time não será campeão este ano, nem do Brasileirão nem da Copa do Brasil. Nosso ano foi muito irregular, mudamos de técnico, e foi mudança mesmo. Da dobradinha Muricy/Milton Cruz para o Osorio há uma diferença abissal. Diferença esta admitida pelo próprio Milton no programa Mesa Redonda deste domingo. Para o eterno interino o técnico colombiano trabalha muito a parte tática, algo que não se fazia antes. Os jogadores vão demorar a assimilar tudo isso, mesmo com estas boas atuações é muito provável que passemos por momentos difíceis, onde a vitória não irá sair.

Que a diretoria não se iluda com este bom começo de campeonato e ache que o título brasileiro e da Copa do Brasil se tornou obrigação. Do jeito que foi nosso ano, um título vai ser um aborto, uma aberração. Este momento difícil é muito provável que chegue agora, já que temos dois jogos fora e sendo um deles clássico, e a SEP mostrou neste ano, pelo menos em clássico, que não é mais a promoção do campeonato (jogue contra e ganhe 3 pontos).

Nós da torcida precisamos abraçar o time, e a diretoria tem que dar tempo ao Osorio. Temos que lembrar que Mestre Telê em seu primeiro ano no São Paulo perdeu um título brasileiro contra o Time da Mídia.

Rafael Costa Sanches