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Gostaria de ter escrito antes do primeiro jogo da Libertadores no Morumbi, infelizmente a falta de tempo me impediu. Parece mais fácil abordar este assunto depois do público fraco que tivemos nos dois jogos, mas a discussão ainda é valida: É correto cobrar tão caro pelo preço dos ingressos?

Ao tocar neste assunto, dois pontos são levantados imediatamente: os valores dos ingressos praticados por times rivais e o programa sócio torcedor que oferece um desconto considerável. Com o recente sucesso obtido por Palmeiras e Corinthians em seus respectivos estádios, considerando público e renda, o São Paulo foi indiretamente afetado, considerando uma pressão por resultados financeiros melhores e até o questionamento em relação à torcida: se outros times podem cobrar caro e ter bom público em jogos menores, por que não fazer o mesmo? O aumento de preço veio, pegando de surpresa o torcedor. Alguns apoiam alegando que quem ama o time paga, outros rejeitam alegando que os estádios rivais são mais atrativos por isso a procura intensiva. Não é preciso entrar no mérito se as arenas rivais são mais modernas, com localização melhor, ou ainda despertam a curiosidade. A questão me parece mais simples, um time que um dia foi pioneiro, hoje corre atrás dos rivais copiando suas atitudes sem pensar. Por exemplo, a alta no preço passa também pela tentativa desesperada de aumento de sócios torcedores, muito relacionada com o aumento expressivo dos sócios do Palmeiras. A atitude por esse ponto soa infantil e despreparada. Um time do tamanho do SP precisa de autoconsciência, ao efetuar qualquer ação deve ser levado em conta a viabilidade do clube em efetuá-la e seus impactos em relação com o torcedor. Além disso, não acho que “colocar uma faca no pescoço” seja a melhor alternativa para aumentar o número de sócios, o programa poderia ser mais divulgado e atrativo.

É necessário que o clube tenha noção da realidade em que o brasileiro vive. Um time com milhões de torcedores atinge pessoas de várias faixas sociais, desde milionários até pessoas mais pobres. Cobrar um preço abusivo é praticamente expulsar o torcedor de baixa renda que com muito esforço guarda algum dinheiro para o lazer. O programa de sócio não alivia tanto. Considerando a mensalidade mínima (30 reais) mais dois jogos por mês (80 reais) chegamos a um total de 110 reais. Para alguns, isso não é nada, mas para muitos, isso representa parte significante da renda familiar.

O São Paulo tem a seu favor um estádio pago e com capacidade de público alta, sobrando apenas o custo da manutenção. É possível receber todo mundo bem. Sou a favor de espaço para todos, sem preconceito com rico ou pobre. Se o torcedor pode e quer pagar mais caro por um setor melhor, ele deve ser apoiado. Sou a favor de camarotes, setores exclusivos, setores mais caros, desde que existam setores populares onde se possa pagar um preço mais em conta e levar a família toda sem prejudicar seu orçamento. Há espaço para distribuir tudo isso em um estádio com mais de 60 mil lugares.

Considerando, hipoteticamente, que TODOS os torcedores pudessem pagar tão caro, ainda não acho certo. A relação time-­torcedor não é uma relação comercial. É uma relação de identificação, amor e respeito. O torcedor não pode ser tratado como um consumidor comum. Quando time não joga nada, ou há jogos em baixo de chuva, ninguém vai ao PROCON reclamar e pedir reembolso do dinheiro. A principal função do torcedor no estádio é apoiar seu time e não consumir um espetáculo, ou ajudar financeiramente o clube. Para isso existem outras formas, como compra de produtos oficiais ou adesão ao programa sócio torcedor.

A diretoria precisa aprender a conhecer seu torcedor para fidelizá­-lo. Não serão mudanças drásticas ou abusivas que o farão a melhorar o relacionamento com o clube. Acredito que seja mais interessante um estádio com 50 mil pessoas pagando barato, porém gritando, apoiando e cantando. Ainda dá tempo de corrigir, para isso basta nossa diretoria descer do pedestal e começar a trabalhar pelo clube de verdade.

Att,

Yuri Lima (28 Anos, São Paulo, SP)