Banner - Coluna do Paulo Martins

Escrevo estas linhas logo após o apito final do último clássico. Teria mais tempo, porém resolvi não esperar. Se só faço porque é preciso, então dou voz ao momento, para sugar aquilo que há de novo e de positivo na indignação, no descontentamento e, porque não, no ódio. Sim, ódio. Porque ser bonzinho dá muito trabalho às vezes. E cansa. Preparem-se para o “texto-desabafo”, porque ele vai ser longo. Vômitos emocionais. Perdoem-me por isso. Ou desabafem comigo, lendo essas linhas… Ou ainda me xinguem. Vocês escolhem!

Mas são tantas obviedades, tantas constatações que o escriba chega a se questionar se, de fato, é isso mesmo. Negligências. Imperícias. Soberba, no pior dos sentidos. Por alguns momentos, sou tragado pela ideia de “dar crédito” a quem vive o dia-a-dia, no caso o treinador, diretores e os jogadores, e meio que contemporizar, usando a famosa frase “ah, eles vivenciam diariamente o que vemos somente nos jogos, portanto devem saber o que fazer”.

Não sabem! Perdoa-os, Senhor. Eles não sabem o que fazem no time que leva o nome de um dos seus. Aproveite Senhor, e perdoe-nos por tantos pensamentos ruins e destrutivos que andamos tendo aos finais dos jogos tidos como grandes do São Paulo. Vos suplico!

E é preciso ser direto e reto, como que olhando nos olhos. Tenho respeito por Muricy. Foi jogador do São Paulo e como treinador, sagrou-se Tricampeão Brasileiro. Mas em havendo um mínimo de vontade de ao menos vislumbrar novamente o topo, os olhos devem estar no presente e no futuro, não no passado. Os tempos mudaram. Tudo muda, na verdade. E o futebol, pelo dinamismo que tem, o faz galopantemente. Então, direto e reto, como prometi: Muricy, se realmente ama o São Paulo, vista as sandálias da humildade (algo que, sinceramente, você não faz há muito tempo) e, numa lição de hombridade, saia!

Você, Muricy, parou no tempo. Não evoluiu em suas convicções. Mas faz pior: sem humildade, não admite isso. Talvez até desdenhe de quem tente se atualizar fora do país, como Tite, campeão da Libertadores e do Mundo, no auge, fez. Se for para escrever em cima de fatos – e é! – que  seja: o São Paulo, hoje, joga um futebol antiquado. E tem sido presa fácil para pequenos, que dirá para os grandes, em grande parte porque você não é mais eficaz como outrora foi.

Percebo também uma certa falta “tesão” de sua parte para acertar as coisas. Ao menos é o que parece. Cumprir contrato (acordar cedo, ir ao CT, treinar etc…) qualquer um bem intencionado pode fazer. Do treinador de um time de ponta, espera-se mais. Pode ser por questões de saúde, que respeito e me solidarizo contigo, mas há limites. Se não está bem, “o correto é ser correto” (perdão pelo pleonasmo, mas aqui cabe!) e pedir para sair. Muricy, quando vejo suas entrevistas, noto sinais de fastio. Sabe fastio? Aquela sensação que se têm ao olhar um caldeirão de feijoada com a barriga estourando depois de sorver uns três pratos da iguaria…

Abandono a primeira pessoa, voltando à formalidade discricional dos fatos.

Não há como fechar os olhos para o fato de, desde a chegada de Muricy ao São Paulo, o time parece que não treina, pois carece de padrão definido de jogo; é um bando de jogadores sem conjunto que, salvo raras exceções com Kaká entre os titulares no ano passado, não consegue jogar como um time; não tem variações táticas; não possui jogadas ensaiadas; é extremamente refém das individualidades; é irritantemente “espaçado”, “descompactado” em campo, lento, moroso, morno; por fim, e não menos preocupante, é absurdamente frágil emocionalmente. Fosse o São Paulo um jogador de tênis, teria abandonado a carreira antes de virar profissional. Negligenciar o emocional no futebol é inadmissível. Pior que isso, só achar tal coisa é “nhenhenhém”.

“E o escape do rebaixamento em 2013?”, questionarão. Talvez tenha sido o “Canto do Cisne” de Muricy. De novo: não há como sobreviver do passado. Ou o resultado obtido no último ano é capaz de sustentar algum de nós em nossos empregos? É possível adormecer eternamente sobre os louros da glória obtidos no passado? Não! Se faz na construção do resultado do dia-a-dia.

E paremos de uma vez com todas dessa história de viver de crédito. “Ah, fulano tem crédito. Já salvou o time várias vezes”. “Ah, cicrano tem crédito, porque deu tantos títulos ao clube”. Chega disso. Quem vive de crédito, acumula dívidas. Uma hora, quebra. Serve para Rogério Ceni, também. Mas isso é assunto para outra coluna e prometo que em breve voltarei ao tema.

