Prezados internautas, acompanho o blog há muito tempo, nem sei datar o período com exatidão, sempre tive vontade em participar deste espaço de uma maneira mais efetiva, confesso que não tenho o dom ou habilidade para escrever como muitos de nossos colegas. Recentemente surgiu uma oportunidade de escrever um megafone após entrar em contato com Zanqueta para tratar de alguns assuntos pessoais, quando fui convidado a escrever algo relacionado à Psicologia e a situação atual do SPFC (derrota para o time sem cor, a desdenha do técnico em relação ao lado emocional como fator decisivo para resultados).

Há pouco mais de dois anos terminei a faculdade de Psicologia, e mesmo tendo interesse na área esportiva não tive como seguir neste ramo (devido a falta de informações deste campo de atuação durante a graduação, bem como por conta das demandas do mercado de trabalho de minha região). Serei breve relatando alguns dados históricos e posteriormente tentarei deixar algumas contribuições.

A Psicologia enquanto profissão é recentemente nova no Brasil, sendo reconhecida como tal na década de 60, já a Psicologia do Esporte foi adotada como especialidade no ano de 2000 a partir da resolução 014/00 do Conselho Federal de Psicologia.

Estudos apontam a dificuldade do profissional da Psicologia para intervir e atuar no âmbito esportivo devido à escassez de informações sobre este campo de atuação durante a graduação, bem como pela gama de técnicas e abordagens utilizadas na Psicologia, portanto, não há uma “receita pronta” para a intervenção. Diante disto, comumente os profissionais atuam utilizando-se de técnicas da Psicologia Clínica, Social e Organizacional (trabalho em equipe, tipos de grupos, hierarquia, motivação, etc.). Vale destacar, que comumente outros profissionais também atuam com o “treinamento mental” de atletas (Profissionais de Educação Física, Administradores, entre outros)

Dentre algumas das contribuições da Psicologia para o esporte destacarei a busca pela otimização da performance, por meio da identificação, análise e adaptação de determinantes psíquicos que interferem no rendimento do atleta/equipe, como por exemplo:

– identificação de lideranças: Tanto positivas quanto negativas, visando à readequação do comportamento (relaciona-se com a motivação do grupo, boicotes, exclusão, coerção, etc.);

– Trabalho em grupo/equipe: um elenco como do SPFC é grande, problemas de relacionamento ocorrem como em qualquer outro lugar, mas o importante é promover o trabalho em equipe, deixando vaidades e problemas pessoais de lado visando o profissionalismo.

– Capacidade de resiliência do atleta: identificando aspectos a serem melhorados/desenvolvidos (postura após derrotas, eliminações, atitude ao começar jogo perdendo, expulsões).

– Recuperação/ readaptação de atletas: Em decorrência de lesões, doenças, acidentes, incidentes (Ex. caso Breno). Esta intervenção pode ser divida em dois momentos, o primeiro direcionado ao indivíduo em questão (um trabalho semelhante ao clínico), posteriormente um trabalho com todo o grupo para acolhida e apoio do colega. Vale destacar que neste momento, pode-se haver um atendimento mais especifico para cada atleta (não necessitando do segundo momento – trabalho com o grupo-) em caso de problemas extra clube que estejam interferindo em seu desempenho, desadequação emocional durante treinos, jogos e demais atividades (indisciplina, excesso de expulsões, e porque não o famoso “beicinho”, etc.).

– Trabalhos voltados a Motivação: o conceito de motivação em Psicologia apresenta variadas definições e maneiras de abordar o tema (como diversas situações nesta profissão devido às distintas maneiras de visão de homem e mundo), portanto não me atearei em definir o conceito. É relevante ressaltar que ao abordar aspectos relacionados motivação (a longo período) o profissional deve conhecer bem o grupo que trabalha, pois cada indivíduo é motivado de maneira diferente, um estimulo/objeto pode motivar um e outro não. Além deste trabalho mais duradouro é possível realizar breves palestras motivacionais, por exemplo, próximo a jogos decisivos (particularmente, pegaria os melhores momentos do SPFC na libertadores, momentos de raça e brio, montaria um DVD e colocaria o time para ver toda noite antes de dormir ou no lugar da hora do bobinho, rsrsrs).

