megafone5
Bom dia senhor Tostão, tudo bem?
Peço desculpas por tomar o seu tempo, suas elucubrações e ponderações sobre o nosso futebol.
Como o senhor sabe, todo cidadão que vive nesta pátria e gosta de futebol, acredita que pode opinar, consertar ou mesmo mudar o rumo do time ou seleção que tanto gosta. Seria ingênuo ou algo do tipo pensar que sou diferente, pelo contrário, alego estar, diretamente, neste grupo.
Desta forma, peço ao senhor, se assim me permitir, discutir um pouco de futebol, levantando algumas ponderações.
Desde que considero racional, tento avaliar o futebol de forma mais específica, sem aberrações de torcida, comentários baseados em um treino ou jogo. Gosto, como é típico também da minha profissão de professor, ser um cientista e ter argumentos razoáveis para sustentar um argumento. Não seria uma teoria, apenas uma discussão.
Assim, a minha grande paixão é o SPFC, time grande, que já foi melhor estruturado e que atualmente passa por um processo Maquiavélico de estabelecimento de poder, arraigando métodos e meios que justificariam um fim obscuro. Acredito que não é a melhor coisa, afinal, desde sua eleição, que é defendida por muitos como aberta, na realidade, esconde-se na penumbra de julgamentos ou acertos para ocupar tal cargo. Se o senhor me permite, há influência direta no time, porém, gostaria de focar apenas no time de futebol.
Não conheço o Muricy, apenas acredito na sua idoneidade e responsabilidade. Sabemos que ele demonstra estar limitado fisicamente, o que é muito triste e preocupante. Ele deve se cuidar, não por conta do SPFC, mas pela família dele. O seu grande tutor sofreu muito com a saúde e tenho certeza que ele deve se lembrar do Telê e dos problemas, todos os dias.
Muricy aliás, se me permite a ousadia, sempre seguiu os passos de Telê, inclusive na montagem e formas de jogar. Ele adora o 4-2-3-1, porém, nunca admitiu isso. Todos acham que ele joga no 4-4-2 ou no 3-5-2, porém, o sistema anterior, é o mais usado. Muricy acredita nos volantes e ele sabe que a saída de bola e a sustentação da defesa e da passagem dos laterais, dependem deles. Mesmo jogando com 3 zagueiros, ele sempre utilizou um deles para cobrir a subida dos laterais. Neste ponto, não disse novidades, porém o SPFC atual não tem um destes volantes que ele considera ideal. Souza é um segundo volante, corre de um lado para outro, cobre laterais e afins, mas o primeiro volante, o Denílson, não faz isso corretamente, o que deixa o técnico e suas convicções, em brasas. Rodrigo Caio não quer jogar de volante, porém, é um erro ele querer ser um zagueiro puro, afinal, ele poderia treinar a transição e também a saída de bola, como Edmilson, que jogou no SPFC e também no Barcelona. Tiago Mendes poderia participar mais efetivamente do acerto dos volantes, ora como segundo, ora como primeiro, criando mais uma opção.
Para sustentar isso, basta ver os times de 2006, 2007 e 2008. Neste times, a partir da saída de um dos volantes, os problemas de organização começaram a surgir. Campeonatos perdidos, times desajustados, até o momento em que ele encontra a “formação ideal” dos volantes, o que torna o time efetivo. Assim, fracasso no primeiro semestre de 2006 com a saída do Mineiro, depois, sucesso com Hernanes no segundo semestre. Já em 2007, fracasso com saída de Josué, sucesso com Richy e em 2008; fracasso com saída de Hernanes e sucesso com Jean. O que acontece no primeiro semestre sempre gera fatídicos testes até acertar o time, deixando o SPFC frágil, aberto e com isso, derrotado em muitas partidas. Uma pena e que se repete no atual elenco. Veja o Santos que ele dirigiu até acertar as duplas de volantes, como o time teve
ascensão e o que aconteceu com este mesmo Santos, ao jogar com o Barcelona, sem o seu primeiro volante, o que o fez mudar o time, sem treinar direito e o resultado, todos sabem.
O SPFC atual se diz sem líderes e desajustado. Se o senhor me permite, um jogador, com o valor dos salários e todas as regalias que nosso jeito endêmico de jogar permite, eles não poderiam ter este comportamento. Deveriam ter vontade e gana para seguir em frente. Até ai, mais uma vez, não disse nada de novidade, porém, é absurdo ver jogadores que ao sair do país afirmam que agora eles “aprenderam a ter uma consciência tática e que cresceram muito neste sentido”. Com todo respeito, eles demonstram apenas que no Brasil, como são muitas vezes mimados, não respeitam o trabalho sério de alguns “professores” do futebol. Já lá fora, onde as regalias não são tão evidentes, o sujeito tem que trabalhar sério, senão, as coisas não vão pra frente. Neste sentido, eu defendo um curso superior para qualificar os técnicos, mas defendo fervorosamente, salários com metas atingidas, menos gente atrapalhando trabalho dos técnicos e um calendário decente, porém, com cobrança para jogadores. Não adianta dar o descanso ou afins, se as regalias os levam a ficarem mais acomodados e a errarem tantos conceitos básicos do futebol, como passe, chute e posicionamento. É uma vergonha que todos os times passam.
