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O campeonato paulista de 2004 foi disputado por 21 equipes que foram divididas em dois grupos, um com 10 e outro com 11 participantes.

O regulamento previa a classificação dos 4 melhores de cada grupo para a fase de quartas de finais, a ser disputada pela formula de mata mata até as finais.

Tivemos uma campanha irretocável na primeira fase.

Após estrear com um empate sem gols frente a Ponte Preta, tivemos uma sequência de oito vitórias consecutivas, e acabamos na liderança absoluta de nosso grupo.

Nossa classificação para a fase seguinte foi conquistada com algumas rodadas de antecedência.

Desde nossa fundação em 1930, sempre foi natural para o clube, através de seus atletas, representar da melhor forma suas cores, que também são as da nossa cidade e de nosso estado.

Afinal, o preto, vermelho e branco representam muito mais que simplesmente uma união de cores.

Em 14 de março de 2004, já classificados e com 9 pontos a frente do segundo colocado, entramos em campo para enfrentar a equipe do Juventus.

A equipe grená estava na ultima colocação com apenas 6 pontos conquistados, e juntamente com o Atlético Sorocaba, 9 pontos, e o Corinthians, com 8 pontos, buscava escapar do rebaixamento.

A missão grená era ingrata, precisava vencer e torcer por derrotas de seus adversários diretos.

O jogo realizado no estádio Anacleto Campanella, em São Caetano do Sul, possivelmente definiria a equipe a ser rebaixada.

Pouco distante dali, o Corinthians enfrentava a Portuguesa Santista, que ainda buscava a sua classificação, no estádio do Pacaembu.

Era grande o destaque dado pela imprensa em geral quanto a possibilidade do Tricolor facilitar as coisas para o Juventus, tendo em vista prejudicar a equipe alvinegra.

Sem dúvida alguma, algo que só poderia ser pensado apenas por quem estivesse apto a fazer o mesmo, caso estivesse nesta situação.

Em campo, o que se viu foi uma equipe que partiu para o ataque e que praticamente liquidou a partida ainda no primeiro tempo, com 2 gols de Grafite, ambos de cabeça.

Enquanto isso, no Pacaembu, a partida continuava sem gols.

Aos 12 minutos do segundo tempo, o Juventus diminuiu o placar, 2 a 1.

Já no Pacaembu, aos 30 minutos do segundo tempo, a Portuguesa Santista abriu o placar através de um gol de Reinaldo.

Em Santa Barbara D’ Oeste, o Atlético de Sorocaba perdia por 2 a 1 para o União Agrícola Barbarense.

A combinação de resultados rebaixava a equipe do Juventus.

Durante 15 minutos os grenás ficaram na dependência de 2 gols para escapar do rebaixamento, em detrimento do Corinthians.

No Pacaembu, os alvinegros não reagiam, embora precisassem de apenas 1 gols para escapar de vez do rebaixamento.

Restou aos 17 mil torcedores alvinegros presentes no Pacaembu, passarem a torcer para que o tricolor honrasse suas cores, e não desse qualquer chance aos Juventus.

Se isto fosse obvio para eles, talvez soubessem que não seria necessário torcer para que uma equipe honre sua própria camisa.

Mas isso, ao que parecia, não era tão evidente assim para eles, sua história pode comprovar.

A aflição era grande entre eles.

Cá entre nós, confesso que não imagino como deve ser a aflição de torcedores de equipes que lutam para fugir do rebaixamento. NUNCA vivi isso.

A maioria dos alvinegros permaneceu no estádio após o termino do jogo do Pacaembu, na espera que o Tricolor, também deles naquele dia, confirmasse a vitória.

Quando o placar confirmou nossa vitória, eles ergueram as mãos para o céu, para agradecer seu novo santo devoto, São Paulo.

Com o passar dos anos, coube a muitos afirmarem que Grafite, o salvador dos alvinegros naquele dia, tivesse passado a ser hostilizado por nossos torcedores por conta dos gols marcados naquele dia. Que aqueles gols teriam, até mesmo, selado a saída do centroavante do Morumbi.

Puras lendas urbanas, Grafite foi um dos grandes destaques de nossa equipe na Taça Libertadores de 2004 e 2005, e foi tratado como ídolo durante sua passagem no Morumbi, onde também foi campeão mundial (só não foi titular na final por estar se recuperando de contusão).

A verdade dos fatos é que naquele dia, alguém ficou de favor.

Já em 2007, nada pudemos fazer para salvá-los novamente, a queda para a série B do Brasileiro foi inevitável.