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Ao Deus dará.

Eu fico longe. Eu não vejo. E ele apanha mais uma vez.

Ele tem apanhado.

E é surra de dentro pra fora, e depois de fora pra dentro. Surra na alma, surra no corpo.

A alma amada. Os idiotas a amam porque gritam gol. E também porque xingam.

Só não é idiota quem se sacrificou tanto para vestir o manto sagrado, deixando de ganhar milhares de moedas a mais. Por amor…

Por amor, tempo gasto. A gente é que tem sorte. Que sorte não precisar de remédios por razões assim. Porque a energia elétrica cara é dedicada ao televisor que transmite aquela parte de um corpo sem alma. Sem dignidade.

O tempo gasto em pensamento, o tempo que também é dinheiro, o tempo dilacerado cruelmente nas entradas do gigantesco e histórico monumento de Toledo. Tudo para ver parte viciada em tanto faz.

Só parte.

A parte exposta, a carne sem pele. Parte o coração. Eu sinto, mesmo longe. E vejo sorrisos e abraços.

Abraços fraternos após mais um capítulo sem vitória alguma. Sem empate, sem futebol. Meu adversário, meu amigo, sem culpa por ter nos vencido.

Os viciados fumam tanto faz. Cheiram tanto faz. Injetaram tanto tanto faz, que nem veias tem mais.

Nada pulsa.

Sem veias, sem nervos. Manso. Sem sangue.

Sem o vermelho, fica preto e branco. E isso não se reconhece.

Está tudo despedaçado.

Uma parte não tem dignidade, a outra parte é idiota… tem parte que nem sabe que é parte.

 

Eu grito, mas eu xingo.

Eu grito gol à toa. Ao Deus dará.

Antes, gastava neurônios. Num tentar entender os desentendidos, os que não querem entender. Os que não se fazem lá. Que não deveriam lá estar, porque mexem com o que tem aqui.

Aqui, dentro do peito.

Até mesmo quando fazem gols.

Mas, ora, não fazem por nós.

Porque são tão eles… que nada se tornam.

E, desentendidos, passam despercebidos. Sem nomes, nem estátuas. Fotos de ‘em pé e agachados’ sem personalidades reconhecidas. Todos têm cara de Denílson.

Tem horas que penso que Dagoberto ainda está lá. Fernandinho…

Não é mais o corpo. Talvez nunca tenha sido. A alma está doente. A alma está esquecida. A alma ali não existe.

Esconderam-na.

Espero que não voltem a procurá-la dentro de uma taça de bolinhas.

 

Ronnie Mancuzo – Sub