Da expectativa à dura realidade…

(Por trás das teclas, os bastidores da análise)

Dia de decisão. Recopa. Típica partida em que a vitória, por diversos motivos, valia mais que o título. Princípio (ou meio?) de crise, adversário quase em estado de graça.

Como sempre faço, parti para o meu “ritual”. Liguei o laptop, preparei a formatação do texto, e para terminar a “aclimatação”, li e reli no mínimo umas três vezes a sempre excelente preleção do LEANDRO. Depois, como sempre faço, deixei a imaginação ir até o vestiário número 1 do Morumbi, como se quisesse enviar “good vibrations”, sondar a alma dos jogadores e projetar nela os anseios de uma nação que sofre e que naquele momento solitário na sala de casa se resumia a mim.

Aliás, solidão, solidão, não. Porque o velho Jack, tal qual Sancho Pança à Dom Quixote, é meu fiel escudeiro, que além de servir para aplacar o frio das noites do “Condado dos Guarás”, faz baixar um pouco a ansiedade pelo tricolor mais lindo do mundo.

E “fui para o jogo”.

Alguns minutos de jogo bastaram: um clube que não tem um time!  O SÃO PAULO corria acéfalo. Desanimado. Desestruturado. Abalado. Sem fome. Na cancha, cedia posse de bola, o espaço, o jogo… Fora dela, cedia o protagonismo na história.

O SÃO PAULO que via sucumbia ao segundo tempo, às próprias pernas, muito antes do embate com o adversário. Enquanto os adversários voavam em campo, o SÃO PAULO trotava e o que se via dentro das quatro linhas era terra arrasada.  Em síntese: era um senhor baile, aquele que estávamos tomando.

Tendo o velho Jack como assistente técnico, eu tentava processar tudo aquilo. Tal qual um avestruz, engolia as frustrações, as provocações, o mau momento, o escárnio da imprensa que quase não conseguia disfarçar a satisfação. Dava para perceber que relatavam a situação com um sorriso nos lábios. Ia deglutindo tudo, uma coisa de cada vez…

Escribas documentam a história. Relatam. Às vezes, opinam. E era o que eu deveria estar fazendo, pois. Mas era a catarse tomando o lugar do instinto do ofício. E de todas as palavras que me vinham à minha mente, 90% era xingamento de baixo-calão e o resto era lamento. Fui tomado de assalto por um vácuo intelectual severo, não conseguia articular uma frase consistente sequer.

Recorri ao velho Jack. E entre um trago e outro (não foram muitos, claro!), ainda possesso, fui chamado à razão, pelo ofício, pelo dever e pelo prazer de escrever algo minimamente aceitável à comunidade de amigos e amigas tricolores do BLOG DO SÃO PAULO que tanto prezo e que não merece o meu destempero, o meu despreparo. E então a serenidade foi voltando, “coloquei a coisa no chão” e voltei às teclas. Foi quando a análise saiu, talvez ainda um pouco contaminada, mas saiu. Todavia, foi um parto. Do tipo a fórceps!

Foi uma noite terrível! Poderia cair no lugar comum de dizer que era daquelas “para esquecer”. No entanto sinto que a verdade nua e crua deva ir aos telhados: é daquelas noites para se lembrar para sempre. Maluco? Não. Explico: guardadas as devidas e monumentais proporções, deve ser algo como o “Memorial da Paz” em Hiroshima, um prédio que preserva em cada detalhe as consequências do primeiro bombardeio atômico da História. Para que olhemos para ela nos lembremos de nossos flagelos, que lições só se aproveitam se forem lembradas e para que nunca mais repitamos os mesmos erros. Humildade, serenidade e trabalho.

De tudo, resta inabalável a fé por dias melhores. Que certamente virão. Mas, como o escriba vem dizendo há algum tempo: ninguém passa impunemente pelo continuísmo!

FORÇA, SÃO PAULO!

PAULO MARTINS

A partir de hoje, 19/07/2013, Paulo Martins, além de ser o responsável pelas análises pós jogos, fará parte de nosso quadro de colunistas do Blog do São Paulo. Seus textos irão ao ar todas as sextas ao meio dia. Hoje, excepcionalmente, sua coluna foi publicada as 18:00.
Seja bem vindo, amigo!