O São Paulo teve fibra e entrega no Morumbi. Um pouco menos de Paulo Henrique Ganso, que parece sofrer abstinência do exemplo de Kaká e perdeu intensidade em relação a 2014. Mesmo no bom início aberto à direita, onde rende mais.

Muricy Ramalho perdeu Pato aos 17 minutos do primeiro tempo por conta de um buraco no gramado ganhou a velocidade e o drible de Centurión, que jogou no ataque ao lado de Luís Fabiano mantendo o 4-4-2 inicial. Mesmo sistema do rival, atual campeão da Libertadores.

O San Lorenzo de Edgardo Bauza que, depois do susto com a cabeçada de Michel Bastos na trave a menos de um minuto, controlou bem o jogo e aproveitou as brechas entre as linhas adversárias: o ponteiro Mussis saía da direita para dentro e entrava às costas dos volantes Denílson e Souza. O mesmo fazia Blanco recuando para buscar e tentar servir Cauteruccio. Mas sem objetividade e contundência.

O tricolor paulista novamente encontrou dificuldades por não trabalhar movimentos coletivos para criar espaços. Muricy costuma dizer que o treinador precisa interferir mais quando a equipe não tem tanto talento. Foi assim no tricampeão brasileiro das variações táticas do 3-5-2 para o 4-4-2 com zagueiro virando lateral, das bolas paradas e jogadas aéreas.

No Fluminense campeão em 2010 havia Conca. No Santos que venceu a Libertadores, Neymar. Times que ofensivamente dependiam demais de seus craques. Muricy era o melhor na velha máxima brasileira: arrumar a defesa e deixar a intuição e a qualidade decidir na frente.

Só que o futebol mudou. Sem trabalho coletivo também no ataque é difícil criar espaços. Depois da surra do Barcelona em 2011, o treinador acreditou que a solução seria a posse de bola. Tocar para afastar o rival da própria área e fazer o talento desequilibrar.

Perfeito. Mas ainda não o suficiente para ser protagonista. Faltam jogadas coordenadas, aproximação para tabelas e ultrapassagens. Movimentos que desarticulam os sistemas defensivos adversários cada vez mais compactos. Não basta só pedir que os dois meias abertos troquem de lado.

O São Paulo em vários momentos é estático, como Ganso. Principalmente quando atua centralizado, na armação ou mesmo com uma espécie de volante – função que exerceu antes de ser substituído. Muricy quer que ele entre na área e faça gols. Falta “fome”. Ou uma jogada treinada para facilitar o camisa dez? Só no instinto não vai.

Ou até chega lá, mas no velho “Muricybol” das bolas levantadas na área. Mesmo com 61% de posse e 93% de acertos nos passes, foi no “abafa” final, já com os laterais Bruno e Carlinhos avançando ao mesmo tempo, Alan Kardec na área fazendo companhia a Luís Fabiano e o jovem Boschilia dando mais dinamismo no meio na vaga de Ganso, que o gol saiu.

De novo com a cabeça de Michel Bastos. No primeiro tempo, centro da direita, infiltração do lado oposto e bola na trave. No ataque derradeiro, assistência de Carlinhos pela esquerda, camisa sete à direita e explosão no Morumbi pelo triunfo fundamental, que abre vantagem sobre o concorrente direto à segunda vaga no grupo dominado pelo rival Corinthians. Também acalma o ambiente político conturbado no clube e transfere confiança a um elenco inconstante.

No embate entre o velho São Paulo de Muricy das jogadas aéreas e o novo que troca mais passes, venceu a persistência. Até a fé. Nem sempre basta. Desta vez Bastos salvou.

André Rocha