O São Paulo FC continua doente. É coisa de alma e o time de futebol não foge disso.
Há problemas pontuais, que não são poucos, começando no gol e terminando na “ponta-esquerda”, passando pelo banco e pelas áreas de suporte (médica, fisioterapia, etc).
Pouco ou nada adiantará resolver uma coisa aqui, outra ali.
Mudaremos quando Juvenal Juvêncio deixar o poder. Nem acredito em mudanças profundas, pois ele vai deixar o poder, não será tirado dele. Ou seja, composições acontecerão e o mais provável é o clube continuar fechado, um feudo dividido entre meia dúzia de famílias.
Houve um tempo em que isso foi bom.
Houve um tempo em que o São Paulo cresceu e evoluiu.
Esse tempo passou.
Curiosamente, se retomarmos a história do clube fundado em 1935, veremos que havia alma. Havia diversidade. Não havia “chefe” ou “soberano” ou ditador.
Enquanto crescia patrimonialmente e também no futebol, o clube apequenou-se na sua condução. Enquanto o mundo evoluía para a democracia, o São Paulo FC fechou-se mais e mais.
Hoje, é impossível que uma candidatura jovem e de fora do sistema consiga vencer.
Porque o clube é controlado por meia dúzia de “cardeais” e 160 conselheiros vitalícios.
Vitalícios…
Alguém já parou para pensar no que significam?
Não são eleitos para tal, são agraciados com o “vitalício” pelo presidente.
Ao conversar com o Marco Aurélio Cunha para o post do OCE senti, com extrema clareza, como é fechado nosso clube.

Acredito piamente na democracia, seja para o país, seja para o clube de futebol. Cidadãos e torcedores sustentam um e outro. Mesmo o são-paulino mais pobre e desprovido financeiramente, é um contribuinte do São Paulo, pelo simples fato de fazer parte da torcida e dar audiência aos jogos. Está fazendo sua parte, da mesma forma que o mais pobre cidadão brasileiro também ajuda a sustentar o Estado e sua máquina brutal, gigantesca e ineficiente, ao pagar toneladas de impostos no arroz e feijão, no leite da criança, no remédio da outra.
Quem sustenta tem direito de participar e decidir.
Via voto.
Com regras, é óbvio, mas de forma aberta e acessível.
Estamos em 2013, século XXI a pleno vapor. Os melhores e mais eficientes países do mundo são democracias plenas, exceção feita à China, um caso à parte por características absolutamente únicas.
No mundo da bola os exemplos são muitos.
O Barcelona é um dos melhores, se não o melhor.
Há outros.
No Brasil está começando. Ainda é cedo para dizer que x ou y se dará bem, mas há clubes que estão seguindo o caminho da democracia e da renovação.

Deixamos de ser referência.
Deixamos de ser protagonista.
Somos mais um, às vezes, fugazmente, disputando as pontas de cima, geralmente longe das pontas de baixo. A continuar assim não faremos mais diferença real, seremos, de fato, apenas mais um.

O São Paulo precisa de renovação profunda.
Precisa voltar a ter uma alma quente, inflamada, orgulhosa.
Aos 58 anos de idade, são-paulino consciente desde os três ou quatro anos, tenho receio do futuro.

Por Emerson Gonçalves