Após ter nome gritado pelos torcedores na goleada contra o Audax, técnico manda recado para direção sem citar nomes. “Temos que ser mais São Paulo”

A goleada do São Paulo por 4 a 0 sobre o Audax, neste sábado, no Morumbi, ficou em segundo plano na entrevista coletiva do técnico Muricy Ramalho. O comandante mostrou muito bom humor até certo ponto na conversa com os jornalistas, mas mudou completamente o tom quando foi questionado sobre os bastidores do Tricolor.

Sem citar nomes, o comandante mandou recado claro para a direção. Recentemente, o presidente Carlos Miguel Aidar o cobrou publicamente.

– Tem pessoas que querem fazer o torcedor pensar diferente. Mas estou há muitos anos aqui e conheço tudo. É difícil fazer a cabeça da torcida do São Paulo. Eles gostam de mim. As pessoas tentam, mas estou atento a tudo isso aí. Estou ligado. A gente tem de ser mais São Paulo. Eu incomodo mesmo. O que me interessa é o São Paulo em primeiro lugar. Se me quiser fora, tem de mandar embora. É simples – disparou.

Muricy aumentou ainda mais o tom quando foi perguntado sobre sua amizade com o ex-presidente Juvenal Juvêncio, desafeto declarado de Aidar.

– Eu falo com quem eu quiser. Isso não existe. Não agrado ninguém. Vou sair daqui agora e vou para o meio do mato (Ibiúna, cidade do interior paulista). Não vou jantar com ninguém. E ninguém me proíbe de nada. O negócio é trabalhar duro, sendo sério e honesto – disse Muricy.

– No Brasil está ruim para ser correto. Sofro com isso faz tempo e agora mais. Sei como é isso. Trabalhei muitos anos com o Juvenal e gosto dele. A vida é minha e falo com quem eu quiser. Se tiver insatisfeito, eu vou embora e tudo bem. Mas comigo, não. Sou sério para caramba e vou continuar sendo correto – emendou o treinador, visivelmente alterado.

Apesar do tom de irritação em dado momento da entrevista, Muricy afirmou que está mais calmo na beira do gramado por recomendações médicas. No início do ano, ele foi internado com uma diverticulite e não pôde viajar com o elenco para o Torneio de Manaus.

– O médico me recomendou ficar em Ibiúna, mas eu tenho contrato. Eu estou me controlando, porque o que eu tive foi muito sério. Estou fazendo muito exercício também, emagreci bastante. Isso dá um equilíbrio legal. Sem remédio, o que é bom. Vão me ver assim agora. Isso aqui é muita emoção, mas tenho que me acalmar um pouco – explicou.

Por fim, o comandante confirmou que o time usado diante do Audax será o mesmo para encarar o Danúbio, do Uruguai, quarta-feira, no Morumbi. A única mudança será a entrada de Ganso no lugar de Thiago Mendes.

– Não deve mudar muito, não. O Ganso deve jogar e o resto do time é o mesmo. Se ele estiver bem para quarta-feira é claro que joga – finalizou.

Confira os principais tópicos da entrevista coletiva de Muricy:

Comportamento do time

Tínhamos um desgaste físico grande, mas precisávamos usar os jogadores para recuperar na parte emocional. Não é fácil sair de um jogo daquele, atuando mal, e enfrentar um time chato. Conseguimos ir bem. A vida segue. A gente tem de jogar melhor. Essa partida (contra o Corinthians) foi muito ruim, a gente não fez o goleiro adversário trabalhar. Isso deixou a gente preocupado.

Sobre a participação da torcida

O mais legal é que a torcida já apoiou hoje. A torcida nos ajudou muito no ano passado. Claro que fica triste, mas voltou a nos ajudar. É sempre importante, o campeonato continua. É importante que eles nos empurrem bastante. A gente faz um apelo, aqui todo mundo é São Paulo e que na quarta eles nos ajudem, a gente vai precisar.

Ganso volta?

Se ele estiver bem para quarta-feira, é claro que joga. O resto do time é o mesmo (deste sábado).

Muricy está mais calmo?

Tenho de estar tranquilo, passando tranquilidade aos jogadores. Não é momento de ficar dando desculpa. A coisa pegando fogo, falando do juiz. Claro que foi um erro, mas se o juiz desse aquela falta, ficava 1 a 0. A gente não deu um chute no gol. Jogador é igual filho. Tem hora de dar porrada, e tem hora de dar beijo. Agora era a hora de dar beijo neles.