A ausência do Kaká é afirmada por muitos como motivo para a queda de rendimento no SPFC. No meu ponto de vista, e gostaria muito de saber a opinião do senhor, não é o Kaká, mas a grande distância entre as linhas e a preguiça ou falta de treinamento ou ambos dos jogadores se aproximarem e dar a possibilidade de passe. Não consigo ver futebol sério se o sujeito com a bola não tem no mínimo duas opções de passe, como num triangulo, o que levaria sempre a ter linhas próximas, por zonas e com deslocamentos eficientes de todo o time e principalmente dos laterais para cruzamentos e afins. Fica aqui uma observação: Nenhum lateral que joga no Brasil cruza corretamente, ele joga a bola na área, porém, um passe, não acontece. Engraçado isso, pois os dois laterais do Real Madrid agora serão brasileiros e vamos ser honestos, também não sabem cruzar direito. Neste sentido, Ganso sofre muito com três fatores: 1 – ele se acha um craque, mas pra mim, ele é comum, pois tem uma preguiça de jogar que dói e a presença do Kaká dava opção de passe para ele, na triangulação com mais alguém, daí o seu futebol melhorou. 2- Ele pode jogar nas costas dos volantes, de atacantes, de bispos, de papas, mas se ele, que é preguiçoso não contar com pelo menos duas opções de passe, ele não progride. 3- Ele não participa do jogo, não dá ritmo, o que mata qualquer amante de bom futebol. O senhor foi craque e neste caso, acredito que o Ganso e o treinamento tem suas parcelas de responsabilidade pelo baixo rendimento.
Kaká não pode ser visto como exemplo de dedicação, afinal, todos são profissionais, então, fazer o seu trabalho é mais que obrigação, o que nos leva a entender como jogadores e o sistema de trabalho é equivocado no Brasil e não vejo ninguém fundamentado em menos motivação, com vídeos de famílias, funcionários e afins e trabalho tático. É duro ver jogador que não conversa em campo para tentar resolver os problemas, como aconteceu na copa de 70 em jogos que tinham jogadores marcados e mesmo no campo, se organizavam para dar a opção para outros, melhorando o ritmo. É complicado na saída do intervalo jogador dar a entrevista afirmando que o jogo está difícil mas não sabe o que vai fazer e vai ouvir o que apenas o que o “professor” tem a dizer. Simples assim, você tira a responsabilidade pelo fracasso e se der certo, todos tem que colocá-lo, claro, é um jogo coletivo.
Muricy erra em não acertar as linhas de jogo do time, pois estão espaçadas e os jogadores estão se escondendo e não dão opção de passe. Centurion ao chegar nas laterais fica driblando (e logo vão dizer que ele só carrega a bola e não passa) pois não tem ninguém para passar a bola e construir jogadas. Não dá para esperar que Michel Bastos arme o time, pois não é a função dele.
Isso é do Ganso ou então do Boschilla, que merece mais espaço no time, pois ele agrega mais nas linhas, nas transições e também triangulações. O SPFC ganharia muito com saídas de bola mais rápidas.
Com relação ao ataque, é sabido que Luís Fabiano está deixando muito a desejar, porém, vejo também que há uma parcela de culpa no ritmo do time, afinal, LF é um matador, sem muita mobilidade. Não vejo problemas tão sérios, desde que volantes e todo o time contribua para isso. LF precisa se esforçar mais, porém, sem as triangulações, ele também não produz, afinal, ele nunca foi bom em dominar a bola, apenas em finalizar e se não receber a bola redonda, não vai contribuir. Assim, melhorando o time, ele deverá contribuir mais e melhorará, senão, banco pra ele.
Pato não é um jogador sério. Todos que gostam de futebol e independente do time de coração eu faço a mesma pergunta: “Se você tivesse uma empresa, você contrataria um profissional com o perfil do Pato, mesmo sabendo que ele tem potencial?” Todos afirmam que não, pois ele também se acha um craque e é muito mal orientado. É uma vergonha o seu perfil no campo, pois a sua participação é mínima. Contratar um jogador como ele é contratar um profissional péssimo, que não trabalha para o grupo, que não tem foco. Devemos parar de dizer que o Pato tem potencial, isso é péssimo pra ele, pois ele fica ainda mais mimado e os times deveriam expor mais o Pato, transferindo grandes responsabilidades pra ele pra ver até onde ele vai. Este mesmo raciocínio deveria ser aplicado ao Ganso.
Sei que o texto está longo e peço desculpas ao senhor. Estou escrevendo há alguns dias e a cada parágrafo, faço algumas meditações por conta não só do momento, mas também do contexto e neste sentido, faltou falar dos laterais, que são sofríveis, mas que não sabem o que fazem num time tão desorganizado e do Rogério Ceni.
É inegável a sua liderança e influência, porém, o grande líder sabe a hora de abrir espaço para os outros e neste sentido, ele está matando a posição de goleiro do time e as lideranças do time. A transição para a aposentadoria deveria ser feita no paulista, dando mais espaços aos goleiros reservas e mesmo em momentos de decisão, como faltas ou penalidades, dar espaços para outros. Ele não faz isso e ninguém cobra isso, o que é uma vergonha. RC não é maior que o SPFC e independente de erros e acertos dele e o seu lugar na história, ele não pode ter este tipo de comportamento, pelo contrário, deveriam cobrar dele uma postura diferente.
Por fim, gostaria de agradecer a oportunidade de diálogo e mesmo com tantas obviedades traduzidas nestas linhas, ouvir o senhor, caso seja possível, sobre o que pensa do SPFC.
Grande abraço e obrigado pela inspiração, mesmo com meus 36 anos, por tudo o que o senhor proporcionou, afinal, ouvir meu avô falar me inspirou muito a gostar cada dia mais de futebol.
Sem mais e com muito respeito;
Prof. Dr. José Roberto Tavares.