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Na medida do possível, boa tarde, meus iguais.

Os meses de fevereiro, março e abril são demasiadamente atribulados para aqueles que compartilham comigo do mesmo front, de modo que organização vale tanto quanto inspiração, talvez mais até. E o escriba tem sofrido horrores para ser assíduo. Escrever a conta gotas é uma modalidade com a qual só tive contato recentemente. E odiei.

Mas é o que se tem, e no decorrer da semana, fui esculpindo a narrativa de um de nossos jogos mais marcantes. A cada espaço, entre um cliente e outro, punha em prática o resgate do raciocínio da linha anterior e como se um gatilho para isso houvesse, apertava o botão da inspiração como quem espera a chegada de um elevador. As vezes ele vinha vazio e rapidamente. E eu “pulava nele”. Escrevia de forma voraz, até o próximo telefonema, o próximo cliente, o próximo problema… Ocorre que as vezes, o tal “elevador” vinha do trigésimo oitavo andar, demorava uma barbaridade, e quando as portas se abriam, estava apinhado de gente, me fazendo esperar pelo próximo. Era quando escriba desfalecia, clamando num deserto acentuado por tempestades de planos de contas, alíquotas, lançamentos, estornos, documentos ilegíveis ou incompreensíveis, clientes reclamando da crise… Um inferno! E o texto lá, esperando não morrer seco…

Assim seguiu a saga desta semana. Até minha primeira-dama receber chamado para treinamento em uma cidade distante da nossa, Bauru-SP. Ela ainda está lá, inclusive, enquanto eu tive que voltar ao front. Ontem, 25/03, por volta das 17:00, subimos em nossa diligência e seguimos em direção ao norte. E a coluna lá, no disco rígido sofrendo inanição… Apanhamos algo para comer no caminho e rumamos ao hotel. Já era quase hora do jogo. Ela, palmeirense, me disse: “corre porque tá quase na hora do jogo”. Eu só olhando de canto, ressabiado, com medo, admito.

Já no quarto do hotel, de frente para a TV, vendo os comentários iniciais antes do jogo, abri o texto e apertei novamente o botão da inspiração. Nesse ínterim, o jogo deu início.

Achei que daria para aproveitar esse tempo para fazer as duas coisas. Três minutos e às favas com a inspiração!

Dane-se o texto que estava aprontando!

Mais dois minutos e o sangue ferveu. Um recorde de ebulição, sou capaz de apostar.

Cada “gole” de ar que eu tomava fazia estrondo por dentro. Era como se eu estivesse sendo alvo de um bombardeio de Memphis Belle, a “Fortaleza Voadora”, na segunda grande guerra. Mas que diabos… De novo?

O mesmo “bando” em campo. B-A-N-D-O!

Pior. Foi bem pior que isso, na verdade. Eu é que não tive competência para descrever aqui até agora.

Minha primeira-dama vibrava com o time dela. Gritava… Normal. Tem que aproveitar, mesmo. Até porque tem sofrido demais nos últimos anos. Mas como já se passava das 22:00, o medo era tomar uma “carcada” da direção do hotel. Então eu desliguei o computador, enfiei a inspiração de volta no elevador e mandei subir. Seria um desperdício porque a raiva e a decepção suplantavam naquele momento qualquer outro tipo de sentimento. Me recolhi num canto e fiquei quietinho vendo aquilo tudo. Sofrendo as demoras do tempo que não passa, da página que não vira…

Não era você em campo, meu São Paulo, disso eu tenho certeza. Era o time deles. Deles! Não você, o nosso! Infelizmente, por motivos vários, diversos, e que todos sabemos, usavam teu escudo, algo que, como torcedor, te peço desculpas. Sim, desculpas. É, de novo. Só tenho pedido desculpas nos últimos tempos, não é? Peço desculpas por ter que ficar só pedindo desculpas (!!!), nesse círculo vicioso maldito que foi aos poucos, se instalando, se institucionalizando sobre teus domínios e à sua revelia.

Peço desculpas ao amigo leitor também. Porque não há inspiração ou abnegação suficientes para escrever sobre algo mais leve, agradável, alvissareiro quando a véspera acaba por molestar sistematicamente a minha quinta-feira (a de todos nós, na verdade).

Não vou de criticar este ou aquele. Tenho feito há algum tempo. Cansa! E para as minhas condições de saúde, talvez não seja sequer recomendável. Não deve ser para ninguém, imagino. Porque remoer dói em dobro, é a ardência que não cessa de uma ferida que não fecha. Que, parece, fazem tudo para não fechar… Isso causa doença! E aquilo que eu vi em campo, aquilo que eu tenho visto em campo ultimamente, não merece isso.

Imagino que aqueles que vão à frente da TV, que vão ao estádio (que chegam a pagar R$ 200,00 para irem ao estádio, como ontem), aqueles que são sócios-torcedores, que compram camisas, que sofrem por ti, São Paulo, esperam ver gente de carne, osso e sangue vestindo a camisa mais linda do mundo, e não a soberba, a moléstia, a apatia, o desmando, a falsa modéstia, a falta de humildade, o despreparo, a falta de capacidade, o desdém, o remanso, a “desinteligência” e a falta de brio preenchendo a tua farda, correndo  pra lá e para cá, fazendo as vias daquilo que deveria ser um time.

Perdoe-nos, São Paulo. Perdoem-me, meus caros amigos(as) leitores(as)