O São Paulo vaga pela praça atrás de um técnico qualquer. Sim, porque a exemplo da imensa maioria dos nossos clubes não há um perfil traçado de antemão, alguém cujo trabalho e concepção de jogo se ajuste a um eventual padrão predeterminado. É qualquer coisa, desde que se ajuste aos limites salariais impostos pelas circunstâncias e que tenha visibilidade suficiente para satisfazer os anseios do torcedor comum.

Sou de um tempo em que os clubes tinham caráter, no sentido de uma marca que o diferenciava dos demais.

O Corinthians era um time de garra; o Palmeiras, era pura griffe; e o São Paulo se caracterizava por ter times que jogavam um futebol clássico, para ficarmos apenas com o Trio de Ferro.

Há muitos anos esses timbres esmaeceram e todos se plastificaram, times e torcidas.

Inimaginável, por exemplo, ver-se um Vicente Feola, gordo, manso, ar sonolento, mas vivo como poucos, sentado no banco do São Paulo, hoje em dia. Logo ele, recordista dos técnicos que dirigiram esse time ao longo da história. E Telê Santana, mastigando o indefectível palito de fósforo enquanto apreciava seu Tricolor trocando bolas no meio de campo?

Não. A turma quer aquele sujeito performático à beira do campo, que, quando a câmera o foca, passa a gritar ao léu como se um meteoro estivesse a pique de desabar sobre a Terra.

Isso vale para o São Paulo como para os demais times brasileiros.

Mas, algumas características o São Paulo mantém. Por exemplo: a paixão de sua torcida (e aqui incluo a diretoria, também um bando de torcedores) por este ou aquele treinador. É viva ainda a lembrança dos técnicos que foram imolados em memória a Telê – o próprio Muricy, em início de carreira, Carlos Alberto Parreira, Levir Culpi, Oswaldo Oliveira, Cuca, sei lá quantos mais, até o reencontro com Muricy.

Bem, e agora? Pelo visto, vai recomeçar o desfile, a partir do eterno interino Milton Cruz.

Pelo que se diz, a bola está quicando entre Alejandro Sabella, vice-campeão do mundo pela Argentina, e Abel Braga. Sem falar em Luxa, que já foi persona non grata no Morumbi e que agora ganha a preferência de muitos, tanto nos bastidores quanto na galera.

Mas, a eventual vinda de Luxemburgo implicaria num investimento (multa e contrato) muito acima das possibilidades atuais do Tricolor.

Cá entre nós, acho que o futebol brasileiro valoriza demais a função de treinador. Nem tanto pelos limites de suas capacidades, e muito mais porque nosso calendário é tão estúpido que o trabalho desses profissionais acaba se reduzindo a muito menos do que as exigências do jogo em si. Resumindo: se eles não têm tempo pra treinar, o que lhes cabe afinal?

É a tal capacidade de unir o grupo e extrair da cabecinha de cada jogador o máximo que ela pode dar.

Então, chamem o Paulo Gaudêncio ou o Gikovate, que eles são formados nessas coisas.

Ou, então, deixem lá o Milton Cruz, que, pelo menos, ele conhece a turma, o clube, e seja lá o que Deus quiser.

GE