O gerente de futebol do São Paulo concedeu entrevista ao ótimo Estádio 97, da rádio Energia 97, de São Paulo, na última terça-feira. Gustavo Vieira de Oliveira esclareceu como funciona o monitoramento, negociação e prospecção de jogadores para o elenco de futebol do clube. Wender Peixoto transcreveu os principais trechos da entrevista para que o torcedor saiba como funciona a estrutura para contratação de jogadores.

Processo de contratação

“A minha participação é determinante no ambiente de contratações. É claro que não é fácil juntar informações técnicas, desejos do técnico, pretensões do presidente e vice-presidente, agregar tudo isto ou definir alguns nomes e mesmo assim executá-lo. É um processo difícil e desgastante que leva até três ou três meses e meio.”

“No processo de negociação, cada negociação é quase um livro que se escreve. Porque é praticamente como estar em um jogo de xadrez e lidar com pessoas, o agente, o atleta, o outro clube. Então tem que saber conduzir tudo isso. A hora que a notícia se torna pública, e é óbvio que um atleta pretendido pelo São Paulo passa a ser pretendido por qualquer clube do Brasil, com certeza, senão do mundo, isso aumenta a pressão, aumenta a ansiedade. Obviamente, o ambiente interno acaba sendo aumentado. O presidente e vice querem a definição logo, só que também eu estou comprometido com o aspecto financeiro. Tudo se precipita e eu ainda tenho que manter o controle da negociação, defender aquela negociação em relação a outros clubes que tentam se colocar em relação ao atleta, mantendo ainda o aspecto financeiro. Cada negociação, volto a dizer, é uma história. Negociação hoje em dia não é bastar ligar pro atleta, pro agente, pro clube e resolver em duas ou três horas. Hoje as negociações levam pelo menos, quando de forma muito eficiente, de 5 a 7 dias de forma muito intensa. E fora outras negociações que levam 40 ou 45 dias.”

Chapéu em contratações

“Eu vejo muito mais como uma repercussão de mídia, de imprensa até pra gerar notícia. Eu tenho certeza que os meus colegas também. E os ambientes decisórios dos clubes Corinthians, Palmeiras e Santos, que são nossos concorrentes estaduais, e outros também, não atuam preocupados com qual atleta está indo pros outros clubes. Posso falar com segurança em relação ao São Paulo. A gente quando fecha o planejamento lá em outubro ou novembro, a gente já traça nomes, traça o perfil e a gente ataca o mercado. E nossos parâmetros financeiros, técnicos, de perfil pessoal, são muito determinados. Isso já enxuga a possibilidade para poucos nomes. Eventualmente, ao longo do processo você pode conseguir alguns e não conseguir outros. Agora, a gente não toma decisões relacionado àquilo que outros clubes estão pretendendo ou não. Aliás, uma coisa que eu evito ao longo desse caminho é abrir o jornal de esportes pra saber o que estão falando. Aliás, pra quem está no ambiente de contratação, o vai e vem, as possibilidades, é até curioso porque muitas coisas são espalhadas que não têm qualquer fundamento e servem até como diversão. Mas no fundo a gente não faz e não toma inciativas olhando para o vizinho. Até porque, fazer isso é fazer sem convicção. A gente sempre faz com muita convicção.”

Análise científica de jogadores para definir contratações

“Nós do São Paulo temos desenvolvido muito esta área. Aliás, este ano será determinante nisso. Tem tradicionalmente no futebol brasileiro uma característica muito subjetiva, muito intuitiva de quem se contratar e qual o estilo de jogo. Trazer elementos científicos e dados objetivos, de estatísticas, de análise, de desempenho, etc, enriquece o processo de avaliação e decisão. Obviamente, que outros elementos pessoais também são necessários. O perfil pessoal do atleta, eventualmente conversar com ele. Existe toda uma série de informações que são determinantes para se chegar à conclusão se aquele jogador tem o perfil ou não. A partir dali você abre a negociação e você tem outra história a escrever. Mas de fato é extremamente importante.”

Teto salarial

“O São Paulo é muito responsável nisto. O ambiente interno me ajuda muito. Eu sempre costumo dizer que quando você sai de uma sala de contratação, você tem que olhar na cara de cada atleta do grupo. Então o aspecto financeiro é sim de fato algo extremamente relevante. É obvio que as informações são sigilosas, mas eles acabam dividindo algumas informações entre si. A remuneração tem que ser altamente justa, dentro dos juízos de valores entre eles. Aqueles que eles respeitam do ponto de vista técnico, de liderança, que tem um espaço maior em relação ao outros, que tem um espaço diferente, jovens que chegam. Então você tem que entender: no fundo quem fixa o salário é o próprio grupo e o juízo de entendimento entre eles em relação à responsabilidade e a importância que cada um tem no grupo. A gente só faz a gestão disso.”