Voltemos ao treinador… Outra característica de Muricy que não mais se adequa ao futebol, com ressalvas para as exceções de praxe, é a sua maneira de proceder no dia-a-dia. Muricy não tem uma concepção de futebol. Pelo contrário, é adepto da famosa “Teoria do Encaixe”. Explico: ele não tem uma maneira de pensar o jogo. Não coloca o jogador para desempenhar uma função por convicção de que este é capaz praticar o seu conceito de futebol. O faz para testar se encaixa ali naquele espaço, no todo. Mais ou menos como crianças do maternal que ficam testando aqueles brinquedos de encaixar formas geométricas dentro de um recipiente, na esperança de colocar todas as peças dentro e resolver o “problema”. Seus times só rendem alguma coisa no segundo semestre. Coincidência? Não! Ora, testar leva tempo. Faz algum sentido termos utilizado no jogo do último domingo a nossa décima escalação diferente em dez partidas?

Hoje é preciso colocar em prática uma concepção de futebol. Como fazer isso? Reunir jogadores com determinadas características que casem com a visão que o treinador tem e que, acima de tudo, reúnam condições de compreendê-la a ponto de colocar em prática com naturalidade, dentro de campo. Então entram os treinamentos, os arranjos estratégicos, as jogadas ensaiadas, o posicionamento em determinadas situações de jogo, o desenvolvimento de inteligência tática no time todo, a sincronia, a leitura básica do jogo. Só como exemplo, Tite age assim. Fácil entender a razão do “nó tático” que temos levado com frequência. Enquanto um ainda está tentando se achar, o outro já sabe o que fazer. E facilmente impõe sua proposta de jogo, que nem precisa ser muito vistosa, bastando ser eficaz. Duas ou três chances criadas bastam.

Muricy ainda vê o futebol com Denílson como primeiro-volante, Souza como segundo-volante, Ganso como meia-armador etc., e não como deveria ser, tratando todos eles como homens de meio-campo que defendem, armam e, quando necessário, atacam. Modernidade, versatilidade em campo, ocupando espaços com sincronia e compactação… Parece presunção de minha parte querer ensinar o padre rezar a missa. Peço desculpas a quem vê assim, mas não é. É, sim, o necessário vômito emocional do óbvio, que de tão óbvio que é, cansa, estressa, faz mal, mata. Se não mata o corpo, mata o ímpeto, o ânimo, a fé.

Caso não seja a vontade do treinador deixar o posto, que sobre coragem, sabedoria, discernimento e ciência ao presidente, para que tome as rédeas da situação e, sem esperar oportunidade melhor ou bodes expiatórios, álibis ou qualquer coisa que o valha, faça o que tem de ser feito. Direto e reto, de novo: Aidar, demita o treinador! O faça agora! Tenha colhões! O vernáculo do senhor é muito melhor que o meu, mas se não entendeu, trata-se de ter bolas, manja? Esperar o “melhor momento” é pensar politicamente, e somente em si. E ao se colocar acima da vida do São Paulo, que ficará enquanto o senhor e todos nós passaremos, lhe fará indigno de ocupar este posto. Não tem quem colocar no lugar? Acho que tem. E sem essa de se esquivar utilizando a “Teoria de Tiririca”. Sério que a situação precisa piorar mais para mudar algo? Sério que prefere esperar para reagir ao invés de agir?

Aproveitando a sinceridade: dê um jeito de equacionar as contas, não atrase mais os salários e pague o “bicho” da Libertadores. Eu sei que é o fim do mundo um trabalhador que já ganha suficientemente bem, num único mês muitas vezes mais do que a esmagadora maioria da população reunirá em vida, exigir recompensa pelo que já lhe é pago, mas é assim que as coisas funcionam nesse meio.

Ah, não sabe como? Criatividade é sempre um bom caminho. Olhe ao seu redor… Dica: mire o Sócio-Torcedor, por exemplo, mas com seriedade e responsabilidade, não “pra inglês ver” ou para dizer que tem. Nada resiste ao trabalho bem feito e bem intencionado. O resto é “mimimi”. Administrar, como o senhor deve saber, é em boa parte administrar situações, momentos ruins, minimizá-los para que deles advenham os bons. É… Porque tocar o clube em época de vacas gordas é teta, não é?! E onde fica  desafio? Empenhe-se.

Exigindo muito, Paulo Martins? Sim. E o faço no meu direito, como Sócio-Torcedor que recolhe religiosamente a mensalidade sem obter vantagem alguma por isso, apenas para dar dinheiro ao clube. Moro longe da capital e nunca pude ir um jogo do São Paulo na minha vida! Mas acima de tudo, o faço pela paixão e amor que tenho por este clube de três cores.

Vejo que não estou só. Escrevo em consonância com os anseios dos milhões que sofrem as demoras e agruras de uma página que não quer virar.

Visão equivocada? Pode ser. Ninguém possui o monopólio da virtude, tampouco o da verdade e estes não fariam pouso sobre um mero escriba. Porém, me atenho aos fatos. E os fatos possuem uma característica peculiar: são insistentes, persistentes, teimosos. Vêm e vão na mesma toada e, de certo modo, sobretudo para quem insiste em reconstruir a realidade à sua maneira, constituem uma verdade inconveniente. E, como sabemos, a verdade, conveniente ou não, se impõe.

Depois de lhes importunar a fim de que lessem as exatamente um mil, quatrocentos e noventa e uma palavras, que compõem a coluna de hoje, me despeço.

Simples assim.

Direto e reto.