Por JUVENAL JUVÊNCIO e FRANCISCO MANSSUR

A Fifa, com seus dogmas e preceitos irrespondíveis, caiu como um castelo de cartas. O gáudio dos pretensos vencedores durou pouco

“A justiça é filha do tempo. O tempo é o senhor da razão. O tempo dirá. E nós também.”

Assim encerrava sua manifestação oficial o então presidente do São Paulo Futebol Clube, coautor deste artigo, em junho de 2010, em reação à decisão da CBF de excluir o estádio do Morumbi –indicado pelo governo do Estado e pela prefeitura– como sede paulista da Copa do Mundo de 2014.

E o tempo cumpriu magistralmente o seu papel. Vimos a vontade e os interesses do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, apoiado por seus comparsas da Fifa, serem impostos sobre a determinação dos governantes eleitos por nós, cidadãos brasileiros.

Alardeavam-se os supostos benefícios da realização da Copa no Brasil e do jogo de abertura em São Paulo. (Quais foram esses benefícios mesmo?) Justificava-se fazer as vontades de Ricardos Teixeiras e Jérômes Valckes e acatar, bovinamente, suas ordens e determinações, por mais insólitas e divorciadas do interesse público que fossem.

E lá seguiu o tempo em sua inevitável marcha.

Já durante a Copa das Confederações, em 2013, veio o primeiro susto. O povo, extasiado pela alegria da competição, revoltou-se, foi às ruas, exigiu respeito, moralidade, mostrou-se disposto a estragar a festa. Foram dias de um êxtase cívico emocionante. Infelizmente, esse momento foi curto.

Passado o medo inicial, dirigentes daqui e do exterior seguiram levando adiante seu plano indecoroso, sob a complacência de nossos governantes e de nossa sociedade, que fechou os olhos para os malfeitos e esqueceu-se dos custos e danos que emergiriam quando o evento terminasse e a Fifa nada mais tivesse a sugar das nossas riquezas.

O tempo, porém, foi implacável. E, com ele, veio a justiça.

Nas últimas semanas, autoridades do Brasil e do exterior tomaram as medidas necessárias para aplacar a sanha daqueles que se entendiam inatingíveis.

Ricardo Teixeira foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de ter cometido crimes relacionados à organização da Copa. Custa crer que transitou por sua conta bancária mais de R$ 400 milhões quando foi chefe do Comitê Organizador.

Já a Fifa, com seus dogmas e preceitos irrespondíveis, caiu como um castelo de cartas. Primeiro, alguns dos seus mais graduados dirigentes foram detidos. Depois, na renúncia do seu presidente, Joseph Blatter, que, ao deixar o cargo, deveria servir de exemplo ao arrogante Jérôme Valcke, investigado pela Justiça dos EUA pelo pagamento de propinas. (Não foi esse mesmo Valcke que recebeu tratamento de chefe de Estado em nossas terras?)

Fica, por fim, a nossa mensagem aos são-paulinos, especialmente àqueles que se incomodaram com a exclusão do estádio do Morumbi da Copa do Mundo de 2014.

Podemos saborear o gosto doce que o momento nos proporciona, acrescido da satisfação que vem com a certeza de que o São Paulo Futebol Clube, como sempre, honrou sua tradição de seriedade e respeito aos valores éticos e morais.

O São Paulo não se fez desmerecer pelos seus detratores porque é infinitamente maior do que todos eles. Mesmo que tenha passado a impressão de ter sido derrotado, o gáudio dos pretensos vencedores durou pouco. Isso porque o tempo é o senhor da razão, a justiça é filha do tempo, e o tempo disse a que veio.

JUVENAL JUVÊNCIO é conselheiro vitalício do São Paulo FC, clube que presidiu entre 1988 e 1990 e de 2006 a 2014

JOSÉ FRANCISCO CIMINO MANSSUR é conselheiro do São Paulo FC