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Escrevo este texto logo após a derrota para o Corinthians (mais uma), dessa vez pelo Campeonato Paulista. Como já há tempos combinei comigo mesmo que não me estressaria com futebol, posso dizer que, apesar de frustrado, não sinto raiva neste momento. Talvez assim consiga fazer uma análise um tanto menos passional do que se passa pelos lados da Barra Funda.

Não se trata de uma análise tática. Somos 18 milhões de técnicos e eu seria apenas mais um. A questão que se coloca, e que já se estende há pelos menos alguns anos no SPFC, parece ir muito além do campo. Como explicar a freguesia? – sim, é freguesia! Como explicar a guerra política? Como esclarecer os bastidores? Como explicar o ambiente? Como desvendar a apatia, o descompromisso, a falta de padrão? Como, enfim, explicar para “as glórias do passado” o que atualmente se passa?

O São Paulo está, hoje, cercado de gente que se imagina acima das próprias cores que defende. O que seria possível dizer, por exemplo, de um homem que exige ética e coloca a namorada para receber comissões por negócios do SPFC? De um são-paulino que pleiteia profissionalismo e cobra publicamente seus pares por metas e resultados? De um cidadão que, falando em nome do São Paulo, cobra união dos clubes e começa seu mandato brigando com Palmeiras e atacando o Cruzeiro? Nada, senão que ele está acima do SPFC.

Da mesma forma, para nos mantermos breves, o que dizer de alguém que se acha tão imprescindível para o São Paulo (o certo seria dizer o contrário) que trama e executa um terceiro mandato à revelia do mínimo bom senso?  De um treinador que arranja uma desculpa qualquer a cada jogo que passa como se não se tratasse de um dois maiores clubes do planeta? De um auxiliar que se gaba eternamente pela “descoberta” de um jogador que já há muito declinou de seu auge e com isso “vai ficando”? De um goleiro que escolhe quando joga, quando renova, define quem manda, decreta quem sai? De um “catado” de jogadores que vai para casa depois de cada derrota, depois de cada vitória, como se não houvesse diferença? Do cumúlo que é ter tido um atleta se vangloriando na imprensa da maravilhosa vida que levava encostado em Cotia?  Não há nada a ser dito, a não ser que todos eles estão acima do SPFC.

O São Paulo vive, e não é de hoje, uma crise de identidade. Se eu seria o primeiro a apontar o mal que faz a mídia para o futebol brasileiro ao se “corintianizar”, olhemos, por um segundo e sem um traço de rivalidade, para o que significa dizer “Aqui é Corinthians”. Significa muito. Significa dizer – e entender – que o clube está acima de todos. Significa que cada um faz a sua parte – tem que fazer – porque a cobrança está presente, acima de tudo, no simples fato de cada um vestir aquela camisa. É a camisa do governo, sim; é um clube historicamente sujo, sim; é a escória, sim. Mas eles ganham (da gente, inclusive), com salário atrasado, sim; com um a menos (tirando o árbitro), sim; com o Mano ou com o Tite, sim. E no São Paulo?

No São Paulo o presidente cobra resultado do treinador que cobra reforços do presidente. O jogador cobra o apoio da torcida que cobra bom futebol para comparecer. O técnico cobra movimentação e velocidade do time e o time cobra sequencia, padrão tático, formação definida. O presidente cobra do ex-presidente que se afaste e o ex-presidente cobra do presidente que renuncie. Um jogador cobra do outro que apareça enquanto o outro cobra do um uma bola perfeitamente enfiada. Todo mundo cobra todo mundo, pelo que ninguém cobra ninguém. E ninguém cobra a si mesmo. O SPFC não cobra nada. Tem Cotia, tem Barra Funda, tem Morumbi, e a cobrança por tudo isso é zero. O São Paulo, que deveria ser um só, se desfaz em pequenos pedaços: é o São Paulo do presidente, do técnico, do goleiro, do jogador. Todos falam pelo São Paulo e o São Paulo não fala por si mesmo.

Não me interessa se aqui é São Paulo, Soberano ou Clube da Fé. Aqui não é trabalho, aqui é São Paulo Futebol Clube e essa é – ou deveria ser – a maior cobrança de todas. Deveria significar dizer que cada um tem como obrigação diária olhar para sua camisa e perceber que, se fazem parte do problema, da derrota, também fazem parte da solução, da vitória. Que o problema não são os outros, mas nós mesmos. Que o SPFC está acima de todos. Nesse emaranhado de birrinhas e não me toques quem perde é o São Paulo.

Se um rebaixamento que nos levaria ao fundo do poço está muito longe de acontecer, fato é que hoje o SPFC traça o caminho da mediocridade. Seja grande ou seja pequeno, São Paulo, mas não seja medíocre. Todos nós sabemos o que você é: volta, São Paulo!

Por: John JK