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O “tiki-taka” do Barcelona popularizou e a Espanha, campeã do mundo em 2010, consagrou. Falo do tão aclamado atualmente “futebol moderno”. Basicamente consiste no esquema 4-2-3-1, desenhado em linha. A linha de quatro atrás, dois volantes, um meia central e dois pontas, municiando o centroavante.

Há no dito esquema fatores tidos como “essenciais” por todos os adoradores do “futebol moderno”. O segundo volante desse esquema é o craque, camisa 10, condutor de bola, genial, o “regista” – sempre serão citados Pirlo, Schweinsteiger, Kross, Xabi Alonso e Xavi. Os pontas devem ser velozes e habilidosos, sempre entortando defesas. E o centroavante, bem, esse, some, pois será sempre falso, um jogador de meio até, mas que fará a função dentro do “futebol total”. Além disso, o meia central de tal esquema não é um “10” clássico, mas um meia-atacante, veloz e de chegada.

Tendo os exemplos citados como parâmetro, no Barcelona multicampeão de Guardiola, temos Xavi como regista, Villa e Pedro nas pontas, Messi no comando de ataque, Fábregas/Iniesta como meia-atacante. Na Espanha, com Xavi adiantado como meia atacante, Xabi Alonso fez o regista, Villa e Iniesta nas pontas, Torres no ataque (destoando).

“Importado” no Brasil, o esquema fez sucesso. O Corinthians ganhou Libertadores com ele, o São Paulo faturou Sul-Americana e o Santos acabou destroçado pelo Barcelona do “tiki-taka”. Daí para frente, todos que visavam a modernizar o futebol, visavam o futebol total, moderno, o 4-2-3-1. Mas, como todo esquema, ele ficou manjado. Mesmo assim, não é superado.

Onde isso afeta o São Paulo? Bom, temos hoje um jogador raro no futebol. Ganso, camisa “10” real, trata a bola como poucos, tem passe genial, qualidade muito acima da média. Mas Ganso sofre a cobrança pelo futebol total: de uns, como Tostão, ouve que deve recuar, jogar como “regista”, de segundo volante. De outros, ouve que deve avançar, entrar na área (Muricy fala todo jogo a mesma história), fazer talvez o que Messi fazia. De outros é cobrado para marcar lateral e ponta. Além disso, Ganso é colocado de meia central no 4-2-3-1.

Tudo isso reflete uma única coisa: toda a genialidade de Ganso é desperdiçada em nome do futebol total. Como não tem a velocidade de um ponta, é colocado no centro, onde some em meio a volantes “brucutus”. Quando recuado, seus passes não chegam no ataque. Quando deslocado, se desgasta marcando lateral.

Muricy teve em 2014 um lapso: o futebol total dele foi o 4-4-2 em quadrado ofensivo e em linhas defensivo. Ganso cresceu. Atuando mais numa faixa entre a ponta e o meio (pela direita), ganhou liberdade de movimentação, aprimorou os passes, armou o time e ainda fez seus gols (belos gols!). Não ficou preso na marcação e fez o que um camisa 10 genial faz: foi acima da média. E ainda ajudou na marcação e recomposição defensiva fechando o lado direito. Se tornou um jogador completo e decisivo.

Porém, mesmo tendo testado e visto que falhou, parece que o lapso de Muricy acabou: nos treinos, insiste no tal 4-2-3-1 (que já perdeu pro Flamengo nesse ano) e coloca de novo Ganso na faixa central. Com a possível vinda de Centurión, fala-se de uma linha com o argentino pela esquerda, Ganso no meio e Michel pela direita. Não imagino dar certo, pois o motor – Ganso – falharia.

Em resumo: pelo bem do camisa 10, pelo bem de Ganso e pelo bem do São Paulo, fim ao “futebol moderno”. “4-4-2” clássico já! Deixe Ganso jogar Muricy, não esconda-o entre os volantes adversários nem ouça aqueles que o querem longe da faixa onde pode ser decisivo. Ganso não é regista, não é meia-atacante, não é ponta ou centroavante. Ganso, meus caros, é gênio!

CELSO AMADEU