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Caro Papai Noel Aidar,

Neste ano eu fui um bom menino. Trabalhei muito duro. “Segunda a sexta… Segunda a sexta”… Coloquei “os miudinho” aqui do escritório para marcar os flancos, a saída de documentos, a entrada de recursos, protocolos… Até porque os extravios de documentos e dinheiro punem, eu sei. Então me precavi. Quase não tive tempo para preparar o meu time, mas jogamos “quarta e domingo, quarta e domingo” assim mesmo. Só sei que “os cara tão no limite, meu”. Culpa do calendário, certamente, que teve muito pouco feriado em 2014. Mas quanto a isso, nada pode ser feito, diferentemente daquele imposto pela CBF, assunto que trataremos adiante, na minha lista de pedidos. Sei que fiz o que pude, com as armas que tive. E sofri, de um jeito e também do outro. Mas tive momentos bons, justiça seja feita. Inesquecíveis! Dos quais sou grato, claro.

Estou escrevendo isso, caro Papai Noel Aidar, para dizer que faço jus às prerrogativas de um torcedor que sofre e que, portanto, anseia por um pouco de alegria. Não é nada demais, basta que você faça o seu trabalho corretamente. E fazer corretamente, no mundo da bola, não quer dizer que seja infalível, que dê 100% de certeza de título. É claro que queremos ser campeões, mas há o imponderável, de modo que garantir vitórias é correr atrás do pote de ouro no fim do arco-íris.

Sabe, Papai Noel Aidar, o São Paulo é grande. Lógico que o Sr. deve saber. Mas não é grande somente pelos títulos que conquistou. É grande pela nobreza e caráter de seus dirigentes, pela fidalguia no trato com os adversários, pela grandeza de seus jogadores, pelo alto valor de seu capital intelectual disponível na seara de pessoas que o cercam; pela solidez e grandiosidade de seu patrimônio, pela austeridade de seu modus operandi administrativo, pela vanguarda de suas ações, por sua vocação vencedora e, por fim, pelo paradoxo da imensidão do que é intangível — neste caso me refiro à fé!

O que escrevo aqui é História, caro Papai Noel Aidar. Não é ranço, tampouco mania de grandeza ou soberba. De modo que, nessa cartinha, gostaria que prestasse bastante atenção no parágrafo acima. Sem falsa modéstia – apenas convicção de torcedor – creio que nosso diferencial começa fora de campo e só então se impõe dentro das quatro linhas.

E então, como fui um bom menino, vou descambar a pedir uma porção de coisas. Se prepare, porque eu vou lhe usar!

Considerando que o primeiro requisito para exercer o cargo o Sr. já tenha, afinal me passa a impressão de ser um sujeito nobre, de caráter, peço fidalguia no trato com os adversários. A rivalidade faz parte do jogo, mas olhar tudo por este viés é como caminhar sobre o fio da navalha. Basta um escorregão e tudo estará em risco. É preciso ter respeito pela história dos outros e em muitos momentos isso faltou, não é? Acho que tens consciência disto. Então vieram polêmicas, palavras duras e desrespeitosas de todas as partes… Plantada estava a desunião, que nos impede a todos, de lutar por um “mundo do futebol” melhor. Porque enquanto vocês, diretores de clubes, se engalfinham, gente lá em cima se regozija. O plano deles segue firme: dividem para vencer e vocês, divididos, brigam para perder, quando deveria ser “estarem juntos para ganhar”. Como torcedor, não acho legal essa acidez no trato com o adversário. Tenho a impressão de que muita gente, a maioria, não gosta. Então, por gentileza, seja GENTIL com os adversários. Seja fidalgo.

Isso, certamente trará benefícios para mudar aquilo que parece imutável: o futebol brasileiro. Sendo fidalgo, angaria-se apoio. Nesse caso, dos clubes. As federações são os clubes. Se os clubes, em bloco, pressionarem, então terão nas mãos as rédeas de seus destinos. Daí será “um pulo” para bater à porta de quem deveria cuidar do futebol brasileiro, solicitando mudanças. Um ponta-pé inicial formidável seria a mudança no calendário. Mas, simplifique. Já tem gente lutando por isso. Converse com o pessoal do Bom Senso Futebol Clube. Sei que há arestas entre eles e os clubes. Sua tarefa então, caro Papai Noel Aidar, é dissuadi-los a deixar de lado essas diferenças e dar importância para o que é maior, algo que melhore para todos, para que encampem, juntos, a briga por um calendário mais justo. É o começo de tudo. Competência não lhe falta. Por isso, reitero: seja fidalgo!

