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Parte 1 – O CASO RHODOLFO
Nota: este texto, embora calcado em aspectos da realidade, tem caráter meramente imaginativo. Não dá para entrar na cabeça dos personagens e saber se as coisas ocorreram exatamente assim, até mesmo porque todo texto carrega em grande parte o ponto de vista de quem o escreveu. Portanto, se o leitor não concorda com o que vai abaixo, sinta-se à vontade para opinar ou criticar da forma que achar melhor.
Você é jogador profissional. Zagueiro. Fez boa campanha num clube importante do Paraná.
Surge a oportunidade de dar um salto à frente na carreira. Proposta para jogar no São Paulo Futebol Clube. Clube de ponta no cenário brasileiro, respeitadíssimo internacionalmente.
Você, assim como 99,9% dos que seguem essa profissão, não é mais um torcedor deste ou daquele clube. É atleta profissional e tem uma carreira. E uma oportunidade que é para poucos.
Você aporta no Morumbi e já começa a mostrar serviço. Zagueiro titular. Vira referência na zaga. Marca até alguns gols, embora não seja sua obrigação.
Fase complicada, time em reconstrução. Você carrega o piano sozinho lá atrás. Mas dá conta do recado. Nesse meio tempo, em algum momento lá atrás, surge uma proposta do exterior – Juventus/ITA (?) – mas você não é liberado. Tudo bem. Você está num clube de ponta e ainda tem muito pela frente. Perde-se grana agora, mas pode ganhar bem mais lá na frente.
As coisas começam a melhorar quando chega, vindo do Goiás, mais um zagueiro promissor para dividir a responsabilidade. O time melhora. Faz um ótimo segundo turno do Brasileirão 2012, fatura a Copa Sulamericana.
Entre altos e baixos, a zaga deixa de ser um problema.
Entra o ano de 2014. Você já pensa até mesmo em Seleção Brasileira. Basta manter a boa fase.
Então chega Lúcio. Zagueiro com experiência internacional e de seleção. Bagagem para ser um dos líderes do elenco. Titular.
Você passa a disputar posição com Rafael Tolói para jogar ao lado de Lúcio. A zaga volta a ficar inconstante. Você começa a perambular pelo time reserva durante o Paulista. O time desanda na Libertadores. Outros setores da equipe passam a ter problemas após a saída do craque Lucas no final do ano passado.
Você acaba entrando de vez em quando e começa a ser questionado. Rafael Tolói também. Menos Lúcio.
Até Edson Silva e Paulo Miranda passam a ser vistos como solução por alguns momentos. Nada contra eles, profissionais corretos. Mas um degrau abaixo da zaga que terminou o ano anterior. Desmantelaram um setor do time que vinha bem.
E então Lúcio chuta o balde. Aquele que veio para ser líder começa a criar problemas. Expulsão infantil em jogo importante, reclamações públicas à comissão técnica. Hora de voltar sua dupla do ano passado com Tolói?
Que nada! Lúcio é caro. Ganha muito. Tem que jogar. Desestímulo total.
O time todo vai mal e você já começa a pensar se não seria melhor ter saído quando teve oportunidade. Você entrou o ano pensando em seleção e agora passa a ser apenas mais um. Nas poucas vezes em que entra na equipe não consegue mais jogar bem. Falta treino. Falta entrosamento. Falta sequência. Mexeram no setor que funcionava bem até o ano passado.
Surgem outros clubes interessados no seu futebol: Grêmio, Flamengo, Internacional… Clubes onde você fatalmente seria titular. As propostas vazam para a imprensa.
A torcida do seu atual clube não gosta. Alguns o criticam. Uns poucos te chamam de mercenário. Onde já se viu? Deixar o São Paulo na mão numa hora dessas… Pior ainda: alguns já o dão como moeda de troca e ficam especulando quem pode vir para o São Paulo numa negociação com outro clube.
Mas a culpa do mau momento técnico do time não é sua. Menos ainda o momento politicamente conturbado.
É momento de vislumbrar melhores horizontes. Do jeito que está não pode ficar.
E aqueles que o criticam? Que batam palmas para o Lúcio.
Afinal, você não é sãopaulino. É atleta profissional.
Em breve: outros personagens. Alguém arrisca algum?
ANDRÉ LUIZ VIEIRA DOS SANTOS
(HEAVY-SP)