Após apresentar algumas informações de maneira bem sucinta deixarei alguns questionamentos para debatermos:

– Com que frequência temos vencido jogos que saímos atrás no placar?

– Saiu o comentário de que basta receber em dia e conviver com a estrutura que já é o suficiente para motivar. Acredito que isso funcione para quem veio de uma estrutura inferior e que recebia salários atrasados, pois quem atua a um certo tempo no SPFC já internalizou tais características como algo comum. Portanto torcedor, concorda que a clube deve estudar outras maneiras de motivar o atleta?

– Preleção: Sabe-se que o Rogério, se não em todas, na maioria das vezes, antes de entrar em campo faz seu discurso. Não nego sua experiência e métodos utilizados, mas não passou da hora de ter um trabalho para desenvolver novas lideranças dentro da equipe?

– Motivação por pressão: Sabe-se que alguns empresários procuram motivar seus funcionários através da pressão para produção, no caso do SPFC, cobrar o Muricy e o elenco é valido? Porém, internamente e não na mídia?

– Cobrança: Se não se motiva, só se cobra e os resultados não aparecem, não há algo errado?

– Muricy: Qual a motivação dele? Mais alguém concorda que ele deveria ser o primeiro a passar por um trabalho motivacional?

– Cada pessoa tem sua motivação: Esperamos que a motivação de toda a equipe seja o título, mas se pensarmos em uma pirâmide, o título estaria no topo, até chegar lá os atletas devem suprir primeiro outras aspirações. Por exemplo, qualquer jogador que vem da base sonha em títulos, mas primeiro seu desejo é firmar-se na equipe principal. Os garotos (Boschillia, Auro, Evandro, etc.) merecem apenas a cobrança ou também devem ser motivados?

–  Porque talvez o time nunca renda contra o Corinthians (essa foi uma dica que o Zanqueta me deu para escrever): Confesso que não consigo apresentar uma explicação para essa colocação, mas vou apresentar minha visão em relação ao desconforto gerado pela derrota. Somos o clube brasileiro com mais títulos internacionais, sempre fomos exemplo de gestão, tirávamos muito sarro dos corintianos por não terem libertadores, e tal. E de repente, no primeiro jogo na história para a libertadores perdemos para eles, inclusive jogando mal “pra caramba” para não dizer outra coisa, isso causa angústia, como que pode? o SPFC com toda a bagagem que tem em Libertadores passar por essa? E você torcedor, porque o SPFC não rende o esperado diante do time sem cor?

 

Chegando ao final, pois já escrevi demais e talvez aproveite-se pouco. Antes de Muricy voltar ganhamos apenas um título em 2012. Ele voltou e o que ganhamos foram só eliminações, inclusive para times teoricamente inferiores. É inegável que há algo errado, se jogadores são contratados, a estrutura é boa, o salário sai em dia, há cobrança e não há efeito. Até quando isso vai persistir, como não pensar que seja necessário trabalhar aspectos emocionas da equipe?

Destaco que são apenas colocações com base em pequenas observações, já que para uma análise mais especifica seria necessário um conhecimento mais profundo dos métodos que vem sendo utilizados dentro da instituição. Sei que o clube possui contrato com uma Psicóloga, alguém conseguiria uma entrevista com ela para saber como funciona este departamento dentro do clube?

Por fim, ao observar o que vem acontecendo (falta de padrão, time perdido, falta de títulos, derrotas contra rivais) até quando você vai continuar motivado a acompanhar o clube ou o que te motiva para torcer para o Tricolor mais querido?

Leandro Alenski
Psicólogo