Ciúme entre jogadores devido aos salários de cada um

“Isto é fato. É muito do fruto dos valores que eles carregam entre eles no ambiente de grupo. É o que digo: é óbvio que você tem atletas que merecem mais, atletas que ainda estão em desenvolvimento financeiro. Você tem que administrar no fundo o que eles entendem como justo e você acaba definindo. O São Paulo trabalha com muita responsabilidade, até porque a gente trabalha em sintonia com o departamento financeiro. Então de fato pra gente é um pouco mais controlado do que ouço dizer dos outros clubes.”

Processo de contratação do Centurión

“A gente tinha definição desde o início da necessidade de um atleta que jogasse pelos lados em preparação de jogadas, com características de drible e eventualmente velocidade. Então a gente definiu o perfil. Ao mapear o mercado, nós verificamos pouquíssimos atletas com essas características. E não só poucos atletas; poucos em disponibilidade. Então com aquele mapa, você vê clubes que podem permitir uma negociação ou atletas que estão em fim de contrato ou algum atleta de algum clube menor que você tem poder econômico e a expectativa de trazer. Então tinha poucos atletas e pouquíssimos em disponibilidade no mercado. O Dudu era um deles e nos colocamos para a contratação, e o Palmeiras acabou contratando no final. Então nesse mapeamento sugiram alguns nomes, alguns prioritários e outros que ficaram na reserva pra uma eventualidade de não dar certo. O Centurión é um nome desses. Um destaque, um jovem na Argentina, esteve na Itália. É um jogador de muito potencial e que vinha conquistando seu espaço. Então, diante do insucesso dos nomes prioritários por assim dizer, o nome dele surgiu forte. Nós mergulhamos, aprofundamos analise técnica, desempenho, estatística, perfil, se encaixa na equipe ou não encaixa. Fomos à presidência e diretoria financeira. Temos os recursos? Aí você arranja. Então no fundo é um processo como nos outros que começa com a analise técnica, detecção da oportunidade, confirmação da oportunidade, viabilidade financeira e aí a gente parte pro mercado e tenta contratar. Acabou dando certo e sendo sucesso.”

Sobre a importância da torcida na contratação do Centurión e redes sociais

“A gente tem um sistema de acompanhamento, até porque a opinião da torcida é importante no processo. Lidar com futebol é lidar com emoção, e descartar a torcida do processo não faz sentido algum. É obvio que o interesse, o apoio e a manifestação serviram como um apoio. Então concluímos: nós temos um elemento que não está nos dados estatísticos, técnicos, financeiros, mas é o que agrega. Então no fundo dá um empurrãozinho.”

Sobre a vida extracampo no processo de análise dos jogadores

“O São Paulo é um relógio para se trabalhar. Eu sempre frequento ambiente de outros clubes e o São Paulo, de fato, pra quem já teve a oportunidade de conhecer, é como um reloginho trabalhando. Desde a fisioterapia, segurança, administração e os profissionais ligados ao futebol. Então a gente tem que entender que o atleta vai se enquadrar no nosso ambiente e na nossa forma de trabalhar, que é obviamente dar liberdade à nossa vida privada, mas sem dúvida que ele precisa, ao estar no CT, ser responsável e fazer parte daquele reloginho. Porque é a nossa fórmula de sucesso. Então investigar o perfil, a sua característica, o quanto que se dá trabalho ou não fora de campo pra gente é importante. Você no final pode até tomar uma decisão de risco, mas atualmente a gente tem adotado uma postura muito rígida em relação a perfil. Não à toa, a gente hoje tem atletas absolutamente comprometidos com pouco índice de dar trabalho na gestão. Então isso é fruto de um ambiente favorável que os próprios atletas produzem com base nas suas características.”

Em tempo: o clube está implantando um moderno departamento de scout para monitoramento de jogadores, com programas de computador, diversas estatísticas, observação in loco, vídeos, etc. A ideia vem sendo tocada pelo gerente executivo Gustavo Oliveira, que espera iniciar sua utilização plena no meio deste ano.

Transcrição: Wender Peixoto