Ronnie Mancuzo - Sub

O atestado de pobreza do futebol brasileiro

“Futebol Brasileiro da Silva, brasileiro, casado, pai de 5 Copas do Mundo, declaro sob as penas da lei e para que produza seus jurídicos e legais efeitos, atendendo ao disposto na lei número 7.115 de 29/09/1983, especialmente para obter os benefícios da Gratuidade da Justiça, pelo que dispõe a Lei número 1.060 de 05/02/1950, que não disponho de rendimento suficiente para pagar as custas processuais sem prejuízo do sustento próprio e da minha família, visto que não possuo mais sequer vergonha na cara, sendo, desta forma, considerado miserável, na acepção jurídica do termo.

Por ser essa a expressão da verdade, firmo a presente.

Itaquera, 17 de janeiro de 2015.

Futebol Brasileiro da Silva.”

A supracitada declaração de ‘miseravença’ seguiu após a apresentação de documentação devidamente rubricada e assinada pelos senhores presidentes de clubes da Confederação Brasileira de Futebol, e do próprio presidente desta entidade ‘sem fins lucrativos’, mais os presidentes das Federações, pelos representantes das respectivas Torcidas Organizadas dos clubes, pelos empresários diversos que atuam na área futebolística e, por fim, pela imensa maioria da imprensa nacional.

Dentre as informações constantes nos autos, verificamos que o Sr. Futebol Brasileiro da Silva alega não conseguir arcar com as dívidas junto ao Estado, já que viu suas finanças chegarem às migalhas em virtude dos custos altíssimos necessários para manter mordomias vitais de todos os envolvidos em todos os tipos de contratos ligados ao futebol, sendo estes com relação a patrocínio, transferência de jogadores via empresários e outros grupos, direitos de transmissão televisiva, materiais esportivos, construção de estádios, favores a Organizadas, etc..

Também consta alegação de que algumas circunstâncias levaram o Sr. da Silva à situação paupérrima, como a bajulação inconsequente da mídia que transforma constantemente em estrelas objetos sem vida que trocam futuros possíveis de sucesso em clubes nacionais historicamente consagrados por altos valores financeiros em outros mercados, onde o futebol jogado é perto do pífio e, como consequência, veem minar todos os dons e qualidades técnicas alcançadas. Assim, é questionado qual seria a possibilidade de se montar um forte time canarinho.

Informações também presentes na documentação explanam sobre a narração dos jogos dos juniores transmitidos, em que os cronistas dão ares de extrema categoria para lances comuns e apontam como normais atitudes dos jovens imaturos que tentam ludibriar arbitragem (já abusivamente cheia de falhas, até mesmo no profissional) e demais presentes, utilizando da velha ‘catimba’, tão negativa para o bem de uma partida.

Alegando vícios infelizes, temos registrado que a política ultimamente interfere nos dias de hoje com muito mais veemência, no intuito de eliminar responsabilidades comuns a todo cidadão brasileiro, porém, por influências diversas, há nos projetos de leis federais anulação de pendências, e auxílios variados, tendo como base a utilização de verbas públicas para todos os tipos de empreendimentos. Portanto, a muleta sempre ali presente atiça maus hábitos e condena ainda mais qualquer oportunidade de melhorias no todo.

Como já comentado, o universo de infelicidades proporciona salários inimagináveis para a seriedade e, inevitavelmente, jogadores que no máximo apresentam um futebol mediano são objetos causadores de novelas leiloeiras, gerando no último capítulo o surgimento de absurdos dignos das comédias dantescas. Temperando tanta frustação futebolística, e alegando simples tratamentos cordiais e inofensivos, os mais diversos veículos de comunicação em todos os meios utilizam do termo ‘chapéu’ para os mais variados abusos da racionalidade humana.

Ainda que a humilhação da Copa do Mundo de 2014 tenha gerado comoção nacional, a hipocrisia da imprensa que se mostrou teatralmente preocupada com os rumos tomados pelo futebol é ratificada ao vermos que não há combate algum aos verdadeiros males que ocasionam tais disparidades. O autor da declaração de ‘miseravença’ se vê refém de tratados obscuros e indefeso perante tanta falta de objetividade nas matérias que, muitas vezes, são apresentadas de forma sensacionalista, porém ineficaz.

O quesito técnico também é cogitado com grande destaque, tendo em vista que senhores totalmente ultrapassados recebem honrarias de mestres e se afundam em suas respectivas mediocridades, não dando gás e renovação alguma ao esporte de paixão nacional, protegidos pelo rótulo de ‘especialistas’ e gozando do mais esplêndido berço do descanso mental.

Portanto, vejo totalmente compreensível a existência da declaração, já que, analisando bem, de certa forma encontramos um pobre, um paupérrimo, um miserável Futebol Brasileiro da Silva.

Ronnie Mancuzo – Sub