A participação dos jogadores

Quarta-feira a gente não jogou, e deixou eles jogarem. Não dá, hoje só jogar, só pensar, não dá. Hoje todo mundo tem que jogar com a bola, e marcar sem ela. Não interessa se é camisa 9, camisa 10.

As críticas após a derrota de quarta-feira

Tem de ser muito forte, futebol é assim, não se pode dar tanta importância para o técnico quando ganha, é o jogador quem faz a diferença, a comissão técnica tem só 25% nisso. Não se pode dar tanta importância ao técnico nem quando ganha, nem quando perde. A gente é muito amador aqui ainda, tem muita gente que não sabe nada dentro do futebol.

O time infiltra pouco na defesa

Queríamos jogadores de lado, indicamos alguns e não conseguimos trazer. A gente não tem isso. A gente tem boa posse de bola, mas não tem profundidade. Hoje tivemos porque o rival deu espaço. Quando eles saem, eles se abrem muito. A gente está com dificuldade, as características dos nossos jogadores não são de entrar lá (na defesa rival).

O que espera do Danúbio?

O Danúbio é um time chato para caramba. São rápidos pelo lado, com dois caras muito rápidos de lado. Vai ser pedreira, jogo difícil. Os jogadores viram o jogo (Danúbio x San Lorenzo), no dia seguinte discutimos. A gente vai encontrar uma pedreira, e precisamos de paciência e de profundidade.

Alexandre Pato

O Pato é um baita jogador, que se ele quiser sempre jogar no limite, ele vai render muito. Ele sabe que aqui é assim, a gente dá muita oportunidade. Ele tem entrado, e entrado bem. Por isso vai permanecer. Kardec e Luis Fabiano, juntos, têm dificuldade. O Pato serve para os dois. Ele é o ideal. Sempre que ele joga com um dos dois, saem muitos gols. Ele é um cara que se mexe muito, atrás dos volantes. Isso abre a defesa adversária um pouco.

Melhor posição para o Michel Bastos

Melhor o Michel Bastos de ponta sempre, porque ele tem o chute. Queria um time bastante ofensivo contra o Corinthians, por isso usamos ele de lado. Mas não fomos bem. Dentro de campo é que pega. Contra o Santos a gente foi muito mal pela esquerda, então mudei. Mas ele, pela frente, é melhor. É a posição dele.

Sobre sua saúde

O médico me recomendou ficar em Ibiúna, mas eu tenho contrato. Eu estou me controlando, porque o que eu tive foi muito sério. Estou fazendo muito exercício também, emagreci bastante. Isso te dá um equilíbrio legal. Sem remédio, o que é bom. Vão me ver assim agora. Isso aqui é muita emoção, mas tenho que me acalmar um pouco.

Goleada dá confiança para a Libertadores?

Ganhar é importante, te dá confiança. Pode ser que o nível não seja tão alto, os grandes estão preparados fisicamente. Nessa competição a gente tem muitos gols. A gente está indo bem, mas tem que ir bem na outra (Libertadores). Claro que jogamos um jogo só, a gente está muito exigente. Mas não podemos jogar tão pouco como na quarta-feira.

Pressão

Tem pessoas que querem fazer o torcedor pensar diferente. Mas estou há muitos anos aqui e conheço tudo. É difícil fazer a cabeça da torcida do São Paulo. Eles gostam de mim. As pessoas tentam, mas estou atento a tudo isso aí. Estou ligado. A gente tem de ser mais São Paulo. Eu incomodo mesmo. O que me interessa é o São Paulo em primeiro lugar. Se me quiser fora, tem de mandar embora. É simples.

Relação com Juvenal Juvêncio, desafeto de Carlos Miguel Aidar

Eu falo com quem eu quiser. Isso não existe. Não agrado ninguém. Vou sair daqui agora e vou para o meio do mato (Ibiúna, cidade do interior paulista). Não vou jantar com ninguém. E ninguém me proíbe de nada. O negócio é trabalhar duro, sendo sério e honesto. No Brasil está ruim para ser correto. Sofro com isso faz tempo e agora mais. Sei como é isso. Trabalhei muitos anos com o Juvenal e gosto dele. A vida é minha e falo com quem eu quiser. Se tiver insatisfeito, eu vou embora e tudo bem. Mas comigo, não. Sou sério para caramba e vou continuar sendo correto.

 

Fonte: globo.com