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Tijolos.

 

Juntando tijolos se sobe um muro.

Assim, temos um muro a cercar a evolução.

E as mãos que erguem a obra nem sempre estão limpas. Quase nunca estão. Porque parecem pensar somente no agora pelo agora, e evolução é agora com futuro.

O trabalho das mãos se baseia em benefícios particulares que nadam contra a corrente do bem comum. Trabalhos que visam resultados maiores, beneficiando uma muito maior quantidade de pessoas, exigem muito mais cautela, suor, inteligência, desempenho, capacidade, determinação, coerência, força, honra, etc..

Ou seja, cansa.

 

Tal imediatismo também é acompanhado pelo egoísmo. Pelos retornos ‘exclusivos’ para aqueles que assinam contratos, documentos e acordos políticos.

Um pouco mais distante da realidade está aquele que acredita que os senhores de terno e sorrisos largos e amarelados pensam e trabalham por aqueles que torcem pelo sucesso das entidades como um todo, abrangendo cada ser que por elas se vê representado.

Qualquer semelhança com os fatos da política nacional não é mera coincidência. Lá também não é comum encontrar mãos limpas. Seja pra qual ‘clube’ for que jogue o ‘atleta’.

Jogadores beijam inúmeros escudos de inúmeros clubes variados no decorrer da carreira, assim como políticos se filiam a inúmeros partidos diferentes, que ‘defendem’ ideologias distintas, às vezes totalmente contrárias àquelas ‘defendidas’ anteriormente pela ‘vossa excelência’.

A nada sadia união entre futebol e política não está somente descrita nessa analogia.

 

Queiramos ou não, o futebol é o esporte máximo do país, o foco de todas as demais circunstâncias que tratam do assunto. Mídia e Estado trabalham de forma diferenciada, separando e destacando os pormenores dos gramados daqueles das outras modalidades esportivas.

Não à toa, vemos constantemente representantes eleitos pelas urnas agindo como torcedores de respectivos times, agradando com delitos ‘legais’ (imorais) fanáticos abduzidos pelo alienígena jeitinho brasileiro.

Tão comum quanto um jogador da Seleção Brasileira de Futebol fazer propaganda de cigarros nos anos 70 é ver o atual/próximo Governo com uma Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ‘latifundiária’ e a favor de desmatamento, um Ministro da Educação dizendo que professor tem que trabalhar por amor, e não por dinheiro, um Ministro da Ciência e Tecnologia ser de partido comunista, um Ministro das Cidades presenteando clube de futebol com isenção de impostos municipais para a construção de um atentado aos cofres públicos, um Ministro dos Esportes ter no histórico uma expulsão de partido político após ser pego no aeroporto, portando ilegalmente dinheiro de certa entidade religiosa…

Tão normal quanto ver a imprensa brasileira se dizer grande defensora das categorias de base e do futuro do futebol, pregando que algo deve mudar drasticamente (desde que não atinja as transmissões televisivas) nas gestões dos clubes, para que não sejamos mais humilhados em eventos máximos da modalidade, é ver endeusamento midiático de perebas (geralmente ‘produtos’ de empresários parceiros e queridos pelo ‘jornalismo’ esportivo), superficialidade nas matérias sobre administrações danosas aos cofres dos clubes, falta de destaque devido nos infames projetos políticos que possibilitam criminosamente os clubes de refinanciarem suas pornográficas pendências junto ao Estado…

De certa forma, existe todo um sistema viciado que, como muro espesso e gigantesco, cerca a evolução. Erguido pelas mesmas mãos imundas que cavam poços petrolíferos (até mesmo no ‘pré-sal’ da imaginação) e propagandeiam como lindo o uso do petróleo, algemando assim o país a um combustível fóssil limitado e ignorando a necessidade vital de todo o planeta em buscar fontes limpas e renováveis de energia.

Vejo também como um pouco mais distantes da realidade esses mesmos senhores de mãos imundas, que acreditam serem possuidores de cérebros únicos, dotados da Grande Esperteza Universal de Gérson e, portanto, inatingíveis pelo destino trazido pelo tempo, que, como Nelson Gonçalves já dizia, nos faz todos iguais.

 

“E na parede monstruosa que cercava a evolução, aquele gigantesco espelho pendurado…”

 

Ronnie Mancuzo – Sub

 

Como foi citado um trecho seu no texto, então aqui está a bela música, na voz singular do mestre Nelson Gonçalves.

Cara a Cara.