Papai Noel Aidar, sou sabedor da realidade do futebol brasileiro. O momento econômico é ruim e por uma série de circunstâncias que nada têm a ver com a bola, mas isso é outro assunto. Contudo, peço um esforço a mais para com o time. Quero dizer: seja criterioso para contratar. Se está sem inspiração, seja humilde e volte seus olhos para os caminhos trilhados por Marcelo Portugal Gouveia. Viu só? Nem precisa ir muito longe nos livros históricos. A palavra de ordem é potencial. Dentro de campo, óbvio. Precisamos de um zagueiro que seja, além de craque na posição, um líder. Um bom primeiro volante também não faria mal. E um bom meia de ligação para dividir o fardo com Ganso seria o ideal. Sei que é difícil, mas não custa pedir. Lembro que nos idos de 1987, minha família vivia um aperto de dar dó e mesmo assim o seu colega Noel, o genérico, me mandou uma Monark preta lindona. Então não custa tentar. E olhar com carinho para as categorias de base, para que garimpem aquele que realmente sabe jogar mais bola, não necessariamente o mais alto, o mais forte…

Espero, caro Papai Noel Aidar, que o Sr. faça no clube as reformas que acha necessário, por convicção de que será melhor para o São Paulo. Que utilize critérios técnicos e não políticos para preencher cargos. Como falei, historicamente, há muita gente boa gravitando em torno do Morumbi. Basta olhar com cuidado, tendo como premissa o bem da entidade como um todo, mas fundamentalmente o futebol, que é o que de fato mantém o clube em pé.

Quero também, caro Papai Noel Aidar, um cuidado especial com o patrimônio do clube, sobretudo a parte financeira. O São Paulo sempre foi um clube sólido, mesmo nos tempos de maior aperto financeiro, como na construção do gigante sacrossanto de concreto. Pelo que temos visto nos últimos tempos, as dívidas têm aumentado exponencialmente. Preocupa, também, alguns adiantamentos de receitas feitos. Não vou mencionar este ou aquele presidente. Falo da instituição. E tenho consciência que administrar muitas vezes é aplacar o frio com cobertor pequeno, hora os pés ficam de fora, hora a cabeça… Mas pense na continuidade, não só na sua gestão. Até porque, essa coisa de pensar só no hoje tem deixado “terra arrasada” por onde passa. Ser criativo, achar soluções, ver oportunidade onde a maioria vê problemas. Ser vanguarda, em suma.

Ah, sim… Continuando: vocação vencedora. Sabe o que é isso? É entrar em cada disputa para vencer. É se preparar para o topo e manter-se nele. É não ter como objetivo somente “participar”. É correr no Brasileirão para ganhar, não só pela Libertadores. É disputar a Libertadores querendo com todas as forças rasgar o “mapa mundi” com os pés para cravar a bandeira de três cores naquele solo que bem conhecemos, coisa que, invictos, fizemos três vezes. Até porque, não se ganha o mundo em casa.

Por fim, a imensidão do intangível: a fé! Não subestime a fé que gira em torno deste clube. É ela que sustenta aquele concreto que abarca todos os nossos sonhos. Portanto, use-a a seu favor! Não seja cético: creia! Faça o seu trabalho com discrição, seja assertivo, tome todas as precauções ao planejar e decida sempre em favor do clube, execute com precisão. A colheita só ocorre depois do plantio, mas não somente por isso. Durante todo o processo o homem do campo teve fé de que choveria no lugar certo, na hora certa e na quantidade certa, compreende? E então tenha fé naquilo que fez e fará. Acredite! Por mais intangível que pareça, a fé é o componente que liga, uns nos outros, todos os outros fatores que produzem o sucesso. Nós, torcedores, sempre acreditamos. Sempre acreditaremos!

E, se não for pedir demais, avise o seu colega genérico que também quero aquilo tudo de sempre: alegria, saúde e paz. Para mim e para o mundo todo! E que ele não se esqueça da minha Caloi!

Um forte abraço, caro Papai Noel Aidar.